terça-feira, 25 de março de 2014

PORTUGAL SACA DINHEIRO À EUROPA PARA COOPERAÇÃO COM OS PALOP



Folha 8 – 15 março 2014

Portugal pode candidatar projectos de cooperação nos países africanos lusófonos e em Timor-Leste a verbas da União Europeia, que po­dem ascender a mil milhões de euros, diz o secretário de Estado dos Negócios Es­trangeiros e da Cooperação português. Cooperação? Ou apenas projectos mera­mente comerciais?

Em entrevista à agência Lusa a propósito do novo conceito estratégico da cooperação portuguesa, Luís Campos Ferreira refe­riu que o orçamento comu­nitário 2014-2020 dispõe de mil milhões de euros de verbas que podem bene­ficiar os tradicionais par­ceiros da cooperação por­tuguesa, que são os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Ti­mor-Leste.

“Podemos ter aqui uma nova fonte de financiamen­to, quanto mais competen­tes formos no sentido de a captar. Criar projectos in­teressantes de forma a que possam ser financiados” por estas verbas, disse o go­vernante.

“Temos de ter a arte e a sabedoria de trazer esse dinheiro para Portugal, de forma a que seja Portugal a liderar esses projectos”, acrescentou.

Questionado sobre a forma como a crise afectou a do­tação de verbas para a coo­peração, Campos Ferreira referiu que as transferên­cias para a sociedade civil se mantiveram ao mesmo nível.

No entanto, admitiu que Portugal está longe de cumprir as metas definidas, como o objectivo de dotar 0,7 por cento do Produto Nacional Bruto (PNB) para ajuda ao desenvolvimento até 2015 pedido pelas Na­ções Unidas.

“É uma meta ambiciosa, mas é uma verba que não é entendida como um gas­to, como uma doação, mas sim como um investimento do qual vai haver um retor­no”, considerou, defenden­do que “a cooperação hoje deve ser entendida como uma partilha de benefícios”.

O novo conceito estratégi­co, previsto para o período 2014-2020, foi apresentado aos deputados portugueses da Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros e numa reunião da Comissão Interministerial para a Coo­peração (CIC), seguindo-se uma nova sessão no Fórum da Cooperação para o De­senvolvimento.

As novas apostas, segun­do o secretário de Estado, serão o desenvolvimento rural, a energia ou o sector privado: “Vamos apostar na capacidade de estes países criarem os seus próprios tecidos de empreendedo­rismo. São o garante da criação de riqueza, do pro­gresso social”.

Outra das prioridades, a par da educação e da saúde, acrescentou, é a capacita­ção da administração públi­ca dos países beneficiários.

“A seguir à língua, que é o grande registo que nos une, criar edifícios jurídi­cos e políticos semelhantes aproxima os países e as so­ciedades, nomeadamente em áreas como os direitos humanos ou a criar atmos­feras em que os negócios depois correm melhor”, considerou Campos Fer­reira, passando por cima da entrada da Guiné Equato­rial na CPLP.

De acordo com o secretário de Estado, este novo con­ceito de cooperação res­ponde às novas realidades internacional e nacional e dos próprios países que be­neficiam da ajuda.
“Hoje em dia, países como Angola, Timor-Leste ou Moçambique podem parti­lhar eles próprios o finan­ciamento da cooperação. Há uma partilha do modelo de financiamento, que não havia há dez anos”, exem­plificou.

Questionado sobre críti­cas da Organizações Não­-governamentais para o Desenvolvimento de que pode haver um aproveita­mento económico ao abrir a cooperação às parcerias com privados, nomeada­mente nos países ricos em recursos naturais, Campos Ferreira referiu que a coo­peração “não deve ser um compartimento estanque, deve ter ligações à diploma­cia económica, à convivên­cia entre os povos”.

O secretário de Estado con­siderou, no entanto, que “os interesses são transpa­rentes porque são assumi­dos”.

“Hoje há uma visão na Eu­ropa de uma cooperação de desenvolvimento, que visa o progresso social, o desenvolvimento eco­nómico”, até porque “são esses os novos objectivos da cooperação, mas não alteram os conceitos mais clássicos de cooperação”, referiu.

Sobre a concorrência de outros países como a Chi­na ou o Japão na coopera­ção no espaço lusófono, o secretário de Estado re­feriu que os PALOP e Ti­mor-Leste despertam hoje as atenções devido às suas riquezas naturais pelo que Portugal, apesar das vanta­gens históricas, terá de ser “mais criativo”.

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