segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O CAVACO MORREU



Mário Motta, Lisboa

A miséria em Portugal encontra-se em qualquer canto do país, talvez seja mais notório em Lisboa e noutras grandes cidades. “Temos de empobrecer”, disse Pedro Passos Coelho logo a seguir a ser empossado como primeiro-ministro. Poucos dias depois de em campanha eleitoral ter afirmado o contrário, inclusive que não aumentava impostos, como o IVA. Desde que se apossou do cargo de PM que tem vindo a semear a pobreza, a miséria. Cúmplices: Cavaco Silva e Paulo Portas, assim como os deputados PSD/CDS que asseguram a maioria parlamentar de atropelos – se possível inconstitucionais.

“Vivemos acima das nossas possibilidades”, também o disse Passos Coelho. Atirando culpas para os portugueses que já então se deparavam com dificuldades. Denodadamente tudo fez para culpabilizar os portugueses comuns acerca do descalabro a que as finanças e a economia de Portugal chegaram, deixando de parte os que viveram e vivem à bruta, à grande e sem restrições – caso dele – por regra geral serem os tais das elites – popularmente conhecidos por corruptos, políticos, grandes empresários, banqueiros, ladrões, chulos, parasitas, salafrários e etc.

Sim. Eles, e os das negociatas com os políticos, levaram Portugal a gastar acima das suas possibilidades. Encheram-se e enchem-se com os dinheiros públicos. Roubam, literalmente, o que a todos pertence. Impunes. E assim continuam e vão continuar caso os portugueses não se decidam a pôr cobro a tais desmandos destas nefastas elites.

Na verdade tudo se conjugou para que a crise estalasse quando Cavaco Silva ocupa a Presidência da República e os partidos da direita portuguesa e europeia assumissem os poderes. Na União Europeia existe uma direita fascizante a governar, Cavaco assumiu o seu saudosismo salazarista e abençoou conivente o seu delfim de ocasião, Passos Coelho, do PSD, eleito com base em mentiras que imediatamente o denunciaram como um farsante de dimensões descomunais ao serviço do grande capital.

Nestas circunstâncias não admira que a pobreza aumentasse exponencialmente em Portugal. A fome mostrou-se. Os sem-abrigo têm vindo a aumentar, as famílias sem casa caíram nas ruas ou em casa de familiares e amigos.

Homens e mulheres de família conheceram a falência à velocidade da luz. Sem empresa, sem trabalho. A seguir sem casa (que era dos bancos)… Quase tudo era (e é) dos bancos. Daqueles que fizeram desaparecer milhões nos offshores ou onde melhor aprouveram e que também vêm declarando “insuficiências económicas” a que os contribuintes atendem e custeiam por decisão do governo e de seu cúmplice Cavaco.

Um sem-abrigo, antes empresário (2010), viu a sua vida descarregada nessa crise, nessa miséria. Era um pequeno-médio empresário. Era.

Ele dizia chamar-se Cavaco mas não Aníbal, nem Silva, porque esse, alapado em Belém, governa-se muito bem à custa dos contribuintes e de favores de banqueiros e outros amigalhaços. Favores com favores se pagam. Até assim é na máfia, segundo os filmes e livros que lemos.

Este Cavaco morava num banco de jardim de Lisboa, habitualmente. Adoeceu, foi levado para o hospital já nas últimas de vida... e morreu. Um outro sem-abrigo seu vizinho anunciou a desgraça, pesaroso. Matutando que muito provavelmente será o que lhe vai acontecer nesta vida, cidade e país que tão mal trata os seus cidadãos, condenando-os a vulnerabilidades associadas à pobreza e à miséria.

O Cavaco era uma pessoa culta mas de poucas palavras. "Alguém que vivia bem", como ele dizia. Mas a crise causada e abençoada pelos do grande capital derrubou aquele Cavaco até o despojar de tudo, menos da miséria para que o atirou.

Entretanto, os políticos, o governo e o outro Cavaco em Belém satisfazem as suas ganâncias com as migalhas que o grande capital lhes proporciona.

Ao Bom Cavaco: o repouso eterno. Aos outros: o inferno.

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