Rita
Tavares – jornal i
Costa
fintou os incómodos. Apontou às legislativas, mas a primeira decisão é interna:
novo líder para a bancada parlamentar (o principal foco de oposição interna a
Seguro nestes três anos)
A
convicção da vitória que rodeou o núcleo de António Costa na campanha das
primárias encenou a timidez na noite eleitoral. Demorou a compor a sala,
demorou a disparar os números esmagadores, os gritos de "vitória" e
só à última mostrou que tinha na manga uma sala maior preparada para o grand
finale. Bem diferente da velocidade a que, logo de seguida, António Costa
rematou a vitória, em oito minutos a olhar para as legislativas e onde o
ex-líder do PS, António José Seguro não mereceu uma vírgula.
Houve
tempo para agradecer ao mandatário nacional, Carlos César, à director da
campanha, Ana Catarina Mendes, aos mandatários distritais, aos militantes e
simpatizantes, a família e ainda ao presidente da Comissão Eleitoral das
primárias, Jorge Coelho. Não houve um segundo para Seguro. Aqui, o mais longe
que Costa conseguiu ir foi quando disse que "estas eleições não foram a
derrota de ninguém, mas a vitória de todos os militantes e simpatizantes do
PS". A sala aplaudiu e Costa passou à deixa que se segue: "Iniciámos
uma nova etapa." Ou "cumprirmos hoje a primeira etapa", a outra
forma que o candidato do PS a primeiro-ministro usou para se lançar ao desafio
seguinte, as legislativas do próximo ano. Mas neste ponto trazia, mais, tinha
um soundbyte alinhado: "Este é o primeiro dia de uma nova maioria de
governo. Este é o primeiro dos últimos do actual governo."
Um
ex-líder ausente no discurso, outro ausente da sala. José Sócrates, confesso
apoiante de António Costa, não apareceu numa única iniciativa de campanha das
primárias ao lado do autarca socialista e, ontem à noite, também não esteve na
sala (e por aquela hora já não estava no comentário em directo na RTP). Ainda
assim, na sala de apoiantes de Costa as figuras dessa era multiplicavam-se. Um
exemplo? Mário Lino, ex-ministro de Sócrates, publicamente desaparecido desde
que saiu de funções.
PRIMEIRA
DECISÃO No curto discurso, Costa preferiu concentrar-se nos pontos
positivos e na "mobilização" que acredita mostrar a "vontade
nacional", a "força na vontade de mudança", de ver o "PS
reacender a esperança, ser a energia mobilizadora". Um conjunto de frases
com que assume a nova condição, a de candidato a primeiro-ministro do PS, mas a
que somou já ontem a que se perspectiva: a do próximo líder socialista. A primeira
tarefa será unir a bancada parlamentar, que António José Seguro herdou da era
Sócrates e que nunca conseguiu controlar. E, já para começar, escolher um novo
líder, depois da demissão de Alberto Martins, anunciada ontem e logo comunicada
ao vencedor das primárias socialistas. Quem se segue? Jorge Lacão, Ana Catarina
Mendes, outro nome? No Fórum Lisboa (sede da Assembleia Municipal do
município), onde os costistas se juntaram para a noite eleitoral, o círculo
mais próximo não arriscava palpites.
Um
dos focos de animação mais visível era precisamente um grupo de deputados que
marcou, pela oposição mais marcada dentro da bancada, alguns dos momentos mais
tensos para a direcção de Seguro. Num canto da sala, João Galamba, Pedro Nuno
Santos e Pedro Delgado Alves (que chegaram a ser apelidados de "jovens
turcos"), saltavam abraçados, também com Duarte Cordeiro, que saiu da
Assembleia da República nas últimas autárquicas para assumir um lugar de
vereador no executivo camarário de António Costa.
Manuel
Alegre, Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso, Fernando Medina (o número dois na
Câmara), Ana Paula Vitorino, Eduardo Cabrita, Idália Serrão. Alguns os
"ex-tudo", como descrevia um apoiante de António Costa, voltaram para
a tal "nova etapa" que Costa inaugurou ontem.
Foto:
José Fernandes
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