Cavaco Silva na
China*
CORREIA MARQUES – Hoje Macau,
opinião
Há pessoas muito
altas
De nome ilustrado e sério,
Porque o oiro tapa as faltas
Da moral e do critério.
António Aleixo,
poeta popular português (1899-1949)
Dou as boas vindas
ao Presidente da República do meu país, eleito por sufrágio direto e universal.
Mas, confesso-me, «não culpado».
Contudo, quanto ao homem Cavaco Silva, separa-nos um mar imenso de valores,
pelo que nunca iria ao beija-mão. Ele é o presidente legítimo de Portugal, mas
não é o meu presidente. E isto não é uma questão partidária, é uma questão de
valores, de preocupações sociais e de postura ética diferentes.
No longínquo ano de 1972, mais precisamente no dia 5 de março, depois de ter
estado a conviver com uma das famílias mais pobres da minha aldeia, escrevi o
seguinte:
Na lareira ardem pinhas
e carunchosos tocos de acácia.
A familía está reunida,
sem cerimónias.
Sobre a mesa uma toalha de linho,
broa, azeitonas e uma garrafa de vinho:
A ceia dos pobres depois do trabalho.
Nunca pensei que
esta realidade, este sofrimento, esta miséria, pairasse de novo sobre as gentes
do meu país. Mas é o que acontece, e este homem agora investido de presidente é
um dos grandes responsáveis, por ações e por omissões, pelo estado de coisas a
que chegámos.
Por isso não irei à Torre, no próximo domingo. Prefiro ir a Coloane respirar ar
puro, enquanto ainda há, por lá.
*PG
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