domingo, 26 de outubro de 2014

Angola: UM PAÍS QUE SEMPRE FOI RICO



Filomeno Manaças – Jornal de Angola, opinião

1. A bem dizer a diversificação da economia angolana já começou faz uns bons anos. Angola não esperou que os preços do petróleo começassem a descer no mercado internacional, se fixassem agora abaixo dos 100 dólares, para se lançar no programa de diversificação da sua economia.

O fim da guerra foi tão somente o marco esperado para arregaçar as mangas, procurar pôr em marcha o que ela paralisou e fazer surgir novos projectos económicos.

Angola sempre foi um país rico e com vários produtos de exportação. Por isso é que era considerada a “jóia” da então potência colonial. O petróleo, os diamantes, o café, o algodão, o granito, o sisal, enfim, havia todo um conjunto de produtos da terra e do mar que eram explorados e que durante largos e largos anos engordaram os cofres da metrópole colonial.

Com a conquista da independência muitas fábricas paralisaram, porque o país ficou sem quadros para gerir os empreendimentos. Formar quadros era a tarefa imediata que se impunha para um país novíssimo no concerto das nações, cuja soberania começou a ser posta em causa muito antes mesmo da independência ser proclamada, com a invasão ao nosso território de tropas sul-africanas apoiadas por forças zairenses e mercenários de várias origens.

O resto é a história que todos sabemos, de cor e salteado, e que foi protelando a pretensão de Angola ser um país economicamente forte.  Mas essa esperança nunca morreu. Sempre esteve presente nos discursos do Presidente Agostinho Neto, o qual, além de ter lançado outras máximas que ainda hoje se mantêm actuais, pela pertinência e alcance político que encerram, não perdia a oportunidade de lembrar, nos comícios, que “a agricultura é a base e a indústria o factor decisivo”.

Palavras de outros tempos que não perderam valor. Pois é da necessidade de diversificação da economia que já se falava, por via da transformação da agricultura como um sector de peso na economia e, por conseguinte, no Produto Interno Bruto, e sobretudo como forte contribuinte para a industrialização do país.

Retomando o  mote que abre as portas a esta prosa, em consciência e como programa de Governo, e, portanto, como projecto político, a diversificação da economia sempre foi encarada como um objectivo estratégico a ser alcançado, indispensável ao reforço da soberania do país nas suas diferentes vertentes. E ela deve ser vista nas componentes política, económica, militar, institucional, enfim, uma multiplicidade de campos em que ela se desdobra mas formando, em cada segmento, uma estrutura forte, robusta, que interligada às demais permite melhor defender os interesses do país.

A guerra adiou esse projecto, mas ele aí está, a renascer, com toda a pujança. Em vários domínios já se pode falar com propriedade e dizer, sem medo de errar, que dentro de dez anos Angola vai ser um outro país em termos de produção. Os vastos sectores agro-pecuário, das minas, das pescas, da agricultura, etc., têm vindo a apresentar índices de produção que não deixam dúvidas sobre o seu potencial de crescimento, e até mesmo de modernização, que podem levar o país a registar  resulatdos fantásticos no combate à fome e à pobreza. Por conseguinte, com reflexos no Índice de Desenvolvimento Humano.

2. O Brasil vai hoje a votos depois de uma campanha eleitoral renhida para a segunda volta das presidenciais, em que os debates entre a candidata Dilma Rousseff, do Partido Trabalhista, e Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira, fizeram a temperatura política no país subir, tendo-se mesmo registado episódios de agressões físicas entre partidários de uma e outra formação política.

Desde já uma nota negativa, mas demonstrativa da forma como certos sectores da população se envolveram de tal modo na defesa dos seus emblemas políticos. Porém, o mais importante é que não passaram disso mesmo (de episódios), e o Brasil inteiro vai hoje, de forma serena, tranquila e em consciência, escolher entre Dilma e Aécio quem deverá ser o novo Presidente da República. Apesar de na primeira volta Aécio Neves ter protagonizado uma recuperação surpreendente, batendo Marina Silva e qualificando-se, assim, para disputar a segunda volta com Dilma Rousseff, o que lhe deu novo fôlego político, a verdade é que as chances de a Presidente cessante ser reeleita tornaram-se mais firmes na recta final da campanha eleitoral. Por um lado, com a entrada em cena do ex-Presidente Lula da Silva, o qual com o seu capital político travou em muitas praças eleitorais o ascendente de Aécio Neves, e, por outro, pelo facto de Dilma Rousseff ter procurado ser mais incisiva e assertiva nas críticas ao seu adversário nos pontos em que, no passado, os políticos do PSDB mais falharam em termos de governação. Entre esses pontos sensíveis, figuram as problemáticas da criação de mais empregos, do combate às assimetrias e valorização social das populações mais desfavorecidas, da melhoria do salário mínimo e a promoção do desenvolvimento regional.

Apesar de Aécio Neves se ter agarrado ao escândalo da corrupção na Petrobras, cuja investigação está entretanto em curso, não foi suficiente para levar Dilma Rousseff ao tapete. Os contra-ataques da Presidente cessante, acusando o PSDB de, enquanto poder, ter mandado arquivar mais de 200 processos de investigação por corrupção, de ela não ter impedido ou ocultado no seu mandato a averiguação de qualquer um, reforçaram a sua imagem de figura descomprometida com o fenómeno.

Este facto, somado aos incontestáveis resultados obtidos pelo PT em três mandatos na Presidência do Brasil, dão a Dilma Rousseff boas chances de ser reeleita, embora com números que poderão não estar muito distanciados dos do seu oponente. A história seria outra, é óbvio, se a selecção brasileira tivesse ganho o Campeonato do Mundo de Futebol ou se, pelo menos, se tivesse classificado em segundo lugar. É indiscutível o impacto que o futebol pode ter na política. Extasiada com um possível bom desempenho, a população brasileira, que tem no futebol o seu principal desporto, estaria ainda hoje a viver os louros e a tecer loas aos atletas e ao treinador. O desporto tem essa magia, a de fazer esquecer até momentos mais tristes e de colocar uma nação inteira, durante um bom período de tempo, em estado de exaltação. Dilma Rousseff vai ter de se contentar com a colheita.

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