sábado, 9 de agosto de 2014

MILHARES DE CRIANÇAS SEQUESTRADAS OU MORTAS NO SUDÃO DO SUL




Milhares de crianças têm sido deliberadamente alvejadas e mortas ou sequestradas para se tornarem combatentes no conflito que se arrasta há oito meses no Sudão do Sul, anunciaram hoje analistas da União Africana (UA).

"O conflito atual pode ser definido como uma guerra contra as crianças do Sudão do Sul", declarou Julia Sloth-Nielsen, responsável por uma delegação da UA que se encarrega dos direitos das crianças naquele país.

Os ataques "não são acidentais" e estão "perigosamente perto de representar um crime contra a humanidade", acrescentou.

"Temos recebido inúmeros relatos de crianças, e mesmo bebés, assassinados sem razão", salientou Sloth-Nielsen perante os jornalistas, após uma semana de investigação levada a cabo pelos onze membros do Comité para os Direitos e o Bem-Estar das Crianças (CDBC).

Mais de 900 crianças terão sido raptadas no estado de Jonglei, na zona Este do Sudão do Sul e foram confirmados vários casos de abuso sexual de meninos e meninas nas zonas de combate, é relatado pelo CDBC em comunicado.

Na vila de Bor, também na zona Este, foram descobertos os corpos de 490 crianças, amontoados em valas comuns, após os confrontos.

O conflito no Sudão do Sul, que opõe forças leais ao Presidente, Salva Kiir, a simpatizantes do antigo vice-presidente Riek Machar, já provocou 1,5 milhões de desalojados, dezenas de milhares de mortos e o aumento da tensão entre etnias.

A Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), que tem mediado as negociações oficiais entre as forças em conflito, retoma as conversações na Etiópia, segunda-feira, sem que se conheça ainda a disponibilidade das fações combatentes.

Um acordo assinado a 10 de junho prevê que seja formado um governo de transição entre as forças de um e de outro lado do conflito até ao dia 10 de agosto.

As Nações Unidas reivindicam que será preciso mais de mil milhões de dólares para ajudar a população sul-sudanesa, numa altura em que mais de 50.000 crianças estão em risco de morrer de fome e doenças no país.

Em abril, a alta-comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos do Homem, Navi Pillay, alertou para a recruta de mais de 9.000 crianças, usadas depois como soldados.

Na opinião do comité da UA, as crianças do país estão a ser mais atingidas pelo atual conflito do que tinham sido pela guerra que aconteceu entre 1983 e 2005, e culminou na independência do Sudão do Sul, em 2011.

"O impacto do conflito nos últimos oito meses foi maior, nas crianças, do que 21 anos de guerra", considerou o comité.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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