terça-feira, 19 de agosto de 2014

Moçambique: CESSAR-FOGO CONTINUA REFÉM DE UMA DECLARAÇÃO OFICIAL




A Renamo diz-se pronta para assinar o acordo e declarar o cessar-fogo. O governo continua a defender que o mesmo deve ser feito em acto solene entre Guebuza e Dhlakama

O Governo e a Renamo continuam desencontrados sobre as modalidades da assinatura da declaração oficial de cessar-fogo para a materialização dos consensos alcançados na mesa do diálogo político.

Depois de terem sido ultrapassados todos os “obstáculos” que prevaleceram durante dezenas de rondas negociais, culminando com a assinatura das actas representando consensos sobre as matérias que estiveram em cima da mesa e com a aprovação de uma Lei de Amnistia, as partes continuam sem consensos sobre a legitimidade de quem deve declarar e rubricar o acto que vai marcar o fim da “guerra”, não obstante as armas estarem “caladas” há mais de um mês.

Na 72ª ronda negocial, a Renamo voltou a dizer que a declaração oficial do fim das hostilidades só não acontece porque o governo assim não quer. “Nós viemos aqui, mais uma vez, dispostos para declarar o cessar-fogo e assinar a declaração final que materializa o acordo, contudo, isto não aconteceu porque, mais uma vez, o governo voltou a dizer que não tem competências para o efeito”, disse Saimone Macuiane, chefe da delegação da Renamo, em conferência de imprensa, no final da ronda negocial de ontem.

“A delegação da Renamo recebeu do partido e do presidente Afonso Dhlakama mandato bastante para assinar o acordo e declarar o cessar-fogo, mas, infelizmente, o governo continua a dizer que é incompetente para o efeito”, acrescentou Macuiane.

Durante a sessão de ontem, que durou cerca de quatro horas, a assinatura do acordo de cessar-fogo foi o único ponto que esteve em cima da mesa, mas nem o tempo foi capaz de aproximar as partes.

Governo desconfiado

Por detrás da falta de consensos sobre quem deve ou não assinar o acordo sobre o fim das hostilidades, parece estar uma questão de falta de confiança mútua, do governo em particular.

O executivo defende que o cessar-fogo deve ser assinado pelo Presidente da República, Armando Guebuza, e pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama, como forma de dar maior legitimidade ao processo. “O ideal é que o acordo seja assinado num encontro ao mais alto nível, num acto solene, que possa ser assistido por todos, de forma a dar garantias ao processo e ao povo moçambicano. Contudo, em nome da cordialidade que tem caracterizado as sessões e aproximação que temos, vamos continuar a dialogar para encontrar a melhor maneira que conforte e dê segurança às partes”, sustentou Pacheco.

Confrontado com a possibilidade avançada pela Renamo de ter que enviar o expediente para que a parte que cabe a Dhlakama seja rubricada em separado, no local onde se encontra escondido, José Pacheco manifestou um claro cepticismo. “É uma linha que precisamos de aprofundar. É preciso evitarmos riscos”, disse o chefe de delegação do governo, José Pacheco, no final da 72ª ronda do diálogo político.

Apesar deste cepticismo, Pacheco assegurou que as partes estão a fazer um exercício com vista a encontrar a melhor forma de ultrapassar os entraves, na sequência desta nova proposta da Renamo. “O desafio é encontrar o cenário ideal para a homologação deste documento”, acrescentou Pacheco, face a outra proposta da Renamo, segundo a qual a delegação deste partido no diálogo poderia assinar o documento, tendo em conta que já recebeu ordens do seu líder.

Desde que o processo de diálogo político iniciou, há mais de ano e meio, o mesmo tem sido caracterizado (em termos quantitativos) por mais baixos que momentos altos.

Com excepção do mês de Julho e princípios de Agosto, que foram os mais produtivos, todos os anteriores foram, regra geral, caracterizados por impasses.

Desde a aprovação da Lei de Amnistia, as últimas rondas do diálogo têm sido improdutivas, esbarrando sempre no impasse sobre quem deve homologar o documento final. A próxima ronda negocial ainda não tem data confirmada, contudo, nela continuam depositadas todas as esperanças de que o cessar-fogo seja declarado e rubricado, restando saber em que modalidades vai acontecer.

O País (mz)

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