sexta-feira, 28 de março de 2014

Angola – Grandes Lagos: AS FORÇAS NEGATIVAS



Jornal de Angola, editorial

A situação política nos Grandes Lagos sofreu uma evolução positiva graças à conjugação de esforços dos líderes regionais. Todos os Governos dos países onde se registam conflitos armados aceitaram integrar as forças rebeldes e abriram-lhes as portas de todos os sectores, sobretudo na economia. Mas os conflitos persistem, situação que levou o Presidente José Eduardo dos Santos a denunciar as “forças negativas” na região.

Os esforços consentidos até agora deram resultados surpreendentes e as populações das áreas onde se registavam os conflitos conseguiram respirar um pouco os ares da liberdade. As organizações rebeldes depuseram as armas e os seus combatentes estão agora ao serviço da paz, sem a qual não existe democracia nem desenvolvimento. Os que apesar de todas as facilidades e dos braços abertos preferiram ficar agarrados às armas, são as forças negativas que a comunidade internacional tem de combater sem vacilar. Nada desculpa a opção pela guerra, quando os governos dos Estados dos Grandes Lagos oferecem a paz e a integração plena. As forças negativas têm uma agenda escondida que o mundo tem de denunciar. Chegou a hora de África saber quem arma e financia grupos rebeldes cuja bandeira é a guerra pela guerra, os assassinatos de populações indefesas e violações de mulheres e meninas. A ONU tem a obrigação e o sagrado dever de revelar quem são os países, os líderes políticos ou as forças económicas que armam os rebeldes e lhes dão guarida. 

África não pode ser o corpo inerte onde os abutres debicam as suas opíparas rações de riqueza e se servem das forças negativas para abrir caminho à força das armas. Nenhum país africano vende armas para grupos rebeldes. As minas terrestres, as munições, os canhões, são mercadorias fabricadas muito longe, em países cujos líderes fazem discursos comovedores em defesa dos direitos humanos. 

A República Democrática do Congo não tem indústria de armamento. O Ruanda, o Uganda ou o Burundi também não têm fábricas de material bélico. Se há movimentações de forças negativas nestes países é porque alguém lhes vende as armas a troco de facilidades para o saque dos recursos naturais. Todos sabemos qual foi o papel dos “diamantes de sangue” na guerra de agressão contra Angola. Não custa nada seguir essa pista até encontrar o fim da linha, onde estão os que estimulam grupos de rebeldes a persistirem na guerra e na destruição, apesar de lhes serem estendidas todas as mãos para que se integrem socialmente e colaborem no progresso dos seus países. Os problemas nos Grandes Lagos estão definidos e foram isolados para que cada um tivesse o devido tratamento e a solução adequada. Foi um trabalho paciente e generoso de países da região que conduziu a este resultado. A ONU conhece melhor do que ninguém todos os passos que foram dados até aqui. Por isso também sabe qual é a origem das forças negativas e ao serviço de que estratégia política estão a disparar contra a paz e a concórdia. 

Se é possível impor sanções a governos que não respeitam a Carta das Nações Unidas ou os princípios democráticos e particularmente os direitos humanos, também tem de ser viável isolar as forças negativas e colocá-las perante um dilema: ou se integram na paz e na democracia ou são exterminadas. O mundo é testemunha dos bombardeamentos da OTAN na Jugoslávia, a destruição do regime de Saddam Hussein após a invasão do Iraque, a mobilização de numerosas forças no Afeganistão, a destruição da Líbia e o assassinato do Presidente Khadaffi, para apenas citar os casos mais mediáticos. Não é difícil e muito menos impossível exterminar as forças negativas que nos Grandes Lagos e noutros pontos de África avisam os regimes democráticos africanos sobre aquilo com que podem contar, se não renderem vassalagem aos que estão por trás destas organizações especializadas na morte e na destruição e lhes garantem meios bélicos e financeiros para destruírem os seus próprios países. A presidência angolana da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos ao organizar a cimeira de Luanda mostrou mais uma vez que África apenas pode contar com as suas forças quando se trata de resolver conflitos continentais ou regionais. O Presidente José Eduardo dos Santos, ao definir as forças negativas, apontou para uma solução africana no isolamento e neutralização dessas forças. Foi assim que ele resolveu a guerra em Angola, após algumas décadas de paciente espera pela solução que a comunidade internacional tinha a obrigação de dar e foi protelando, até daí lavar as suas mãos.

Hoje como ontem não faz sentido esperar que a comunidade internacional decida isolar e neutralizar as forças negativas em África. Os conflitos regionais têm de ser resolvidos pelos líderes africanos e pelas instituições continentais. Nada mais há esperar de quem suspende a democracia e ignora a vontade popular, quando estão em causa os seus interesses políticos, económicos e financeiros. Afinal o mundo está cheio de forças negativas. E Angola é cada vez mais o último reduto da liberdade e da democracia.

Sem comentários:

Mais lidas da semana