Milhares
de crianças têm sido deliberadamente alvejadas e mortas ou sequestradas para se
tornarem combatentes no conflito que se arrasta há oito meses no Sudão do Sul,
anunciaram hoje analistas da União Africana (UA).
"O
conflito atual pode ser definido como uma guerra contra as crianças do Sudão do
Sul", declarou Julia Sloth-Nielsen, responsável por uma delegação da UA
que se encarrega dos direitos das crianças naquele país.
Os
ataques "não são acidentais" e estão "perigosamente perto de
representar um crime contra a humanidade", acrescentou.
"Temos
recebido inúmeros relatos de crianças, e mesmo bebés, assassinados sem
razão", salientou Sloth-Nielsen perante os jornalistas, após uma semana de
investigação levada a cabo pelos onze membros do Comité para os Direitos e o
Bem-Estar das Crianças (CDBC).
Mais
de 900 crianças terão sido raptadas no estado de Jonglei, na zona Este do Sudão
do Sul e foram confirmados vários casos de abuso sexual de meninos e meninas
nas zonas de combate, é relatado pelo CDBC em comunicado.
Na
vila de Bor, também na zona Este, foram descobertos os corpos de 490 crianças,
amontoados em valas comuns, após os confrontos.
O
conflito no Sudão do Sul, que opõe forças leais ao Presidente, Salva Kiir, a
simpatizantes do antigo vice-presidente Riek Machar, já provocou 1,5 milhões de
desalojados, dezenas de milhares de mortos e o aumento da tensão entre etnias.
A
Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), que tem mediado as
negociações oficiais entre as forças em conflito, retoma as conversações na
Etiópia, segunda-feira, sem que se conheça ainda a disponibilidade das fações
combatentes.
Um
acordo assinado a 10 de junho prevê que seja formado um governo de transição
entre as forças de um e de outro lado do conflito até ao dia 10 de agosto.
As
Nações Unidas reivindicam que será preciso mais de mil milhões de dólares para
ajudar a população sul-sudanesa, numa altura em que mais de 50.000 crianças
estão em risco de morrer de fome e doenças no país.
Em
abril, a alta-comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os
Direitos do Homem, Navi Pillay, alertou para a recruta de mais de 9.000
crianças, usadas depois como soldados.
Na
opinião do comité da UA, as crianças do país estão a ser mais atingidas pelo
atual conflito do que tinham sido pela guerra que aconteceu entre 1983 e 2005,
e culminou na independência do Sudão do Sul, em 2011.
"O
impacto do conflito nos últimos oito meses foi maior, nas crianças, do que 21
anos de guerra", considerou o comité.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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