O MDM nomeará este
fim-de-semana o candidato à Presidência de Moçambique. A previsível escolha
levanta a questão sobre a existência ou não de democracia interna neste e nos
outros partidos moçambicanos.
O Conselho Nacional
do MDM reúne-se este fim-de-semana na província de Manica, no centro de
Moçambique. Na agenda constam vários pontos: "Vamos avaliar o nosso
desempenho nas eleições autárquicas. Vamos também discutir as linhas de força
do nosso manifesto eleitoral e decidir a nossa estratégia eleitoral para este
ano", diz Lutero Simango, chefe da bancada parlamentar da segunda maior
força da oposição moçambicana.
Para além disso, o
MDM escolherá também o candidato do partido para a corrida ao lugar que ficará
vago no palácio presidencial da Ponta Vermelha.
Até ao momento,
dois nomes foram avançados publicamente, o já conhecido Daviz Simango,
presidente do MDM, e esta semana, Paulino Candrinho.
O surgimento do
nome de Candrinho, natural da província da Zambézia, como aspirante a candidato
do MDM à Presidência levantou algumas dúvidas não só sobre a autenticidade da
sua intenção, mas também sobre a capacidade de abertura deste partido a outras
figuras que possam liderar.
O analista político
moçambicano Egídio Vaz questiona a alternativa interna na oposição: "O MDM encenou
uma coisa patética em Quelimane: Quando alguém apareceu numa sala a dizer que
também queria concorrer contra Daviz Simango e foi publicamente enxovalhado e
televisionado", recorda Vaz. "Isso também demonstra que esses
partidos ainda não estão preparados ou minimamente organizados para poderem
construir alternativas dentro dos próprios movimentos políticos. Não temos
nesses partidos políticos esses elementos de 'alternativa interna'".
Falta de democracia
dentro dos partidos
Mas qual é o nível
de democracia no seio dos partidos moçambicanos? Formalmente, existem estatutos
que, na sua maioria, são baseados na livre escolha. E o MDM não foge à regra,
segundo explicações do chefe da bancada parlamentar deste partido.
No MDM, as
candidaturas são apoiadas por membros internos, sendo posteriormente submetidas
ao Conselho Nacional do partido. Só depois os membros escolhem o seu candidato.
Mas antes os aspirantes fazem a sua campanha de recolha de apoio dentro do
partido. Com base nisso, pode-se afirmar que há democracia no MDM?
"Há
democracia, na medida em que respeitamos as liberdades individuais, respeitamos
o direito à liberdade de expressão", responde Lutero Simango. "Mas
obviamente trata-se uma democracia interna de acordo com o espírito dos
estatutos. Temos os estatutos do partido e é através desses estatutos que se
guiam todos os procedimentos."
Dhlakama: sempre
candidato
Já a RENAMO, o
maior partido da oposição, por exemplo, desde o início do multipartidarismo
sempre teve como candidato o líder do partido, Afonso Dhlakama, embora outros
membros o tenham tentado.
De acordo com o seu
porta-voz, António Muchanga, a RENAMO aguarda que a crise político-militar
termine para que seja escolhido oficialmente o seu candidato. Embora Muchanga
diga que os membros são livres de se candidatarem, paradoxalmente o partido já
afirmou que tenciona apresentar Dhlakama como o seu candidato.
"Queremos
propô-lo a ele, por causa do trabalho que ele fez. A nível do secretariado e
outros quadros contactados há correspondência de que o presidente Afonso
Dhlakama tem que se recandidatar", diz o porta-voz do líder da RENAMO.
"Ele não se vai auto-candidatar. Será candidatado pelo secretariado do
partido."
FRELIMO está
"mais avançada"
Por causa deste
tipo de atuação é que Egídio Vaz defende que a liderança destes partidos tem
uma natureza carismática, cuja formação gravita em torno do seu líder, pois
eles são os inspiradores. Vaz fala mesmo em candidaturas automáticas e considera
que os partidos moçambicanos têm muito que andar no capítulo da democracia
interna. "Em termos de democratização interna, ainda estão numa fase
embrionária", comenta.
Para o analista
moçambicano, a FRELIMO está bastante mais avançada neste aspeto, "apesar
de se reconhecer que, em alguns momentos, estes processos são condicionados em
função da vontade do chefe."
Deutsche Welle – Autoria:
Nádia Issufo – Edição: Guilherme Correia da Silva / António Cascais
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