Jornal de Angola,
editorial
A situação política
nos Grandes Lagos sofreu uma evolução positiva graças à conjugação de esforços
dos líderes regionais. Todos os Governos dos países onde se registam conflitos
armados aceitaram integrar as forças rebeldes e abriram-lhes as portas de todos
os sectores, sobretudo na economia. Mas os conflitos persistem, situação que
levou o Presidente José Eduardo dos Santos a denunciar as “forças negativas” na
região.
Os esforços
consentidos até agora deram resultados surpreendentes e as populações das áreas
onde se registavam os conflitos conseguiram respirar um pouco os ares da
liberdade. As organizações rebeldes depuseram as armas e os seus combatentes
estão agora ao serviço da paz, sem a qual não existe democracia nem
desenvolvimento. Os que apesar de todas as facilidades e dos braços abertos
preferiram ficar agarrados às armas, são as forças negativas que a comunidade
internacional tem de combater sem vacilar. Nada desculpa a opção pela guerra,
quando os governos dos Estados dos Grandes Lagos oferecem a paz e a integração
plena. As forças negativas têm uma agenda escondida que o mundo tem de
denunciar. Chegou a hora de África saber quem arma e financia grupos rebeldes
cuja bandeira é a guerra pela guerra, os assassinatos de populações indefesas e
violações de mulheres e meninas. A ONU tem a obrigação e o sagrado dever de
revelar quem são os países, os líderes políticos ou as forças económicas que
armam os rebeldes e lhes dão guarida.
África não pode ser o corpo inerte onde os abutres debicam as suas opíparas
rações de riqueza e se servem das forças negativas para abrir caminho à força
das armas. Nenhum país africano vende armas para grupos rebeldes. As minas
terrestres, as munições, os canhões, são mercadorias fabricadas muito longe, em
países cujos líderes fazem discursos comovedores em defesa dos direitos
humanos.
A República Democrática do Congo não tem indústria de armamento. O Ruanda, o
Uganda ou o Burundi também não têm fábricas de material bélico. Se há
movimentações de forças negativas nestes países é porque alguém lhes vende as
armas a troco de facilidades para o saque dos recursos naturais. Todos sabemos
qual foi o papel dos “diamantes de sangue” na guerra de agressão contra Angola.
Não custa nada seguir essa pista até encontrar o fim da linha, onde estão os
que estimulam grupos de rebeldes a persistirem na guerra e na destruição,
apesar de lhes serem estendidas todas as mãos para que se integrem socialmente
e colaborem no progresso dos seus países. Os problemas nos Grandes Lagos estão
definidos e foram isolados para que cada um tivesse o devido tratamento e a
solução adequada. Foi um trabalho paciente e generoso de países da região que
conduziu a este resultado. A ONU conhece melhor do que ninguém todos os passos
que foram dados até aqui. Por isso também sabe qual é a origem das forças
negativas e ao serviço de que estratégia política estão a disparar contra a paz
e a concórdia.
Se é possível impor sanções a governos que não respeitam a Carta das Nações
Unidas ou os princípios democráticos e particularmente os direitos humanos,
também tem de ser viável isolar as forças negativas e colocá-las perante um
dilema: ou se integram na paz e na democracia ou são exterminadas. O mundo é
testemunha dos bombardeamentos da OTAN na Jugoslávia, a destruição do regime de
Saddam Hussein após a invasão do Iraque, a mobilização de numerosas forças no
Afeganistão, a destruição da Líbia e o assassinato do Presidente Khadaffi, para
apenas citar os casos mais mediáticos. Não é difícil e muito menos impossível
exterminar as forças negativas que nos Grandes Lagos e noutros pontos de África
avisam os regimes democráticos africanos sobre aquilo com que podem contar, se
não renderem vassalagem aos que estão por trás destas organizações
especializadas na morte e na destruição e lhes garantem meios bélicos e
financeiros para destruírem os seus próprios países. A presidência angolana da
Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos ao organizar a cimeira de
Luanda mostrou mais uma vez que África apenas pode contar com as suas forças
quando se trata de resolver conflitos continentais ou regionais. O Presidente
José Eduardo dos Santos, ao definir as forças negativas, apontou para uma solução
africana no isolamento e neutralização dessas forças. Foi assim que ele
resolveu a guerra em Angola, após algumas décadas de paciente espera pela
solução que a comunidade internacional tinha a obrigação de dar e foi
protelando, até daí lavar as suas mãos.
Hoje como ontem não faz sentido esperar que a comunidade internacional decida
isolar e neutralizar as forças negativas em África. Os conflitos regionais têm
de ser resolvidos pelos líderes africanos e pelas instituições continentais.
Nada mais há esperar de quem suspende a democracia e ignora a vontade popular,
quando estão em causa os seus interesses políticos, económicos e financeiros.
Afinal o mundo está cheio de forças negativas. E Angola é cada vez mais o
último reduto da liberdade e da democracia.
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