terça-feira, 5 de agosto de 2014

EUA ELOGIAM LIDERANÇA ANGOLANA



Garrido Fragoso e Bernardino Manje, Washington – Jornal de Angola

O Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, trocaram ontem pareceres sobre questões relacionadas com o desenvolvimento, paz e segurança mundiais e a cooperação entre os dois países.

O encontro foi realizado na véspera da cimeira EUA-África, que se realiza hoje e amanhã, e vai pôr frente-a-frente o Presidente Barack Obama e mais de 50 Chefes de Estado e de Governo do continente africano.

Manuel Vicente, que representa na cimeira de hoje o Presidente José Eduardo dos Santos, afirmou-se optimismo quanto ao reforço da cooperação. “Temos uma cooperação excelente a nível da indústria petrolífera, mas no quadro do nosso plano de desenvolvimento gostávamos de também ver os Estados Unidos a participar em outras de actividade”, disse, agradecendo o apoio oferecido pelo secretário de Estado norte-americano para, em conjunto, procurarem a estabilidade e desenvolvimento do continente africano.

O Vice-Presidente falou ainda do esforço que o país está a desenvolver para a paz e a estabilidade. “Sem paz e segurança não há investimento. Este é o primeiro foco do Presidente da República. Queremos colaborar e participar e fazer todos os esforços para podermos garantir a paz a nível de todo continente africano e do mundo”, afirmou, acrescentando que esta é uma das razões que leva o país a candidatar-se a membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas para o próximo mandato.

Influência do Presidente

A influência e o papel do Presidente José Eduardo dos Santos para restabelecer a paz e a segurança na região dos Grandes Lagos foi reconhecido em Washington pela nova embaixadora norte-americana acreditada em Angola, Helen La Lime.

A diplomata norte-americana falava aos jornalistas angolanos após a chegada a Washington do Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, onde representa o Presidente José Eduardo dos Santos na Cimeira EUA- África, cuja cerimónia de abertura acontece amanhã, na capital federal norte-americana.

Helen La Lime considerou “muita activa\" a parceria estratégica entre Angola e os EUA nos “sectores chave\" de desenvolvimento, salientando que se tornou ainda mais sólida com as  recentes visitas a Angola, este ano, de altas figuras do governo norte-americano, com destaque para osecretário de Estado John Kerry, o enviado especial do Presidente Barack Obama para a região dos Grandes Lagos, Russell Feingold, e ainda da secretária de Estado para os Assuntos Africanos, Linda Thomas-Greenfield.

“A parceria entre os dois Estados está muito activa e deve tornar-se ainda mais coesa nos próximos tempos\", afirmou a diplomata norte-americana, que elogiou o Executivo por tudo o que tem realizado para proporcionar um futuro próspero a todos os angolanos. A embaixadora falou do plano do Executivo para a diversificação da economia e das iniciativas que executa com vista a proporcionar aos jovens angolanos emprego, formação e casa própria.

Em relação à candidatura de Angola a membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, cuja escolha é em Setembro próximo, a diplomata norte-americana esclareceu que a política dos EUA não permite divulgar quem vai ou não apoiar para estes posto. Helen La Lime substituiu no cargo o embaixador Christopher McMullen. Desde 2011 desempenhava  um cargo executivo no Africom, o centro norte-americano para as Operações Militares em África. La Lime foi embaixadora em Moçambique e esteve nas representações diplomáticas dos EUA na África do Sul, Chade e Marrocos. Também passou pela Suíça e a Alemanha.

Angola abre consulado

O ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, inaugura sexta-feira o Consulado-Geral de Angola em Los Angels. Além do Estado da Califórnia, o consulado vai atender mais 14 Estados norte-americanos, com realce para Alasca, Colorado e Dakota do Norte e do Sul. O cônsul-geral de Angola em Los Angels, Martinho Bachi Codo, afirmou que na região vivem muitos cidadãos angolanos que fugiram da guerra em Angola, já se consideram norte-americanos, mas solicitam também documentação angolana.

O primeiro passo a ser dado no consulado, disse, vai ser a identificação  dos angolanos, para saber quais são os que estão em situação migratória irregular, para que sejam emitidos passaportes e os vistos consulares.

Relativamente à divulgação de Angola, Martinho Codo admitiu que muitos norte-americanos desconhecem Angola. A mesma situação é vivida em Houston, Estado do Texas. A maior parte dos americanos residentes nunca ouviram falar de Angola nem sabem da sua realidade. Por isso, uma das principais apostas do consulado-geral, dirigido por Júlia Machado, é fazer um trabalho no sentido de inverter o actual quadro.

O cônsul-geral de Angola em Nova Iorque, Adão Pinto, disse que o Consulado está a fazer a reconstituição dos registos, para que os angolanos residentes possam adquirir  documentos de identificação. Adão Pinto informou que, apesar do Consulado Nova Iorque  atender 15 Estados norte-americanos, as pessoas que residem em Nova Iorque e na Pensilvânia são os que mais preocupações apresentam. O número de angolanos registados no Consulado não satisfaz o cônsul. Estão registados 128 angolanos e em Massachussets 200, mas Adão Pinto diz que há mais.

Quanto às solicitações de vistos, o cônsul-geral de Angola em Nova Iorque disse que os interessados têm sido sobretudo empresas petrolíferas. Isso também é o que acontece no Consulado-Geral de Angola em Houston (Estado do Texas), cidade onde está a maior parte das companhias americanas de petróleo e gás.

Paz e segurança

O embaixador de Angola junto da União Africana, Arcanjo do Nascimento, disse em Washington que os temas ligados à paz e segurança no continente africano são prioridades na participação angolana na cimeira entre o Presidente Obama e líderes de 50 países africanos. Em declarações aos jornalistas em Washington, Arcanjo do Nascimento disse que as questões ligadas à paz e segurança no continente vão ser apresentadas durante a cimeira por um representante do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, salientando que  Angola vai exprimir os seus pontos de vista sobre os temas fundamentais da actualidade africana em matéria de paz e segurança. 

Em relação aos temas a apresentar, o diplomata angolano lembrou que houve uma prévia concertação entre os países africanos, tendo a recente cimeira de Malabo definido as  posições e as prioridades para África no dialogo com os EUA.

O embaixador  Arcanjo do Nascimento disse que a União Africana recebeu da Administração Obama a justificação de que alguns líderes africanos não foram convidados para a cimeira pelo facto de não terem boas relações com os EUA.

Recusa de esmolas

O embaixador Arcanjo do Nascimento disse que a posição da União Africana é de que as parcerias entre os países africanos e os Estados Unidos não devem ser de caridade. \"África não quer esmolas, mas sim parcerias para fazer negócios com os EUA\", afirmou Arcanjo do Nascimento, salientando que este é um dos aspectos que os líderes africanos vão trazer à cimeira.

África, referiu, vai defender o estabelecimento de novas bases de cooperação com os Estados Unidos, para garantir uma cooperação recíproca e vantajosa. 

O diplomata recordou que a cooperação entre países africanos e os Estados Unidos deve apenas limitar-se às questões ligadas ao terrorismo e à paz e segurança, mas também abranger outros domínios. África entrou numa nova fase de expansão económica e as economias que mais crescem no mundo estão no continente africano.

Foto: Reuters

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