terça-feira, 27 de maio de 2025

Portugal/UE | O POPULISMO NÃO DEFENDE OS MAIS FRACOS, MAS SIM AS ELITES

Sofia Santos*, opinião | Diário de Notícias

O populismo que temos observado e que se consubstanciou nas últimas eleições em Portugal, é descrito por vários autores com um fenómeno político complexo que se tem vindo a manifestar em diferentes contextos e países.

O populismo surge, geralmente, em períodos de crise, quando grandes segmentos da população se sentem frustrados e desiludidos com as instituições existentes. Está frequentemente associado ao descontentamento popular face ao sistema político e económico vigente, como: desigualdade económica, corrupção, a falta de representação dos interesses da população em geral, demora na resposta pública aos problemas que afetam os mais desfavorecidos, etc. Embora o populismo se apresente como um movimento que defende os “pobres” ou os “oprimidos”, muitas vezes acaba por beneficiar os mais ricos e perpetuar a desigualdade. É isto que é necessário também comunicar-se á população em geral, para que esta não seja enganada.

A refletir:

A crescente disparidade entre ricos e pobres cria um terreno fértil para a retórica populista, que promete uma redistribuição de riqueza. No entanto, na prática, muitos líderes populistas acabam por implementar políticas que favorecem os interesses das elites económicas. Veja-se as políticas atuais dos EUA;

A perceção de corrupção no governo e nas instituições públicas pode gerar desconfiança nas elites políticas. Ao apresentar-se como um movimento anti-establishment, o populismo frequentemente atrai aqueles que se sentem traídos por líderes tradicionais. No entanto, é comum que o movimento populista também tenha pessoas que tenham estado envolvidas em esquemas menos éticos e transparentes;

As elites políticas muitas vezes não conseguem conectar-se com as preocupações quotidianas da população, o que cria um vácuo que os populistas podem explorar. A retórica populista concentra-se muitas vezes em “falar a verdade” e “ouvir o povo”, “usar expressões simples” contrastando com os termos complexos das elites.

Embora o populismo se apresente como um movimento que defende os interesses dos pobres, vários autores e estudos sugerem que, na verdade, acaba por apoiar os mais ricos, vejamos alguns exemplos:

Muitas vezes, as políticas implementadas por líderes populistas, embora inicialmente pareçam beneficiar os mais pobres, acabam por criar um ambiente mais favorável para os ricos. Por exemplo, cortes de impostos para empresas e indivíduos com elevados rendimentos, que são justificados como uma forma de estimular a economia, podem resultar numa maior concentração de riqueza;

Os líderes populistas tendem em manipular a narrativa para manter o apoio popular, enquanto continuam a implementar políticas que beneficiam as elites. Isso cria uma desconexão entre as promessas de redistribuição e a realidade da política económica.

Embora o populismo se apresente como um movimento do povo, pode, na verdade, falhar em representar os interesses das classes mais baixas. Ao focar-se na retórica populista, pode desviar-se a atenção dos verdadeiros problemas estruturais que afetam os mais pobres e excluídos

A crescente ascensão do populismo em diversas partes do mundo evidencia uma crise nas estruturas tradicionais de governação e na confiança nas instituições democráticas. Para enfrentar este fenómeno, é necessário estabelecer um novo contrato social que promova uma maior inclusão e participação cívica. Esse contrato deve assentar em princípios de justiça social, equidade e transparência, visando conciliar as reivindicações legítimas da população com as necessidades de um sistema político mais robusto e eficaz. O novo contrato social não só pode mitigar os riscos do populismo, como também pode fortalecer a democracia, tornando-a mais resiliente e alinhada com os interesses de toda a sociedade.

Este novo contrato social deverá assentar num sistema capitalista que privilegie a comunidade em vez de se concentrar exclusivamente na maximização do lucro para os acionistas. Este novo paradigma económico deve enfatizar a responsabilidade social das empresas, promovendo práticas que devolvam valor à sociedade e incentivem o bem-estar coletivo. Ao integrarem princípios de sustentabilidade e equidade nas suas operações, as empresas podem contribuir para o fortalecimento do tecido social, criando um ambiente mais justo e equilibrado.

Assim, o novo contrato social não apenas redefine as expectativas da cidadania em relação ao papel das instituições, mas também orienta a transformação do capitalismo numa força que serve o bem comum, garantindo que o progresso económico beneficie todos os membros da sociedade.

*PhD, CEO da Systemic

Sem comentários:

Mais lidas da semana