Martinho
Júnior, Luanda
1
– Quer aqueles que perfilham o capitalismo neo liberal, hegemónico e unipolar,
quer aqueles que assumem o capitalismo que persegue a via da emergência
multipolar, estão a procurar reforçar as suas próprias articulações e as suas
próprias linhas-de-força e de conduta, reagrupando os recursos económicos e
financeiros, assim como reorganizando as infra estruturas e estruturas afectas,
de modo a intensificar a energia das suas respostas.
Os
fulcros de poder estão a reformular por isso filosofias, ideologias e
conceitos, sobretudo os conceitos geo-estratégicos, uma vez os embates a curto
prazo se aproximarão dos níveis típicos daqueles que ocorreram ao longo da
chamada “Guerra Fria”.
Este
é o momento de transição que foi impulsionado com o despoletar da crise na
Ucrânia pelo que as questões energéticas se situam no eixo de qualquer uma das
iniciativas, com as vantagens do momento a recair em favor da Rússia e do que
ela está já agilmente a realizar.
A
Rússia foi prática e sagaz na reacção aos acontecimentos na Ucrânia e está a
tirar partido do facto de ser o único estado que distende seu espaço nacional
em dois continentes, neste caso o único estado euro-asiático!
Os
acontecimentos na Ucrânia não prenderam, nem toldaram psicologicamente os
governantes da Rússia, muito pelo contrário: eles desencadearam de forma
clarividente uma ofensiva geo-estratégica de grande amplitude, acima desse
tabuleiro para o qual foi deliberadamente empurrada, uma ofensiva que joga com
uma lógica surpreendentemente consistente e que está em pleno, correspondendo à
dimensão do seu espaço físico-geográfico e dos problemas que tem de enfrentar,
grande parte deles com implicações globais!
O
império da hegemonia unipolar queria que a Rússia se comportasse como uma
potência regional submissa, mas a Rússia ao recusar-se a tal com argumentação
consistente e sem prévio aviso, está a surpreender por outro lado por causa da
fasquia a que colocou o nível da sua resposta em todos os sectores,
demonstrando que a articulação dos BRICS é já muito mais que um potencial!
2
– Com as conexões em direcção à União Europeia em expectativa, sob observação
intensiva e prevendo o afrouxar dos nexos, a Rússia deu vários passos
geo-estratégicos importantes com vista à afirmação global por via
euro-asiática, defendendo ao mesmo tempo todos os seus flancos, de forma a
estabelecer no seu entorno uma flexível armadura:
As
tentativas para gerar contradições internas e criar divisões em relação à
imensa Federação Russa, terão agora mais obstáculos e dificuldades que vencer e
só por via do terrorismo, uma ameaça que vai crescer em relação à Rússia, se
poderão manifestar!
Entre
os passos dados destaco estas condutas que são efectivamente linhas-de-força:
-
Incrementou a interconexão económica, financeira, militar e geo-estratégica com
a China, de forma a articular outras iniciativas, em outras direcções, a partir
dessa interconexão;
-
Criou a União Económica Euroasiática que conta com o Cazaquistão no seu flanco
sul e a Bielorrússia no seu flanco oeste, como seus membros fundadores,
garantindo desde já o estatuto de observadores, no seu flanco sul, à Arménia e
ao Quirguistão, autênticos elementos de pressão avançados, destinados a
explorar a tendência de progressão do sistema a médio-longos prazos;
-
Implementa as acções de permanência e intervenção no Árctico, no flanco norte,
de forma a, entre as várias opções, tornar viável a exploração da rota entre o
Pacífico Norte e o Atlântico Norte, atraindo parceiros e associados como a
China e a Índia, os outros dois componentes euroasiáticos dos BRICS;
-
Reforça os sistemas de exploração e transporte de petróleo e de gás, assim como
outras formas de articulação e de conexão em relação a outros produtos,
reunindo investimentos sérios na implantação dos nós infra estruturais,
estruturais e organizativos internos, tornando-os de forma consistente em importantes
polos de desenvolvimento em seu próprio território e em territórios e mares
vizinhos;
-
Cria mais suportes de apoio em relação às alianças tácitas dentro da conturbada
região da Ásia do Sudoeste (Médio Oriente), de modo também a melhor se posicionar
no Cáspio, no Cáucaso e no Mar Negro.
Estes
passos revelam como a Rússia fez rapidamente o diagnóstico da situação em
relação à crise ucraniana e seu significado, conferindo outra dimensão às
respostas face às ameaças e aos riscos: não numa amplitude regional, mas numa
amplitude global que permite também a catapulta de iniciativas e acções em
direcção a outros países e continentes, entre os quais a Ucrânia e a União
Europeia.
*Mapa
da União Económica Euroasiática
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