quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Ativista de Macau apresenta três queixas por abuso de poder das autoridades




Macau, China, 04 set (Lusa) - O ativista de Macau Jason Chao, promotor do referendo civil sobre o sufrágio universal, apresentou hoje três queixas ao Ministério Público por abuso de poder das autoridades.

Jason Chao acusou do Gabinete de Proteção de Dados Pessoais (GPDP), a Polícia de Segurança Pública (PSP) e a Polícia Judiciária (PJ) de abuso de poder com a finalidade de impedir o referendo civil, que terminou no dia 31 de agosto e pretendia apurar a opinião da população acerca da introdução de sufrágio universal para eleger o chefe do executivo.

"As autoridades abusaram do seu poder para impedir que o referendo acontecesse", afirmou Chao.

No dia em que o referendo foi lançado, a 24 de agosto, a PSP entregou aos promotores da iniciativa uma notificação do GPDP ordenando a suspensão da votação presencial, nas ruas, por considerar que a recolha dos dados dos Bilhetes de Identidade de Residente não era válida. Por não acatarem essa ordem, cinco ativistas foram detidos.

"Está claramente escrito na Lei da Proteção de Dados Pessoais que só precisamos da autorização dos cidadãos para processar os dados. Os cidadãos disponibilizaram os seus dados voluntariamente para votarem no referendo civil. É perfeitamente legal", afirmou o ativista.

Assim, Chao entendeu que "a ordem do GPDP proíbe indiretamente os cidadãos de darem voluntariamente os seus dados" e é por esse motivo que acusou o organismo público, em nome da Sociedade Aberta de Macau, uma das três promotoras do referendo civil, de abuso de poder.

No caso da PSP, a queixa prende-se com a atitude da força policial no dia de arranque do referendo civil. Os organizadores relataram que os agentes "importunaram" as pessoas que desejavam votar, pedindo, inclusive, o seu documento de identificação.

"Foi uma tentativa de pressão psicológica para impedir as pessoas de votar no referendo civil", criticou.

O ativista acusou também a Polícia Judiciária de abuso de poder. Atualmente, Chao está a ser investigado por desobediência qualificada por ter recolhido e processado os dados dos votantes do referendo civil, que alegou já ter destruído, e, juntamente com outros dois ativistas, por uso indevido do símbolo da PJ.

Chao é diretor da revista de sátira política Macau Concealers, que na passada sexta-feira publicou na sua página de Facebook uma imagem de confirmação de votação no referendo juntamente com um cartão de identificação da PJ - nesta apenas é identificável o logótipo da força policial.

Tanto Chao como o vice-diretor da revista e um estagiário foram levados para a PJ para inquérito e presentes ao Ministério Público, estando a ser investigados.

O ativista, que disse ter sido continuamente contactado pelas autoridades durante a última semana, referiu acreditar que se tratou de "uma maneira de interferir com o referendo civil".

Em 2012, Chao, então presidente da maior associação pró-democracia do território, a Novo Macau, organizou um inquérito sobre o método de eleição para a Assembleia Legislativa, recolhendo também dados pessoais, mas não enfrentou problemas.

"O GPDP não apresentou objeções. Ocupei o espaço público com mesas de voto. Em inglês também lhe chamei referendo mas em chinês chamou-se 'Votação de todos os cidadãos'", lembrou.

Apesar do comportamento das autoridades durante a votação para o referendo, o ativista disse acreditar que o Ministério Público vai conduzir "uma investigação de acordo com a lei".

ISG // VM - Lusa

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