Macau,
China, 16 out (Lusa) - A Novo Macau, a maior associação pró-democracia do
território, pediu hoje, à porta da Assembleia Legislativa (AL), o início da
reforma política, aproveitando o momento de debate desencadeado pelos protestos
em Hong Kong.
No
dia em que se realizou a primeira sessão legislativa depois das férias, o
presidente da associação, Sulu Sou, e outros membros da direção entregaram
panfletos aos deputados onde se podia ler "Avancem com a reforma política,
lutem por sufrágio universal", uma frase que também estava escrita nos
chapéus de chuva amarelos colocados nos degraus da assembleia, símbolo dos
protestos pró-democráticos em
Hong Kong.
"Estamos
a aproveitar o início da sessão da Assembleia para pedir aos deputados que
pensem na reforma política. É o momento certo para os lembrar disso.
Aproveitando que em Hong
Kong vai começar uma consulta pública [sobre o tema], achamos
que Macau devia fazer o mesmo", disse Jason Chao, dirigente da Associação
Novo Macau (ANM) e organizador do referendo civil em agosto, que se propôs
avaliar a opinião da população sobre a eleição do Chefe do Executivo por
sufrágio universal.
O
ativista prometeu que a associação vai continuar a insistir neste referendo e
já encomendou, por exemplo, um inquérito ao Programa de Opinião de Pública da
Universidade de Hong Kong sobre "a atitude dos cidadãos acerca da
composição da AL e sobre a eleição do chefe do Executivo por sufrágio
universal".
Os
resultados deste inquérito são esperados para dezembro.
O
método de protesto utilizado na região vizinha não está a ser equacionado, por
considerarem que "a ocupação de espaços públicos não ia conseguir apoio
popular em Macau".
A
direção da ANM conta com os dois deputados da associação, Ng Kuok Cheong e Au
Kam San, para desencadearem debate dentro da assembleia.
A
reforma política é um dos poucos assuntos em que os veteranos da associação e
os membros mais jovens, que hoje lideram a ANM, estão a trabalhar juntos.
Esta
semana, os deputados anunciaram que iriam separar-se da associação - mantêm-se
como membros, mas o seu escritório deixa de ser na sede da Novo Macau. Segundo
o Jornal Tribuna de Macau, Ng Kuok Cheong e Au Kam San pretendem ainda reduzir
o apoio financeiro que há mais de 20 anos cedem à ANM e que inclui 20% do seu
salário.
Jason
Chao, que assumiu a presidência entre 2010 e julho deste ano, lembrou que no
passado "não havia distinção" entre a associação e os deputados.
"Era
mais um clube de fãs, tinha apenas um papel de apoio aos deputados. Mas desde
que me tornei presidente que o nosso envolvimento em assuntos políticos e
sociais se tornou mais óbvio. No passado, todas as questões políticas eram
lideradas pelos deputados, mas isso mudou", defende.
A
distância entre os membros veteranos e a ala mais jovem tem-se vindo a acentuar
ao longo dos anos e foi agravada com a perda de um deputado nas eleições para a
AL de 2013 - a associação optou por concorrer com três listas, ao invés das
habituais duas, por vontade da ala jovem, e acabou por obter resultados menos
favoráveis.
Os
membros discordam sobre as estratégias a adotar - os jovens são mais adeptos do
protesto nas ruas e ações mais ousadas - e sobre os temas sobre os quais se
devem debruçar.
"Podemos
verificar algumas disputas em assuntos políticos, direitos LGBT [Lésbicas,
Gays, Bissexuais e Transexuais], direitos dos trabalhadores não-residentes,
etc. Nestes assuntos em particular não partilho da visão dos deputados",
defende Jason Chao.
Apesar
das divergências, que vêm dividir a base do campo democrático de Macau, o
ativista vê estes desenvolvimentos como "algo normal" e afasta
consequências negativas para o movimento.
ISG
// PJA - Lusa
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