De
bilhete para o espaço Schengen, a propinas mais baratas em universidades
europeias até a ordenados superiores no Golfo Pérsico. Em Goa, o passaporte
português continua a figurar como sinónimo de garantia para uma vida melhor.
É
uma realidade difícil de ignorar. O relógio ainda não bateu oito da manhã e a
fila tem mais de uma centena de pessoas, como confirma o segurança à porta do
Consulado-Geral de Portugal, em Goa.
Nem
todos vão tratar do cartão de cidadão, do passaporte ou do pedido de
nacionalidade portuguesa mas, face a tão grande universo, é possível encontrar
quem acordou cedo com esse propósito.
A
maioria recusa falar, quem aceita pede para não ser identificado.
"Torna-se mais difícil viajar, porque não tenho trabalho fixo",
contou uma goesa de 26 anos, que pensar ir para França. "Vim primeiro para
pedir o cartão de cidadão. Depois logo se vê", acrescentou.
Um
pouco mais adiante está outro goês, de 65 anos. "Eu tinha ainda o
passaporte dos meus pais, pelo que foi mais fácil resolver as burocracias. Já
tenho o cartão de cidadão. Vim tratar das coisas para a minha filha",
disse Manuel.
"Com
a nacionalidade portuguesa [ela] pode ir para todo o lado. Não é fácil arranjar
emprego em Goa", afirmou o sexagenário que não pretende sair de Bombaim,
onde vive a maior parte do tempo.
"Muitos
estão a adquirir a nacionalidade portuguesa por razões económicas não por
estarem interessados em tê-la, mas porque veem uma oportunidade para os seus
filhos se mudarem para a Europa", sublinhou o cônsul-geral de Portugal em
Goa.
António
Sabido da Costa deu um exemplo: "Basta ver que nas universidades o facto
de ser cidadão europeu e não indiano permite ter propinas muito mais
baixas".
Além
de aproveitarem o passaporte português para irem para outras partes do mundo,
sobretudo da Europa, "o facto de terem passaporte português pode
significar tanto aqui, como no resto da Índia ou no Golfo - onde existe uma
grande comunidade goesa - ordenados muito superiores, muitas vezes o dobro do
que ganhariam com o passaporte indiano, portanto, é um atrativo forte",
realçou.
"Há
melhores oportunidades económicas, [pelo que] as pessoas tentam para ir para a
Europa, usam Portugal como ?porta de entrada' para acederem ao espaço
Schengen", constatou, por seu turno, o ministro-chefe de Goa, em
declarações à agência Lusa.
Segundo
Manohar Parrikar, "existem também muitos goeses que não deixaram o país, e
que só efetuaram o registo, de forma a "não terem os ovos todos no mesmo
cesto", acautelando-se a si e aos seus para uma eventualidade no futuro.
Lourdes
Bravo da Costa, bibliotecária aposentada, partilha da mesma opinião:
"Ninguém está a adquirir nacionalidade portuguesa por motivos emocionais,
especialmente a nova geração. A anterior tem ligações com o país mas, no caso
dos mais novos, é mais porque se trata de uma porta para o mercado europeu ou
para conseguir trabalho e ganhar mais".
"Legalmente
sou indiano", atirou Vasco Pinho, descrevendo a recente ?febre' da
nacionalidade portuguesa como "esquisita", sem esquecer que também
representa "um grande benefício para a Índia: É muito dinheiro que entra
em divisas estrangeiras".
"Nunca
quis porque sabia que um dia me ia meter em problemas e em sarilhos",
relatou à Lusa o antigo professor de 71 anos, segundo o qual os que têm
passaporte português e ficam (ou regressam) "estarão sempre sujeitos a
certas investigações e discriminações iniciadas para fins políticos".
Para
Percival Noronha, 91 anos, "é muito perigoso ter duas
nacionalidades". "Fazem o diabo a quatro e se for funcionário
[público] está ?lixado'. Fica sem pensão, fica sem nada", advertiu o
historiador.
Dez
descendentes de cidadãos naturais de Goa, Damão e Diu obtiveram, em média, por
dia, nacionalidade portuguesa nos últimos sete anos, de acordo com dados
oficiais facultados pelo Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) à agência
Lusa.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
Sem comentários:
Enviar um comentário