Benjamim Formigo –
Jornal de Angola, opinião
A Al Qaeda
tornou-se desde o 11 de Setembro (ataque às torres gémeas em Nova Iorque ) um
“franchising” de sucesso que faz tocar alarmes em todas as capitais.
O seu segredo
deriva da falta ou insuficiência de políticas sociais dos Estados vítimas de
ataques terroristas.Desde que com a “Primavera Árabe” a Líbia foi desmembrada
os radicais islâmicos dispersaram-se pela zona do Saara e do Sahel juntando-se
a outras facções islamitas, as expulsas da Argélia na década de 90 do século
passado, e aos tuaregues sem o controlo de Kadhafi.
Da costa atlântica de África até à Somália os grupos islâmicos têm-se
multiplicado e aproveitado de vazios de poder para se instalarem, criarem bases
e lançarem ataques como o de há três semanas no Norte da Nigéria, onde foram
raptadas 200 raparigas de uma escola.
O grupo Boko Haram estabeleceu-se há um ano na floresta de Sambisa ao longo da
fronteira com os Camarões após uma ofensiva governamental no Norte do país. É
uma zona de grande potencial económico que não tem sido suficientemente
aproveitado para travar o avanço dos grupos de militantes através de uma melhor
distribuição social da riqueza.
A falta de investimento dos países da região em Educação, Saúde, promoção de
empresas industriais ou agrícolas de toda e qualquer dimensão deixa o caminho
aberto às ideias dos militantes radicais e da sua muito peculiar interpretação
do Corão. Pouco depois do rapto dirigentes do Boko Haram afirmaram que as
raparigas iam ser vendidas e que isso era o castigo por andarem na escola em
vez de casarem.A semana passada na África do Sul, o ANC regressou ao poder com
uma maioria esmagadora de votos. Muito está por fazer no país e o presidente
reeleito Jacob Zuma enfrentou graves acusações durante a campanha.
Contudo o ANC tem lançado as bases para um Serviço Nacional de Saúde, mesmo
contra a pressão da indústria privada de saúde. conseguiu aprovar e pôr em
marcha a atribuição de subsídios sociais aos desempregados e mais
desfavorecidos apesar da situação económica do país já ter conhecido melhores
dias.
O ANC luta contra um sector privado que não parece querer investir e com isso
criar empregos e dinamizar a economia. Todavia os eleitores, mesmo os chamados
“born free” (nasceram depois do fim do apartheid), desculpabilizam o partido
afirmando que 20 anos não são suficientes para alcançar as metas apontadas pelo
falecido Presidente Nelson Mandela na primeira campanha eleitoral com
participação da maioria negra.
Mesmo que o sistema educativo na República África do Sul não seja suficiente, e
haja uma oposição que conseguiu mais de 20 por cento dos votos, o Governo, por
entre críticas, tem um plano de desenvolvimento.
Por pequena que seja a formação escolar há uma medida de compreensão. Não é
eterna, obviamente, mas existe.
Na África Central e Ocidental, como na Somália e no Sudão as situações são
bastante diversas da África Austral. A pressão dos grupos radicais islâmicos
aliada a dos tuaregues é cada vez maior. Acresce que para muitos que vivem
nessa região o conhecimento dos trilhos do deserto tornou-se uma fonte de
rendimentos para vários tráfegos e actividades ilícitas de que beneficiam
financeiramente e através das quais os grupos militantes se financiam. A esta
pressão acresce a ausência de uma política de desenvolvimento económico e
social. O problema da distribuição da riqueza coloca-se com maior acuidade.
A tudo isto acresce a já falada incapacidade de uma força de intervenção
africana que apoie os exércitos nacionais contra estes grupos consideravelmente
equipados e armados e isentos de qualquer ética ou limites morais. Abrem-se
pois dois caminhos. Um à intervenção externa, a França já interveio no Níger e
na República Centro Africana, e prepara-se para intervir no Norte da Nigéria em
coordenação com o Governo nigeriano.
As tropas francesas reforçam os seus efectivos estacionados na zona e criam uma
base logística na Costa do Marfim. Outro à livre movimentação e expansão dos
grupos islâmicos radicais que se ligam a uma entidade, a Al Qaeda, dando-lhe um
peso e uma disseminação que nunca conseguiria por si mesma.
A necessidade de travar esse “franchising” do terrorismo é cada vez maior
porquanto os Governos dos países mais fracos ficam reféns dos países poderosos
no que se refere à estabilidade interna, estabilidade de fronteiras e à sua
própria defesa.
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