Mário
Soares – Diário de Notícias, opinião
Em
julho último vim para o Algarve por indicação do meu médico, para descansar
depois de uma atividade exaustiva que tive desde as comemorações do
quadragésimo aniversário do 25 de Abril, em que participei ativamente, como se
viu .
Nos
meses que se seguiram fui muito solicitado para participar em variadíssimas
sessões de norte a sul do País, o que exigiu de mim um esforço enorme, embora
extremamente agradável.
Decidi
então não escrever senão excecionalmente. E pedi escusa ao Diário de Notícias
para só retomar a minha colaboração com os artigos semanais depois do começo de
setembro. É o que agora volto a fazer.
Desgraçado
país o nosso. Tudo vai mal, pior do que nunca. O Governo está paralisado há
muito tempo e ninguém se entende na coligação. O primeiro-ministro praticamente
não fala com o vice-primeiro-ministro. São linguagens diferentes. Basta
ouvi-los.
Nestes
três anos Portugal foi destruído. O Estado social está a desaparecer, bem como
o Serviço Nacional de Saúde. A Justiça deixou de funcionar. Muitos tribunais
foram fechados sem se saber porquê. A ministra paralisou a Justiça. Nada
funciona. As universidades estão sem dinheiro. A classe médica está
insatis-feita e sem condições de trabalho. A pobreza generalizou-se por todas
as profissões. À exceção dos membros do Governo e seus apaniguados, cada vez
mais. O dinheiro público serviu agora para comprar automóveis novos destinados
não só aos ministros como aos secretários de Estado e a demais funcionários.
Pelo
contrário, a pobreza é cada vez maior e os portugueses continuam a emigrar. A
classe média praticamente desapareceu. As nossas melhores cabeças, cientistas, escritores, académicos, artistas, tiveram de emigrar ou sujeitar--se a
uma evidente pobreza. Os próprios militares, por mais graduados que sejam, vivem
com imensas dificuldades, como se sabe pelos protestos que têm feito
publicamente.
Será
que um tal Governo, cujos elementos não podem sair sequer à rua sem serem
vaiados, poderá durar muito mais tempo? E subsistir até às eleições que estão à
porta? Francamente, não creio. O mais provável é que saiam de repente do País,
quando menos se espera... Por isso digo que este mês de setembro vai dar muito
que falar...
Mas
há mais. É verdade que o Presidente da República não fala. Praticamente nada. E
quando o faz diz coisas sem sentido. Um exemplo: nunca se lhe ouviu uma palavra
sobre o caso do BES. É o máximo. Nem sequer quanto aos seus amigos, como o
presidente do Banco de Portugal, bem como ao seu amigo, membro do Conselho de
Estado, e agora tão maltratado, Vítor Bento.
Para
que serve um Presidente da República que não fala e que é como se não
existisse? Está de resto próximo de deixar de ter poder.
No
entanto, quando o primeiro-ministro se atreveu a criticá-lo por o Presidente da
República, ao que parecia, não ter feito perguntas, veio logo ao seu encontro
dizer que afinal não havia problema nenhum. Governo e Presidente estão sempre
no melhor dos mundos. Mas por quanto tempo? Não parece que seja por muito.
Por
isso escrevo, com plena consciência, que este mês de setembro vai ficar célebre
por ter muito que contar. E nada de bom nem para o Governo nem para o
Presidente.
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