sexta-feira, 8 de agosto de 2014

ME ENGANA QUE EU GOSTO (1)



João Luís

Esta é uma frase que uma amiga brasileira costuma empregar quando o seu companheiro sai para “comprar cigarros”.

Esta introdução vem a propósito do que ouço dizer sobre a nacionalização da banca, concretamente sobre (ainda) o BPN e os prejuízos por ela causados aos contribuintes (assim nos tratam os partidos “moderados”. Eles não dizem povo, pff que horror, mas sim, contribuintes), versus a necessidade de nacionalização da banca comercial defendida pelos “radicais” comunistas.

Desculpem usar uma linguagem pouco formal, mas se há coisa que mais chateia cá o indígena é quererem fazer-me de parvo. Comparar uma nacionalização de prejuízos deixando para os accionistas o “filet mignon” (2) e para o povo o sebo (3), com a nacionalização dos passivos sim mas também de todos os activos de um banco, não é a mesma coisa.

Vamos então por os pontos nos is

No caso BPN, «o Governo deixou nas mãos dos accionistas – alguns dos quais fortemente responsáveis pela gestão fraudulenta do BPN – toda a parte restante do Grupo SLN. Permaneceram na posse dos accionistas activos muito relevantes, designadamente de natureza imobiliária (por exemplo, imóveis próximos de futuro aeroporto de Alcochete, ou em zonas turísticas privilegiadas do Algarve (…). Mesmo em contexto económico desfavorável, só estes activos imobiliários da SLN foram avaliados em cerca de mil e trezentos milhões de euros» (4)

A 20 de Dezembro de 2012, defendia o PCP pela voz de Jorge Pires, membro da comissão política daquele partido, «o PCP defende uma nacionalização efectiva, e não a prazo, como aconteceu, e que o BPN fosse nacionalizado enquadrado na nacionalização do grupo" - a Sociedade Lusa de Negócios (SLN), que entretanto mudou o nome para Galilei -, defendeu o responsável comunista, acrescentando que "era no conjunto da sociedade que estavam os melhores activos do grupo». (5)

Mas, mais curioso ainda foi o facto de os únicos partidos com assento parlamentar que votaram contra a norma que determinava de facto a nacionalização do BPN, foram o PCP e o PEV, e quem votou favoravelmente a norma que nacionalizou todas as acções representativas do capital social do BPN (n.º 2 do artigo 2.º da lei de «nacionalização» do BPN, a Lei 62-A/2008), foi o PS e o BE, tendo o PSD e o CDS optado pela abstenção. (6) 

Voltando à vaca fria, é exercício de má fé e pura velhacaria comparar a achavascada “nacionalização” do BPN com aquilo que defendem os comunistas.

Os “moderados” defendem uma banca comercial ao serviço do desenvolvimento das carteiras dos salgados deste mundo, ao invés, os “radicais defendem que essa banca seja colocada ao serviço do povo e da economia do país.

E agora algo completamente diferente (7). Quem fica com o lucrativo Hospital da Luz? O Novo Banco ou o Banco Espírito Santo, ámen?

Notas e fontes:
(1)     Diz-se de uma coisa que nem você acredita que vai acontecer, mas mesmo assim, por conveniência, obrigação ou irresponsabilidade, jura que vai ser um sucesso. A audiência, em geral, logo percebe e pensa (muitas vezes só para ela mesmo) que quem está fazendo o discurso ou defendendo a tese é um enganador.
(2)     É um tipo de corte de carne bovina. É a parte mais tenra da ponta do filé, localizada na parte traseira do animal e representa, aproximadamente, 2,95% da carcaça. É o corte mais macio da carne bovina e quase não contém gordura.
(3)     Parte gordurenta das vísceras dos animais ruminantes.
(4)     Honório Novo – revista «O Militante» n.º 311 de Mar/Abr 2011.
(7)     Obrigado Monty Python ou Upton Sinclair (decidam-se sobre a autoria da frase)

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