O
"progressivo esvaziamento de autonomia", "a completa ausência de
meios efetivos de gestão" e o quadro geral de
"insustentabilidade" ajudam a explicar a demissão em bloco, dos 66
diretores do hospital portuense.
Margarida Cardoso e Isabel Paulo – Expresso
Quando se demitiram em bloco, quarta-feira à tarde, os 58 diretores de serviços clínicos e não clínicos e os responsávels pelas oito unidades intermédias de gestão do Centro Hospitalar de São João, atuaram de forma espontânea, sem concertação prévia. Mas o sentimento de revolta contra "o estado das coisas" já vinha a germinar há longo tempo e, em abril passado, os oito presidentes dos conselhos diretivos das unidades autónomas de gestão daquela unidade de saúde entregaram uma carta ao presidente do conselho de administração, António Ferreira, onde alertavam para o quadro de "insustentabilidade" vivido.
Margarida Cardoso e Isabel Paulo – Expresso
Quando se demitiram em bloco, quarta-feira à tarde, os 58 diretores de serviços clínicos e não clínicos e os responsávels pelas oito unidades intermédias de gestão do Centro Hospitalar de São João, atuaram de forma espontânea, sem concertação prévia. Mas o sentimento de revolta contra "o estado das coisas" já vinha a germinar há longo tempo e, em abril passado, os oito presidentes dos conselhos diretivos das unidades autónomas de gestão daquela unidade de saúde entregaram uma carta ao presidente do conselho de administração, António Ferreira, onde alertavam para o quadro de "insustentabilidade" vivido.
O
documento interno, a que o Expresso teve acesso, terá levado António
Ferreira a apresentar um pedido de demissão ao Ministro da Saúde há
dois meses. As promessas de Paulo Macedo travaram a decisão de Ferreira, mas,
dois meses depois, "o quadro mantém-se inalterado, agravado até pelo
desgaste do tempo e a pressão de pessoal provocada pelo período de
férias", refere, agora, um dos diretores demissionários.
"Os
presidentes dos conselhos diretivos de todas as Unidades Autónomas de Gestão,
das áreas clínicas, do centro hospitalar de S. João, EPE (CHSJ), têm sido
confrontados com uma completa ausência de meios efetivos de gestão, devido a um
progressivo esvaziamento da autonomia, conferida legalmente pelos estatutos de
uma entidade pública empresarial e que atingiu a insustentabilidade, apesar de
todo o empenho do conselho de administração", refere o documento.
Faltam
equipamentos vitais
Depois,
os médicos justificam o alerta apontando várias frentes, da governação clínica
à gestão operacional ou recursos humanos, denunciando "uma progressiva
desarticulação inter-hospital e com os cuidados de saúde primários", a
"impossível substituição de equipamentos médicos vitais em função do seu
normal desgaste" e os "problemas diários" dos sistemas de
informação que "afetam de forma profunda a prestação dos profissionais de
saúde".
"A gestão
de recursos humanos, dos vários grupos profissionais, em resultado de processos
longos, burocráticos, erráticos e centralizados, impede decisões racionais e
ajustadas à realidade, o que provoca o aumento da despesa, a desmotivação dos
profissionais, a deterioração na prestação de cuidados de saúde",
dizem.
A
desadequação progressiva dos sucessivos modelos de contratação de médicos à
real organização, complexidade e diferenciação dos hospitais e "a carência
de informação da tutela: desconhecimento do modo, tempo e objetivos da política
de recursos humanos médicos praticada", com "procedimentos alterados
sucessivamente", calendários de concursos que não são previamente
conhecidos e modalidades de concurso a " variar constantemente" ,
também são pontos referidos.
Declaração
de guerra
Num
momento em que se iniciava um novo processo de recrutamento de recursos
humanos e considerando que "nos últimos dois anos não foi possivel
colmatar necessidades existentes", apesar dos bons indicadores de
eficiência do hospital e da sua situação de equilíbrio financeiro, os diretores
sublinhavam, já então, não ter "condições para continuar a exercer as suas
funções".
Foi
neste quadro, perante a ausência de respostas do Ministério de Saúde a
problemas concretos do hospital, que toda a direção decidiu, quinta-feira,
demitir-se em bloco "numa declaração de guerra que procura apenas exprimir
revolta e exigir condições para tratar os doentes", comenta o presidente
de uma das unidades autónomas de gestão, destacando a "união de toda a
equipa e a dinâmica de grupo criada".
"Nesta
altura, começa a não ser possível garantir aos doentes as condições de prática
clínica adequadas, há cirurgias que estão a ser adiadas simplesmente porque não
temos operacionais para limpar os blocos operatórios e este quadro promete,
obviamente, agravar-se com o período de férias de verão", afirma este
responsável, na expectativa do resultado da reunião que junta, esta
tarde, António Ferreira, o ministro da Saúde e a ARS Norte.
Contas
positivas
Entre
os diretores do S. João, há a convicção de que o ministro será um dos
principais apoios da administração do hospital dentro do seu ministério, mas
"referem outros interesses e alguma oposição à equipa do S. João no
seio da própria equipa de Paulo Macedo".
Qunta-feira
à tarde, contactado pelo Expresso, o Ministério da Saúde comentou
apenas que os pedidos de demissão da direção do hospital "eram
uma questão interna" pelo que não iria reagir. "O conselho de
administração é que escolhe e nomeia os responsáveis de serviço", disse ao Expresso fonte
do gabinete de Paulo Macedo.
Mas como é
que um hospital apontado desde há muito como exemplo e modelo a seguir no
Serviço Nacional de Saúde, com um saldo positivo no balanço dos últimos
cinco anos na ordem dos cinco milhões de euros, entra em rutura?
"A explicação mais simples para o Ministério da Saúde será apontar
questões políticas", comenta um diretor de serviço ao Expresso.
Na foto: "Há cirurgias
que estão a ser adiadas simplesmente porque não temos operacionais para limpar
os blocos operatórios e este quadro promete, obviamente, agravar-se com o
período de férias de verão", acusa um dos responsáveis clínicos
demissionários do Hospital de São João / Rui Duarte Silva
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