Umberto
Martins, São Paulo - Correio do Brasil, opinião
A
crescente identificação de Marina Silva como a candidata dos banqueiros e
do sistema financeiro tem muito a ver com a reversão da tendência de seu
crescimento nas intenções de voto constatada pelas últimas pesquisas de
opinião, que sinalizam avanço e vitória de Dilma no primeiro turno e empate
técnico no segundo.
Marina e
Cia procuram negar as evidências de suas ligações perigosas com os banqueiros.
Mas, neste caso, é como tentar tapar o sol com peneira. Sua principal assessora
de campanha, a mulher que coordenou o seu controvertido programa de governo, é
da família Setúbal, que comanda o Itaú Unibanco, maior banco privado
brasileiro.
Maria
Alice Setúbal, a Neca, não é uma educadora qualquer como querem fazer crer. Ela
contribuiu com a bagatela de dois milhões de reais para a campanha política.
Que outra educadora teria cacife para tanto? É a terceira maior doadora do
país. Ela é irmã de Roberto Setúbal, presidente do Itaú, que recentemente fez
um discurso apaixonado em defesa de Marina.
Eles
lucram com a crise
É
bem verdade que os interesses fundamentais dos banqueiros não foram colocados
em xeque por Lula ou por Dilma. Em nenhum momento da história recente eles
deixaram de lucrar, e de fato lucraram muito ao longo dos últimos anos. Nos
marcos do capitalismo neoliberal, eles lucram em qualquer tempo ou lugar, faça
chuva ou faça sol, independentemente das fases do ciclo de produção. Lucram nos
momentos de crescimento e lucram ainda mais quando a economia vai mal,
estagnada, em processo de desindustrialização ou em recessão.
Mesmo
quando as coisas ficam difíceis para eles (como na crise financeira detonada
pelos EUA em 2008, após a quebra do Lehman Brothers em 15 de setembro), governo
e bancos centrais dão um jeito de socorrê-los a pretexto de que são “grandes
demais para falir”, embora a solução justa seja a nacionalização e a
estatização do sistema.
Trilhões
de dólares foram gastos pelos EUA e União Europeia para livrar os banqueiros da
crise que eles próprios provocaram. Os parasitas continuaram acumulando lucros
astronômicos e a conta do resgate, remetida aos contribuintes em geral, vem
sendo paga principalmente pela classe trabalhadora, que amarga o desemprego em
massa, despejos, arrocho dos salários e a degradação dos serviços púbicos pelas
políticas de ajuste fiscal, privatizações e Estado mínimo.
Não
é de estranhar que a corja esteja acumulando lucro também nos governos Lula e
Dilma. Mas o fato é que não gostou quando a presidenta ousou confrontar seus
interesses usando os bancos públicos para forçar a redução das taxas de juros e
da lucratividade. A oligarquia financeira sabe que tem muito mais a lucrar se
conseguir impedir a reeleição e entronizar no Palácio do Planalto alguém
completamente subserviente aos seus interesses e ideologia. Este alguém hoje
tem nome: é Marina Silva.
Recessão,
desemprego e terceirização
Quem
frequenta bancos logo vê que banqueiros não são do tipo que se deixam levar por
nobres sentimentos, orientam-se antes pelos próprios interesses e podemos
apostar que estão apoiando quem vai lhes proporcionar mais lucros e poder. O
debate em torno do programa e compromissos das candidatas mais competitivas à
Presidência é revelador a este respeito.
A
plataforma e os compromissos que Marina tem assumido publicamente são como
poesia e música para os ouvidos dos banqueiros. Destacam-se:
A
promessa de ajuste fiscal, uma receita aplicada em muitos países da Europa sob
a tutela do FMI, Banco Central Europeu e União Europeia, a troica, cujo
objetivo é resguardar o pagamento das dívidas públicas e os interesses dos
banqueiros e grandes capitalistas, à custa da estagnação econômica, desemprego
em massa e desmantelamento do chamado Estado de bem-estar social. É o que os
mercados financeiros, respaldados pela mídia golpista, exigem;
Rigor
na aplicação do tripé neoliberal que orienta a política macroeconômica: juros altos,
câmbio flutuante e superávit fiscal primário, responsáveis pelo fraco
desempenho da economia nos últimos anos;
Independência
do Banco Central. Significa entregar a política monetária e cambial ao comando
direto dos banqueiros. Os dirigentes dessas instituições, recrutados no próprio
mercado financeiro, favorecem os bancos em detrimento dos interesses da
sociedade, conforme o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz.
(www.vermelho.org.br/noticia/249452)
Redução
dos espaços e enfraquecimento dos bancos públicos, tendo por contrapartida o
fortalecimento dos bancos privados, o que certamente vai abrir caminho para a
privatização do Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal;
Fim
do crédito direcionado, pelo qual uma parte dos depósitos bancários é destinada
obrigatoriamente ao financiamento de projetos com cunho social, como é o caso
do Minha Casa, Minha Vida. Com Marina os depósitos serão investidos segundo os
interesses e a vontade dos banqueiros, cuja propensão à especulação dispensa
maiores comentários;
A
terceirização generalizada com que Marina acena em seu programa também é um
interesse muito forte que os banqueiros compartilham com outros grandes
capitalistas em praticamente todos os setores e ramos da economia nacional.
A
candidata da coligação liderada pelo PSB defende outras medidas que vão ao
encontro do que pensam e desejam as forças conservadoras, o obscurantismo
religioso, o imperialismo, a direita neoliberal, que agora enxerga nela a
possibilidade de retomar a Presidência da República.
Do
ponto de vista de classes, as promessas de Marina correspondem aos interesses
dos banqueiros, bem como da elite empresarial, que constituem uma ínfima
minoria da sociedade brasileira, embora poderosos (pois o capital, como notou
Marx, é poder social concentrado) e responsáveis pelo financiamento das
campanhas políticas. Para a classe trabalhadora e a esmagadora maioria do povo
brasileiro, em contraposição, é um risco de grave retrocesso com repercussão
negativa em todo o mundo e especialmente na América Latina.
Apesar
do fraco desempenho da indústria e do PIB, exaustivamente explorado pela mídia,
o Brasil não está em crise e o povo sente e sabe disto. A crise para o povo,
que em sua maioria é constituída pela classe trabalhadora, se traduz em
desemprego, arrocho dos salários, degradação dos serviços públicos, mal estar
social. Não é o que se vê hoje no Brasil.
A
crise viria com Marina, se a candidata dos banqueiros chegasse lá, pois todos
os caminhos que propõe apontam para a recessão, o desemprego e cortes drásticos
nos investimentos públicos, ressuscitando a desacreditada política do Estado
mínimo. Não creio que isto venha a ocorrer, mas não devemos subestimar o
inimigo de classes nem medir esforços para lhe impor uma nova derrota nas
urnas.
Umberto
Martins, é jornalista
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