segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Portugal: PS UNE-SE EM TORNO DE COSTA PARA CONQUISTAR O PODER



Rita Tavares – jornal i

Costa fintou os incómodos. Apontou às legislativas, mas a primeira decisão é interna: novo líder para a bancada parlamentar (o principal foco de oposição interna a Seguro nestes três anos)

A convicção da vitória que rodeou o núcleo de António Costa na campanha das primárias encenou a timidez na noite eleitoral. Demorou a compor a sala, demorou a disparar os números esmagadores, os gritos de "vitória" e só à última mostrou que tinha na manga uma sala maior preparada para o grand finale. Bem diferente da velocidade a que, logo de seguida, António Costa rematou a vitória, em oito minutos a olhar para as legislativas e onde o ex-líder do PS, António José Seguro não mereceu uma vírgula.

Houve tempo para agradecer ao mandatário nacional, Carlos César, à director da campanha, Ana Catarina Mendes, aos mandatários distritais, aos militantes e simpatizantes, a família e ainda ao presidente da Comissão Eleitoral das primárias, Jorge Coelho. Não houve um segundo para Seguro. Aqui, o mais longe que Costa conseguiu ir foi quando disse que "estas eleições não foram a derrota de ninguém, mas a vitória de todos os militantes e simpatizantes do PS". A sala aplaudiu e Costa passou à deixa que se segue: "Iniciámos uma nova etapa." Ou "cumprirmos hoje a primeira etapa", a outra forma que o candidato do PS a primeiro-ministro usou para se lançar ao desafio seguinte, as legislativas do próximo ano. Mas neste ponto trazia, mais, tinha um soundbyte alinhado: "Este é o primeiro dia de uma nova maioria de governo. Este é o primeiro dos últimos do actual governo."

Um ex-líder ausente no discurso, outro ausente da sala. José Sócrates, confesso apoiante de António Costa, não apareceu numa única iniciativa de campanha das primárias ao lado do autarca socialista e, ontem à noite, também não esteve na sala (e por aquela hora já não estava no comentário em directo na RTP). Ainda assim, na sala de apoiantes de Costa as figuras dessa era multiplicavam-se. Um exemplo? Mário Lino, ex-ministro de Sócrates, publicamente desaparecido desde que saiu de funções.

PRIMEIRA DECISÃO No curto discurso, Costa preferiu concentrar-se nos pontos positivos e na "mobilização" que acredita mostrar a "vontade nacional", a "força na vontade de mudança", de ver o "PS reacender a esperança, ser a energia mobilizadora". Um conjunto de frases com que assume a nova condição, a de candidato a primeiro-ministro do PS, mas a que somou já ontem a que se perspectiva: a do próximo líder socialista. A primeira tarefa será unir a bancada parlamentar, que António José Seguro herdou da era Sócrates e que nunca conseguiu controlar. E, já para começar, escolher um novo líder, depois da demissão de Alberto Martins, anunciada ontem e logo comunicada ao vencedor das primárias socialistas. Quem se segue? Jorge Lacão, Ana Catarina Mendes, outro nome? No Fórum Lisboa (sede da Assembleia Municipal do município), onde os costistas se juntaram para a noite eleitoral, o círculo mais próximo não arriscava palpites.

Um dos focos de animação mais visível era precisamente um grupo de deputados que marcou, pela oposição mais marcada dentro da bancada, alguns dos momentos mais tensos para a direcção de Seguro. Num canto da sala, João Galamba, Pedro Nuno Santos e Pedro Delgado Alves (que chegaram a ser apelidados de "jovens turcos"), saltavam abraçados, também com Duarte Cordeiro, que saiu da Assembleia da República nas últimas autárquicas para assumir um lugar de vereador no executivo camarário de António Costa.

Manuel Alegre, Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso, Fernando Medina (o número dois na Câmara), Ana Paula Vitorino, Eduardo Cabrita, Idália Serrão. Alguns os "ex-tudo", como descrevia um apoiante de António Costa, voltaram para a tal "nova etapa" que Costa inaugurou ontem.

Foto: José Fernandes

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