Estatal
e aeroporto construído na fazenda de tio de Aécio voltam a ser alvos de
crítica. Dilma afirma que PT mudou lógica do PSDB de "fingir que
investiga, mas não pune", e tucano recrimina "ataques violentos e
cruéis".
A
corrupção foi, mais uma vez, um dos temas centrais do debate entre candidatos à
Presidência, transmitido pela TV Bandeirantes nesta terça-feira (14/10), a 12
dias do segundo turno. Aécio Neves (PSDB) usou a Petrobras para atacar Dilma
Rousseff (PT), enquanto a presidente acusou as administrações tucanas de não
punirem envolvidos em corrupção.
"Eu
vi apenas um momento de indignação da candidata, quando houve o vazamento. Não
vi a mesma indignação sobre o conteúdo dos vazamentos", disse Aécio,
referindo-se aos escândalos envolvendo a Petrobras.
O
candidato perguntou quais teriam sido os "bons serviços prestados"
por Paulo Roberto Costa – elogios que estariam na ata de reunião do conselho da
Petrobras, em que foi decidida a saída do ex-diretor da estatal.
Dilma
respondeu que a sua indignação era a "mesma de todos os brasileiros".
"Considero fundamental que saibamos tudo sobre essa operação Lava
Jato", disse, referindo-se à operação da Polícia Federal que investiga o
pagamento de propinas a partir de negócios firmados pela Petrobras.
A
presidente defendeu a punição de corruptos e destacou leis contra a corrupção
aprovadas em sua administração. "Duas leis aprovadas no meu governo dão
base para esse processo de investigação da Petrobras. A lei que dá
independência ao delegado e a que regulamentou a delação premiada",
afirmou.
Em
seguida, Dilma mencionou uma série de escândalos de corrupção ligados ao PSDB e
disse que o PT havia mudado "essa lógica de fingir que investiga, mas não
pune".
"Além
disso, eu me pergunto, onde estão todos os envolvidos no caso Sivam? Todos
soltos. E na compra de votos da reeleição? Todos soltos. Pasta Rosa? Todos
soltos. Mensalão tucano-mineiro? Todos soltos. Envolvidos nas compras de metrôs
e trens em São Paulo ?
Soltos. Não quero isso, candidato. Quero os culpados presos. É essa indignação
que o senhor não enxerga", respondeu.
Na
réplica, Aécio afirmou que a petista "compara coisas diferentes" e
insistiu na gravidade do caso Petrobras. "Ao contrário do que a senhora
diz, ele [Paulo Roberto Costa] não foi demitido. Ele renunciou."
Dilma
disse que, na época, o conselho da estatal não tinha conhecimento da conduta do
ex-diretor. "O conselho da Petrobras, do qual eu não participava, não
sabia dos fatos. Os fatos estão saindo graças à investigação realizada no meu
governo."
Aeroporto
e nepotismo
A
petista também questionou o adversário sobre o aeroporto construído em Cláudio,
Minas Gerais, na fazenda de um tio de Aécio. "Não acho isso nada moral,
nem ético", provocou.
Aécio
acusou Dilma de ser "leviana" e disse que o Ministério Público havia
atestado a regularidade da obra. A presidente lembrou que o caso estava sendo
investigado como improbidade administrativa, isto é, mau uso dos recursos
públicos.
"Hoje,
no Brasil, é proibido o nepotismo, o emprego de familiares no governo. O senhor
tem uma irmã, um tio, três primos e três primas no governo. Pode olhar no
governo federal que não vai achar um parente meu", prosseguiu Dilma.
Em
resposta, Aécio criticou a campanha da petista e a acusou de promover mentiras.
"A senhora tem a obrigação de dizer onde a minha irmã trabalha. A sua
propaganda é só mentira, não pode ser esse vale tudo. Eleve o nível desse
debate. Eu não respondo a nenhum processo, ao contrário do seu governo, que
virou um mar de lama", retrucou.
O
tucano disse que, durante a campanha, eleitores lhe pediram para "libertar
o povo do governo do PT".
Mentiras
e Bolsa Família
Em
diversos momentos do debate, os candidatos se acusaram de mentir e se colocaram
como os detentores da verdade.
Uma
das discussões mais acirradas foi sobre a paternidade do Bolsa Família. Aécio
defendeu que o programa foi uma evolução de projetos do PSDB. "Se pegarmos
o DNA do Bolsa Família, o pai será o presidente FHC e a mãe será Ruth
Cardoso", disse.
Dilma
afirmou que o PSDB nunca havia investido recursos em grandes programas sociais. "O povo brasileiro jamais vai acreditar nessa história. O senhor me desculpe,
aí passou de todos os limites, chegamos à fabulação, nós estamos no perigoso
terreno da lenda", retrucou.
Aécio
voltou a criticar a campanha de Dilma. "Foi assim com Eduardo Campos, com
Marina, e tem sido assim comigo. A senhora não se arrepende de ter feito uma
campanha com ataques tão violentos e cruéis?"
A
candidata à reeleição rebateu: "Eu acho que quem faz ataques cruéis é o
senhor. Acho que o senhor distorce todos os fatos e a realidade".
Governo
em Minas Gerais
Dilma
também tentou desconstruir o governo de Aécio em Minas Gerais ,
apontando problemas na gestão do tucano. Logo no primeiro bloco, a petista
acusou o ex-governador de "desviar" 7,6 bilhões de reais que iriam
para a saúde.
Dilma
disse que o governo tucano não cumpriu o investimento mínimo na área previsto
por lei – de 12% do orçamento. "Candidata, lamento que a senhora esteja
desinformada. Todas as nossas contas foram aprovadas pelo TCU [Tribunal de
Contas da União], inclusive as da saúde", retrucou Aécio.
A
petista também criticou o serviço do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Samu) em Minas Gerais.
"É o estado com o terceiro pior desempenho do país", citou. Aécio
respondeu que Minas tinha a melhor saúde do sudeste.
As
políticas de educação e segurança no estado também foram debatidas. Dilma
acusou Aécio de ter "o pior índice de solução de inquéritos".
Aécio
ironizou a petista: "Apesar de muito confusa a sua pergunta, eu vou tentar
responder". O tucano afirmou que, durante o seu governo, os homicídios
tinham diminuído. "Confuso é o senhor", rebateu Dilma, citando a
origem dos dados sobre a violência.
As
eleições atuais também foram discutidas, com a atual presidente afirmando que
Aécio havia perdido em seu estado no primeiro turno, e o tucano destacando
estar na frente da petista nas pesquisas. Ele também ressaltou os 92% de
aprovação de seu governo em
Minas Gerais.
"Candidato,
você não pode usar as pesquisas para contrariar os resultados das urnas. Você
perdeu as eleições em
Minas Gerais. E , por ter perdido, foi mal avaliado",
respondeu Dilma.
Economia
e apoios
Outro
assunto que dominou o debate foi economia. Dilma exaltou a geração de empregos
e a valorização dos salários em seu governo. Aécio, por sua vez, criticou a
inflação.
"Acho
que o povo brasileiro tem que ter muito medo, porque está em jogo ter ou não
emprego", disse Dilma.
"A
senhora volta com o discurso do medo. Há medo que o PT governe por mais quatro
anos. País que não cresce não gera emprego. É o pior desempenho da indústria
dos últimos 50 anos", respondeu o tucano.
Nas
considerações finais, Aécio mencionou os apoios que recebeu na semana passada.
"Várias forças políticas extremamente importantes se somaram a nós,
agradeço a cada uma delas, na figura de dois companheiros aqui presentes, Beto
Albuquerque, candidato a vice de Marina Silva, e Walter Feldmann, [porta-voz]
da Rede".
Ele
agradeceu o apoio da viúva do ex-candidato Eduardo Campos, morto em acidente
aéreo em agosto. "A você, Renata Campos, eu quero agradecer a singeleza, a
forma extremamente leve e corajosa com que manifestou apoio a nossa
candidatura."
Por
fim, mencionou Marina Silva (PSB). A ex-candidata, que ficou em terceiro lugar
no primeiro turno, anunciou recentemente o apoio ao tucano. "E a você,
Marina, tenha absoluta certeza de que saberei, a cada dia dos próximos quatro
anos, se vier a ser o Presidente da República, honrar cada um dos compromissos
que juntos assumimos."
Marina
Estarque, de São Paulo – Deutsche Welle
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