segunda-feira, 19 de maio de 2014

SEPARADOS PELOS VALORES




Cavaco Silva na China*

CORREIA MARQUES – Hoje Macau, opinião

Há pessoas muito altas
De nome ilustrado e sério,
Porque o oiro tapa as faltas
Da moral e do critério.

António Aleixo, poeta popular português (1899-1949)

Dou as boas vindas ao Presidente da República do meu país, eleito por sufrágio direto e universal. Mas, confesso-me, «não culpado».

Contudo, quanto ao homem Cavaco Silva, separa-nos um mar imenso de valores, pelo que nunca iria ao beija-mão. Ele é o presidente legítimo de Portugal, mas não é o meu presidente. E isto não é uma questão partidária, é uma questão de valores, de preocupações sociais e de postura ética diferentes.

No longínquo ano de 1972, mais precisamente no dia 5 de março, depois de ter estado a conviver com uma das famílias mais pobres da minha aldeia, escrevi o seguinte:

Na lareira ardem pinhas
e carunchosos tocos de acácia.
A familía está reunida,
sem cerimónias.
Sobre a mesa uma toalha de linho,
broa, azeitonas e uma garrafa de vinho:
A ceia dos pobres depois do trabalho.

Nunca pensei que esta realidade, este sofrimento, esta miséria, pairasse de novo sobre as gentes do meu país. Mas é o que acontece, e este homem agora investido de presidente é um dos grandes responsáveis, por ações e por omissões, pelo estado de coisas a que chegámos.

Por isso não irei à Torre, no próximo domingo. Prefiro ir a Coloane respirar ar puro, enquanto ainda há, por lá.

*PG

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