Alberto
Castro - Afropress
Londres -
José Filomeno dos Santos, presidente do conselho de administração do Fundo
Soberano de Angola (FSDEA), e filho do presidente angolano, visto por alguns
observadores como seu possível herdeiro no poder, foi o entrevistado do
programa de televisão da BBC Mundo, ''Focus on Africa'', ontem, 10/09.
Questionado
por Peter Okwoche, co-produtor e apresentador do programa, sobre críticas
internas vindas de setores da sociedade angolana relacionadas à falta de
investimentos em infraestruturas prometidas quando da criação do fundo, "Zénu",
como também é conhecido, defendeu que os ''investimentos em infraestruturas
comerciais levam algum tempo a instalar'' e que ''os projetos têm de ser
gerados, estudados, ganhar viabilidade técnica e financeira por parte de
especialistas que entendam da área e que compreendam se o mesmo pode ser
implementado num dado local”. “Tudo isso tem de ser feito antes que a estrutura
do capital e a concessão do projeto seja determinada'', frisou.
Numa
linha hardtalk (conversa dura na tradução livre para o português),
nome de um conhecido programa de entrevistas da BBC onde os convidados são
colocados perante questões difíceis, o jornalista confrontou depois o
entrevistado com perguntas de índole pessoal.
Começou
por questioná-lo sobre as razões que levaram o seu pai, o presidente José
Eduardo dos Santos, a escolhê-lo para a chefia do Fundo.
“Como
se sentiu com essa escolha?”, perguntou Okwoche: ''Como angolano, óbviamente,
me senti como tendo uma oportunidade para contribuir em direção ao melhoramento
do meu país, de contribuir para melhorar a vida das pessoas ao gerar reservas
adicionais que o Estado pode usar em futuros programas. Eu senti a escolha como
tendo sido uma oportunidade'', respondeu.
Conversa
dura
“Você entende que as pessoas dentro e fora de Angola questionam a sua escolha. Porque teria de ser você? Sua irmã já é a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes, e seu irmão dirige a maior empresa de entretenimentos no país. Não está Angola a ser governada como um negócio de família?”, interpelou frontalmente o apresentador.
“Você entende que as pessoas dentro e fora de Angola questionam a sua escolha. Porque teria de ser você? Sua irmã já é a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes, e seu irmão dirige a maior empresa de entretenimentos no país. Não está Angola a ser governada como um negócio de família?”, interpelou frontalmente o apresentador.
''O
país tem várias instituições. Temos tribunais, parlamento e existem várias
instituições soberanas e atores do setor do Estado ativos no país. Se você
olhar as coisas nesta perspectiva compreenderá que o fato de eu ter assumido um
papel numa instituição estatal não significa que esse papel seja apenas para
pessoas da família do chefe de Estado. É para pessoas que sejam capazes de
administrar essas instituições de forma a que as mesmas atinjam os seus
objetivos'', justificou-se o jovem gestor.
“Mas
você acha que é a pessoa melhor posicionada para liderar esse Fundo?”,
insistiu o jornalista. A resposta foi breve e veio no plural: ''Acredito que
estamos a fazer um bom trabalho. Criamos um Fundo que há três anos não
existia''.
Numa
última pergunta, o apresentador ainda provocou: “Como jovem você já chegou bem
longe. O que vem a seguir? Algumas pessoas acreditam que você está sendo
preparado para ser o próximo presidente de Angola”. ''Isso não está nos meus
planos. Meus planos estão no Fundo Soberano e em assegurar que essa instituição
se mantenha com sucesso'', contornou "Zénu" na conclusão da
entrevista.
Segundo
a BBC, o Governo angolano anunciou ter identificado investimentos diretos na
África sub-sahariana e está disposto a investir até um terço do Fundo
Soberano de US$ 5 bilhões (R$ 11,4 bilhões) para começar a desenvolvê-los.
O
Fundo (FSDEA) foi criado em 2012 pelo presidente José Eduardo dos Santos, do
MPLA, partido no poder desde 1.975, para investir as riquezas geradas pelo
petróleo "na promoção do crescimento, da prosperidade e do desenvolvimento
sócioeconômico” e com a promessa de garantia de renda às gerações
futuras".
Veja
o vídeo com a entrevista em inglês: http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-29149952
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