terça-feira, 21 de outubro de 2014

CHINA TEME OS POBRES. DEMOCRACIA DE SERRAR PRESUNTO PARA LAVAR E DURAR




Estudantes e governo reúnem hoje pela primeira vez

21 de Outubro de 2014, 14:04

Hong Kong, China, 21 out (Lusa) -- Estudantes e responsáveis do governo de Hong Kong reúnem hoje pela primeira vez depois de mais de três semanas de protestos pró-democracia, marcando o início de um diálogo que poucos acreditam poder pôr fim à atual crise.

As mais recentes declarações do chefe do Executivo da Região Administrativa Especial chinesa, Leung Chun-ying ou CY Leung, de que eleições totalmente livres seriam impossíveis e permitiriam aos mais desfavorecidos dominar o processo eleitoral não parecem satisfazer as exigências dos manifestantes.

Desde 28 de setembro, data para a qual foi antecipada a campanha para reclamar a instauração de um verdadeiro sufrágio universal, a vida quotidiana na antiga colónia britânica tem sido perturbada, com os manifestantes a ocuparem algumas das principais artérias da cidade, incluindo a zona junto à sede de governo, em Admiralty, e o distrito de Mong Kong, na península de Kowloon, onde têm sido registados atos de violência e cargas policiais.

Os manifestantes reivindicam a demissão de CY Leung e a instauração do pleno sufrágio universal no território semiautónomo, que vive a mais grave crise política desde a transferência de soberania para a China, em 1997.

A China aceitou o princípio do sufrágio universal para a eleição do próximo chefe do Executivo em 2017, mas só depois de os candidatos serem pré-selecionados por um comité eleitoral que controla as candidaturas.

O encontro entre governo e estudantes para debater a reforma constitucional está agendado para a noite de hoje. Mas poucos observadores estimam que Pequim, que receia o contágio democrático a outras regiões do país, ceda um milímetro na questão.

"Estou bastante preocupada", disse à AFP, Claudia Mo, deputada pró-democrata. "Se (o debate) se tornar num espetáculo político, num circo político com animais políticos, as pessoas vão dizer que é preciso voltar a sair à rua".

"As pessoas não estão otimistas", disse o analista político e militante pró-democracia Joseph Cheng. "Ninguém do campo pró-democrata espera que Pequim faça a menor concessão", acrescentou.

A situação poderá piorar, considerou Surya Dev, professor de Direito na City University de Hong Kong. "Como é que as pessoas de Hong Kong podem acreditar num Estado de Direito se não há nenhuma esperança de autonomia política e económica?"

Nas duas primeiras semanas de protestos, após o uso pela polícia de gás lacrimogéneo contra os manifestantes, a mobilização pró-democracia foi amplamente pacífica. Mas as tensões aumentaram entretanto e recrudesceram nos últimos dias quando a polícia desbloqueou algumas vias de circulação.

Os manifestantes continuam a ocupar a zona comercial de Causeway Bay, e Admiralty, junto ao governo e parlamento, mas perderam parte do terreno reconquistado em Mong Kok, distrito da Península de Kowloon que tem sido palco de confrontos.

Numa entrevista ao Wall Street Journal e ao New York Times, cujo conteúdo foi tornado público poucas horas antes do início das negociações com os estudantes, o chefe do Executivo de Hong Kong estimou que as livres candidaturas não eram realizáveis em Hong Kong.

Se fosse esse o caso, defendeu, o processo eleitoral seria dominado pelos mais pobres.

Não obstante, sustentou que as negociações podem prolongar-se: "Uma série de negociações poderá não ser suficiente para resolver todos os problemas, mas poder ter discussões constitui um bom ponto de partida".

Os manifestantes, muito jovens na sua maioria, estão preocupados quanto ao futuro político mas também económico, numa altura em que crescem as desigualdades sociais na antiga colónia britânica.

Quase 20% dos sete milhões de habitantes de Hong Kong, o equivalente a 1,31 milhões de pessoas, vivem abaixo do limiar da pobreza, segundo dados oficiais.

FV // FV.

Os mais pobres dominariam o voto em caso de eleições livres - CY Leung

21 de Outubro de 2014, 12:44

Hong Kong, China, 21 out (Lusa) -- A possibilidade de os residente da antiga colónia britânica elegerem livremente os seus dirigentes permitiria aos mais pobres dominarem o processo eleitoral, deu a entender o chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, segundo notícias publicadas hoje na imprensa internacional.

Numa entrevista de que fazem eco os jornais Wall Street Journal e o New York Times, Leung Chung-ying, também conhecido por CY leung, considerou novamente que seria impossível organizar eleições livres em Hong Kong.

As declarações de CY Leung são publicadas poucas horas antes de responsáveis do governo de Hong Kong e líderes estudantis reunirem pela primeira vez após mais de três semanas de protestos pró-democracia nas ruas de Hong Kong.

"Se é uma questão de jogo de números e de representação numérica, obviamente que estamos a falar de metade da população de Hong Kong que tem um vencimento inferior ao equivalente a 1.400 euros mensais. Então teríamos de acabar com esse tipo de políticos e políticas", disse.

As declarações de CY Leung estão de acordo com as palavras de Wang Zhenmin, diretor da faculdade de Direito na Universidade Qinghua, na capital chinesa, e consultor regular de Pequim nas questões de Hong Kong.

Wang Zhenmin disse em agosto que uma maior liberdade democrática em Hong Kong tem de ser equilibrada com a elite empresarial de Hong Kong que deve partilhar a sua "fatia do bolo" com os eleitores.

"A comunidade empresarial é na realidade um pequeno grupo de elites que controla os destinos da economia em Hong Kong. Se ignorarmos os seus interesses, o capitalismo em Hong Kong vai parar (de trabalhar)", assinalou Wang Zhenmin.

Na segunda-feira, o Supremo Tribunal da Região Administrativa Especial chinesa de Hong Kong emitiu uma medida cautelar que proíbe a ocupação do distrito de Mong Kok, um dos locais dos protestos pró-democracia, iniciados há 24 dias.

A ordem judicial foi tomada na sequência de queixas interpostas por operadores de transportes públicos de Hong Kong para que as ruas, que foram tomadas pelos manifestantes, recuperem a normalidade.

As manifestações pró-democracia em Hong Kong, que visam a aceitação por Pequim de eleições diretas sem qualquer seleção dos candidatos a chefe do Executivo em 2017, constituem um dos maiores desafios para a China desde as manifestações de 1989 em Tiananmen, que terminaram com a entrada das tropas chinesas na praça e um número desconhecido de vítimas.

CY Leung disse ainda que Hong Kong tem alguma "sorte" por Pequim ainda não ter sentido a necessidade de intervir no caso.

JCS (PSP/ CRS) // FV.

ONG denunciam à ONU abusos sexuais durante os protestos

21 de Outubro de 2014, 20:35

Hong Kong, China, 21 out (Lusa) -- Oito organizações não-governamentais (ONG) de Hong Kong denunciaram na segunda-feira casos de abuso de mulheres durante os protestos pró-democracia, numa reunião com representantes das Nações Unidas, noticiou hoje a imprensa.

"O direito das mulheres de participar no movimento social é ameaçado pela violência, que é tolerada pela polícia", disse Kwok Kachai da Coligação das Mulheres para Igualdade de Oportunidades e da Associação para o Desenvolvimento do Feminismo, citada pelo South China Morning Post.

Os representantes das ONG falaram durante uma apresentação sobre os direitos das mulheres em Hong Kong, num encontro com o Comité para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres, em Genebra.

Kwok Kachai disse ainda que "várias mulheres manifestantes foram vítimas de abusos sexuais e ameaçadas por bandidos, no entanto alguns relatos mostram que a polícia libertou alegados agressores e foi insensível ao género quando lidou com manifestantes mulheres".

Na quinta-feira, o comité das Nações Unidas vai avaliar o relatório da China (incluindo Hong Kong e Macau) sobre a aplicação da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, tal como os relatórios entregues por ONG.

ISG // VM

Executivo de Hong Kong diz estar disponível para prosseguir diálogo com manifestantes

21 de Outubro de 2014, 22:38

Hong Kong, 21 out (Lusa) -- O governo de Hong Kong manifestou disponibilidade para prosseguir as conversações com os dirigentes do protesto pró-democracia, após as primeiras negociações formais de hoje entre responsáveis governamentais e líderes estudantis.

"O diálogo será certamente o primeiro de diversas rondas de conversações", sugeriu em conferência de imprensa Carrie Lam, a vice-chefe do Executivo da Região Especial Administrativa Chinesa, após uma reunião de duas horas com líderes estudantis.

Lam, que definiu o diálogo como "construtivo", referiu no entanto que a firme posição do governo consiste em seguir a insistência da China em selecionar os candidatos à liderança do executivo local por um comité pró-Pequim.

Se os estudantes não aceitarem esta posição, receio que vamos continuar a manter perspetivas diferentes", disse.

O governo de Hong Kong e representantes do movimento pró-democracia iniciaram na tarde de hoje um diálogo difícil após mais de três semanas de manifestações que têm perturbado o funcionamento da megalópole chinesa.

O encontro, transmitido em direto pelas televisões locais, decorreu numa pequena sala da faculdade de medicina, na presença de cinco delegados estudantis e cinco representantes do executivo, incluindo Lam.

Na origem do movimento de protesto em Hong Kong está a decisão de Pequim de conceder à população da antiga colónia britânica a possibilidade de, em 2017, eleger diretamente o seu líder de Governo, num processo que, no entanto, estará limitado à escolha prévia dos candidatos por um comité eleitoral que Pequim acaba por controlar.

Os manifestantes não aceitam a posição política de Pequim e querem escolher livremente o seu líder sem entraves nem escolhas prévias dos candidatos.

PCR // APN

*Título PG

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