Paulo
Baldaia – Diário de Notícias, opinião
Os
ministros da Justiça e da Educação pediram desculpa aos portugueses, mas o que
estavam a fazer era a pedir desculpa ao partido. Curvaram-se perante os
militantes e dirigentes, bem sabendo que as trapalhadas técnicas prejudicam a
campanha que está em curso, desde que Passos Coelho, prometendo não voltar a
mexer em medidas chumbadas pelo Constitucional, anunciou ter desistido de
governar. Se verdadeiramente quisessem pedir desculpa aos portugueses tinham
vários problemas estruturais pelos quais se penitenciar.
No
caso da Justiça, existe até a desculpa de que é preciso esperar algum tempo
para perceber se as várias reformas vão mudar o estado calamitoso em que ela
ainda se encontra. Veremos se algum dia deixará de existir a justiça dos ricos
e a justiça dos pobres que a todos prejudica, perdida na eternidade dos
processos. Não se procure tapar o sol com uma peneira à custa de umas
condenações a ex-poderosos.
No
caso da Educação, a insensibilidade social deste ministro na forma como gere o
ensino especial é que arrepia. Nunca vi igual. São quase 50 mil crianças com
necessidades especiais, tratadas como mera estatística, olhadas como ricas por
causa dos parcos rendimentos dos familiares directos, vítimas de um
desinvestimento que remete para a velha lógica em que se ensinava o custo de
cada aluno, demonstrando matematicamente que um bom aluno era mais barato do
que um mau aluno e que um aluno com deficiência era mais caro do que o bom e o
mau juntos.
Não
é aceitável ficar calado depois de ver reportagens consecutivas (honra seja
feita ao serviço público da RTP) sobre alunos com necessidades especiais e por
quem o Estado perde o interesse. É aqui que reside a política. Gerir a vontade
dos lóbis, sejam sindicatos ou ensino privado, é coisa que qualquer um pode fazer.
Fácil também é pedir desculpa. Difícil é ocupar a cadeira do poder para
defender os mais fracos, mesmo que isso não renda um único voto.
Desculpe,
senhor ministro, não o conheço pessoalmente e posso até estar a ser injusto
consigo face ao esforço que faz para gerir esse ministério. A verdade é que
nunca senti tanta incompetência social na tutela da Educação, como agora. Há
mais política na ajuda a quem tem necessidades especiais do que na revolução
contabilística que julga estar a fazer na escola pública. Evite as desculpas,
dê mais atenção às crianças que precisam do apoio de todos nós. Se não for por
elas, para que serve o Estado? Para que serve ser ministro?
Leia
mais em Diário de Notícias
"Aumentar
salsicha educativa" não aumentou qualidade – Passos Coelho
Sem comentários:
Enviar um comentário