quarta-feira, 21 de maio de 2014

TRAVAR O SUCESSO DA AL QAEDA



Benjamim Formigo – Jornal de Angola, opinião

A Al Qaeda tornou-se desde o 11 de Setembro (ataque às torres gémeas em Nova Iorque) um “franchising” de sucesso que faz tocar alarmes em todas as capitais.

O seu segredo deriva da falta ou insuficiência de políticas sociais dos Estados vítimas de ataques terroristas.Desde que com a “Primavera Árabe” a Líbia foi desmembrada os radicais islâmicos dispersaram-se pela zona do Saara e do Sahel juntando-se a outras facções islamitas, as expulsas da Argélia na década de 90 do século passado, e aos tuaregues sem o controlo de Kadhafi. 

Da costa atlântica de África até à Somália os grupos islâmicos têm-se multiplicado e aproveitado de vazios de poder para se instalarem, criarem bases e lançarem ataques como o de há três semanas no Norte da Nigéria, onde foram raptadas 200 raparigas de uma escola.

O grupo Boko Haram estabeleceu-se há um ano na floresta de Sambisa ao longo da fronteira com os Camarões após uma ofensiva governamental no Norte do país. É uma zona de grande potencial económico que não tem sido suficientemente aproveitado para travar o avanço dos grupos de militantes através de uma melhor distribuição social da riqueza. 

A falta de investimento dos países da região em Educação, Saúde, promoção de empresas industriais ou agrícolas de toda e qualquer dimensão deixa o caminho aberto às ideias dos militantes radicais e da sua muito peculiar interpretação do Corão. Pouco depois do rapto dirigentes do Boko Haram afirmaram que as raparigas iam ser vendidas e que isso era o castigo por andarem na escola em vez de casarem.A semana passada na África do Sul, o ANC regressou ao poder com uma maioria esmagadora de votos. Muito está por fazer no país e o presidente reeleito Jacob Zuma enfrentou graves acusações durante a campanha.
 
Contudo o ANC tem lançado as bases para um Serviço Nacional de Saúde, mesmo contra a pressão da indústria privada de saúde. conseguiu aprovar e pôr em marcha a atribuição de subsídios sociais aos desempregados e mais desfavorecidos apesar da situação económica do país já ter conhecido melhores dias. 

O ANC luta contra um sector privado que não parece querer investir e com isso criar empregos e dinamizar a economia. Todavia os eleitores, mesmo os chamados “born free” (nasceram depois do fim do apartheid), desculpabilizam o partido afirmando que 20 anos não são suficientes para alcançar as metas apontadas pelo falecido Presidente Nelson Mandela na primeira campanha eleitoral com participação da maioria negra.

Mesmo que o sistema educativo na República África do Sul não seja suficiente, e haja uma oposição que conseguiu mais de 20 por cento dos votos, o Governo, por entre críticas, tem um plano de desenvolvimento. 

Por pequena que seja a formação escolar há uma medida de compreensão. Não é eterna, obviamente, mas existe.

Na África Central e Ocidental, como na Somália e no Sudão as situações são bastante diversas da África Austral. A pressão dos grupos radicais islâmicos aliada a dos tuaregues é cada vez maior. Acresce que para muitos que vivem nessa região o conhecimento dos trilhos do deserto tornou-se uma fonte de rendimentos para vários tráfegos e actividades ilícitas de que beneficiam financeiramente e através das quais os grupos militantes se financiam. A esta pressão acresce a ausência de uma política de desenvolvimento económico e social. O problema da distribuição da riqueza coloca-se com maior acuidade.

A tudo isto acresce a já falada incapacidade de uma força de intervenção africana que apoie os exércitos nacionais contra estes grupos consideravelmente equipados e armados e isentos de qualquer ética ou limites morais. Abrem-se pois dois caminhos. Um à intervenção externa, a França já interveio no Níger e na República Centro Africana, e prepara-se para intervir no Norte da Nigéria em coordenação com o Governo nigeriano.
 
As tropas francesas reforçam os seus efectivos estacionados na zona e criam uma base logística na Costa do Marfim. Outro à livre movimentação e expansão dos grupos islâmicos radicais que se ligam a uma entidade, a Al Qaeda, dando-lhe um peso e uma disseminação que nunca conseguiria por si mesma.

A necessidade de travar esse “franchising” do terrorismo é cada vez maior porquanto os Governos dos países mais fracos ficam reféns dos países poderosos no que se refere à estabilidade interna, estabilidade de fronteiras e à sua própria defesa.

Sem comentários:

Mais lidas da semana