Filomeno
Manaças – Jornal de Angola, opinião
1.
O Festival Nacional de Cultura chegou ontem ao fim e este texto não podia
passar ao largo de um acontecimento de vulto como foi o movimento que ele
desencadeou em todo o país, com a mobilização de milhares de angolanos para a
celebração do renascimento que a nação está a conhecer.
A
cultura tem a força singular de reflectir o estado de alma das pessoas e de
pautar o momento psicológico de um país. O Fenacult encarregou-se de ser a
montra, e de forma muito eloquente, de todos os estados de alma dos angolanos,
da alegria que é ver o país a crescer e a desenvolver-se, do empenho de todos
em construir uma grande Angola.
O optimismo é a nossa imagem de marca e por isso este Fenacult não foi só cultura propriamente dita. Foi a cultura associada à paz que o país vive há 12 anos e que no campo social está a propiciar a reconstituição da alma angolana. O tecido social afectado pelo longo conflito militar está a recompor-se paulatinamente e de forma segura. Os avanços no plano económico infundem confiança no futuro. No campo político a democracia consolida-se com o passar dos anos. O momento psicológico do país é de construção e de ganhos sucessivos e por isso o estado de alma da nação não podia ser senão positivo.
O Fenacult é a celebração que queremos sempre presente, como factor de inclusão e convergência do muito que de positivo há nos angolanos. É o revigorar do espírito da angolanidade a uma dimensão envolvente e criativa, que permite a revisitação das nossas raízes culturais e a descoberta de novos valores. E saem a ganhar o país e o reforço da unidade nacional.
O Festival Nacional de Cultura chegou ao fim e este é o momento de balanço. Mais do que isso, é a altura certa de se começar a preparar já a próxima edição. Sei que haverá vozes que se levantarão a dizer que é muito cedo ainda. Mas é preciso dizer também que a excelência dos resultados é algo que se constrói com antecedência. Com a identificação das falhas e a planificação atempada de todas as acções. Este Fenacult foi um bom exercício nesse sentido, até porque a primeira edição foi há 25 anos e muita gente já nem sequer se lembrava de como foi organizado. O contexto político e económico, e até mesmo social, era completamente diferente. Foi em 1989. O país aprestava-se para conhecer mudanças políticas e económicas profundas que vieram consagrar o multipartidarismo e a abertura para a economia de mercado.
2. Contrariamente ao que foi inicialmente anunciado, o ébola é uma febre hemorrágica mortífera e está provado que tem cura. Felizmente assim é, mas infelizmente os medicamentos para a sua cura, porque entretanto ainda não certificados pela Organização Mundial de Saúde, não se encontram disponíveis em larga escala.
As notícias de pessoas que foram tratadas com os referidos medicamentos e conseguiram sobreviver vêem confirmar que os mesmos são potencialmente eficazes na reversão da infecção e, consequentemente, podem ajudar a combater o vírus do ébola com uma boa margem de sucesso e evitar a chacina que a epidemia está a provocar em África.
Oito medicamentos disponíveis e duas vacinas merecem a atenção da OMS. Mas foi a droga experimental ZMapp, usada com êxito em Atlanta, nos Estados Unidos, para curar dois norte-americanos, que começou por suscitar particular interesse a nível internacional, tendo em conta que testes subsequentes feitos com macacos infectados tiveram resultados positivos. A revelação de que outros países, como a Grã-Bretanha e o Japão, também tinham desenvolvido vacinas para combater o ébola, veio aumentar a esperança de se poder dar um combate mais eficaz à epidemia.
Apesar de serem boas as notícias que dão conta da existência dessa evolução no campo científico, todos os países que se situam em zonas de risco, como é o caso de Angola, estão proibidos de baixar a guarda no que diz respeito aos cuidados a ter em relação ao ébola e às medidas de prevenção a adoptar.
A palavra de ordem é “prevenção a 100 por cento”, até porque o ébola não é uma doença como a malária, que não é contagiosa, não se transmite através de fluidos corporais, não exige cuidados especiais e, embora também provoque milhares e milhares de vítimas, os fármacos para a sua cura podem ser facilmente encontrados nas farmácias porque estão certificados pela Organização Mundial de Saúde.
O ébola acaba por ser uma realidade que desperta a atenção dos países do continente africano para a necessidade de unirem esforços, no sentido de criarem laboratórios altamente especializados para pesquisas no campo da saúde destinadas a fazer face a situações do género.
O ébola pode ser apenas uma das doenças típicas das regiões afectadas que deve
ser estudada, não se descurando a hipótese de o reino animal esconder outras
com a mesma capacidade destrutiva que requeiram pesquisa permanente. Está na
hora de África dar a volta ao texto e assumir o compromisso de lidar de outra
maneira com a epidemia, pois as falhas nos sistemas de alerta e de saúde são
apontadas como dois dos factores que contribuíram para o elevado número de
mortes registadas até agora.
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