terça-feira, 3 de junho de 2014

Goa: Nacionalidade portuguesa é passaporte para uma vida melhor




De bilhete para o espaço Schengen, a propinas mais baratas em universidades europeias até a ordenados superiores no Golfo Pérsico. Em Goa, o passaporte português continua a figurar como sinónimo de garantia para uma vida melhor.

É uma realidade difícil de ignorar. O relógio ainda não bateu oito da manhã e a fila tem mais de uma centena de pessoas, como confirma o segurança à porta do Consulado-Geral de Portugal, em Goa.

Nem todos vão tratar do cartão de cidadão, do passaporte ou do pedido de nacionalidade portuguesa mas, face a tão grande universo, é possível encontrar quem acordou cedo com esse propósito.

A maioria recusa falar, quem aceita pede para não ser identificado. "Torna-se mais difícil viajar, porque não tenho trabalho fixo", contou uma goesa de 26 anos, que pensar ir para França. "Vim primeiro para pedir o cartão de cidadão. Depois logo se vê", acrescentou.

Um pouco mais adiante está outro goês, de 65 anos. "Eu tinha ainda o passaporte dos meus pais, pelo que foi mais fácil resolver as burocracias. Já tenho o cartão de cidadão. Vim tratar das coisas para a minha filha", disse Manuel.

"Com a nacionalidade portuguesa [ela] pode ir para todo o lado. Não é fácil arranjar emprego em Goa", afirmou o sexagenário que não pretende sair de Bombaim, onde vive a maior parte do tempo.

"Muitos estão a adquirir a nacionalidade portuguesa por razões económicas não por estarem interessados em tê-la, mas porque veem uma oportunidade para os seus filhos se mudarem para a Europa", sublinhou o cônsul-geral de Portugal em Goa.

António Sabido da Costa deu um exemplo: "Basta ver que nas universidades o facto de ser cidadão europeu e não indiano permite ter propinas muito mais baixas".

Além de aproveitarem o passaporte português para irem para outras partes do mundo, sobretudo da Europa, "o facto de terem passaporte português pode significar tanto aqui, como no resto da Índia ou no Golfo - onde existe uma grande comunidade goesa - ordenados muito superiores, muitas vezes o dobro do que ganhariam com o passaporte indiano, portanto, é um atrativo forte", realçou.

"Há melhores oportunidades económicas, [pelo que] as pessoas tentam para ir para a Europa, usam Portugal como ?porta de entrada' para acederem ao espaço Schengen", constatou, por seu turno, o ministro-chefe de Goa, em declarações à agência Lusa.

Segundo Manohar Parrikar, "existem também muitos goeses que não deixaram o país, e que só efetuaram o registo, de forma a "não terem os ovos todos no mesmo cesto", acautelando-se a si e aos seus para uma eventualidade no futuro.

Lourdes Bravo da Costa, bibliotecária aposentada, partilha da mesma opinião: "Ninguém está a adquirir nacionalidade portuguesa por motivos emocionais, especialmente a nova geração. A anterior tem ligações com o país mas, no caso dos mais novos, é mais porque se trata de uma porta para o mercado europeu ou para conseguir trabalho e ganhar mais".

"Legalmente sou indiano", atirou Vasco Pinho, descrevendo a recente ?febre' da nacionalidade portuguesa como "esquisita", sem esquecer que também representa "um grande benefício para a Índia: É muito dinheiro que entra em divisas estrangeiras".

"Nunca quis porque sabia que um dia me ia meter em problemas e em sarilhos", relatou à Lusa o antigo professor de 71 anos, segundo o qual os que têm passaporte português e ficam (ou regressam) "estarão sempre sujeitos a certas investigações e discriminações iniciadas para fins políticos".

Para Percival Noronha, 91 anos, "é muito perigoso ter duas nacionalidades". "Fazem o diabo a quatro e se for funcionário [público] está ?lixado'. Fica sem pensão, fica sem nada", advertiu o historiador.

Dez descendentes de cidadãos naturais de Goa, Damão e Diu obtiveram, em média, por dia, nacionalidade portuguesa nos últimos sete anos, de acordo com dados oficiais facultados pelo Instituto dos Registos e do Notariado (IRN) à agência Lusa.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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