quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Portugal: ALTERNATIVA É PODER VOTAR ENTRE PASSOS E COSTA



Daniel Deusdado – Jornal de Notícias, opinião

Um dilúvio não torna António Costa pior presidente de Câmara, futuro primeiro-ministro ou líder do PS. Choveu em Lisboa e ele não estava lá. E se estivesse? Essa novela é irrelevante vista daqui a um mês, quanto mais no quadro da importantíssima legislatura 2015-2019. O futuro tem desafios de dimensão tal que concentrarmo-nos nos fait-divers é alinhar na mesquinhez do entretenimento político. E há inúmeras razões para que Costa tome conta do PS em vez de António José Seguro.

1. De substancial é preciso dizer que António Costa é melhor candidato contra Passos Coelho que António José Seguro. Costa tem um perfil radicalmente diferente (para além das ideias) que o atual primeiro-ministro. Por sua vez, Seguro é o mesmo jovem líder de uma juventude partidária a chegar ao poder com escassíssima experiência profissional fora de uma estufa partidária ou de uma empresa de gente amiga. Costa tem um trajeto consistente e traz eleitores diferentes a votar - e isso é bom para a democracia.

2. António Costa bem tentou não pôr Seguro fora dali. Foi preciso paciência e lealdade (e não calculismo cínico) para não avançar na noite de janeiro de 2013, depois de toda a gente ter percebido à exaustão que Seguro não era alternativa para ninguém: nem para os portugueses que nunca lhe deram maioria nas sondagens no pior momento Passos-Portas, nem para Cavaco (quando Portas se demitiu), nem nas autárquicas, nem mesmo nesse voto de protesto por excelência chamado europeias. Infelizmente Seguro falhou em todos os "test-drives" face ao que se lhe exigia - vitórias esmagadoras. Mas contentou-se com o básico: estar lá, a ganhar por meio a zero, ao mais infeliz Governo das duas últimas décadas. Ora, não basta querer, é preciso ter algo mais.

3. António Costa evitou sempre dizer a Seguro nos debates uma coisa simples e básica: "Tó-Zé, faz qualquer coisa relevante e depois volta para liderar". Dar umas aulas na universidade, de vez em quando em parceria com Miguel Relvas, não chega. Ter sido um vago secretário de Estado de Guterres é pouco. Ter praticado com profissionalismo o caciquismo jotinha é mínimo. Pois é, leal Seguro: muita palavra, pouca uva. Mas talvez o senhor esteja convencido de que levar a manipulação das bases do partido ao grau de excelência seja currículo; e a ajudá-lo, nunca se sabe do que é capaz a máquina basista do PSD - incluindo subscrever falsamente os princípios do PS e ir votar no "Seguro de vida de Passos". Por isso esta eleição de domingo não é o mero espelho de uma sondagem sobre debates na televisão ou intenções de voto de gente que não vota - e onde Costa ganha sempre. É mais complexa. Representa o estado da arte do sistema político. E até por isso seria bom que António Costa ganhasse. Talvez se pudesse confiar a seguir que os militantes, e outros cidadãos, estão prontos para escolher líderes partidários sem manipulações de secretaria ou batotas ideológicas dos seus adversários.

4. Seguro e Costa são muito diferentes nos argumentos contra o PSD-CDS? Obviamente não. Fazer-se desta campanha interna um momento de clarificação dos "argumentos e medidas" de Governo, diferenciadores entre os dois, é como pedir a José Mourinho que discuta com o seu adjunto na televisão a táctica para vencer o adversário, na véspera de uma final, e este revele em direto todos os pontos fracos da equipa. Mas foi isto que Seguro quis e conseguiu: fragilizar brutalmente a credibilidade pessoal do seu adversário de circunstância, mesmo que isso signifique para o PS perder as eleições legislativas que se seguem. Terra queimada. Até nisso as noções de lealdade de Seguro estão trocadas. A sua lealdade com o partido que lhe deu uma oportunidade é escassa e pessoal. Como facilmente se percebe, é face a Passos Coelho que Costa (ou Seguro) têm de fazer propostas claras ao eleitorado. Não hoje, a um ano de distância, num momento em que o Governo já promete descer os impostos em ano eleitoral e com isso pode baralhar todas as contas do défice de 2015 para quem chegar ao poder.

5. No domingo haverá resultados. Espero que não ganhe o Santana Lopes do PS.

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