Luís
Rosa – jornal i, editorial
Carlos
Costa confiou em
Ricardo Salgado na questão das rectificações de IRS e voltou
a fazê-lo em Dezembro de 2013. Fez mal, como já saberá
Tal
como no caso do Banco Português de Negócios, o papel da supervisão do Banco de
Portugal no BESgate volta a estar sob intenso escrutínio de forma justificada -
e será esse um dos principais temas das audições da comissão parlamentar de
inquérito (CPI) que se iniciará em
breve. Do mesmo modo que com Vítor Constâncio, o governador
Carlos Costa será um dos protagonistas dos trabalhos. Se o CDS se concentrou em
escrutinar o então líder do Banco de Portugal, agora será a vez de o PS tentar
fazer o mesmo em relação ao actual governador. O deputado João Galamba
arrisca-se a ser a estrela, como Nuno Melo foi da anterior CPI.
As
perguntas essenciais em relação ao Banco de Portugal serão duas: será que o
regulador do sector bancário devia ter afastado mais cedo Ricardo Salgado e a
família Espírito Santo da liderança do BES? Uma intervenção dura do Banco de
Portugal poderia ter evitado ou diminuído a dimensão do resgate de 4,9 mil
milhões de euros de Agosto?
São
perguntas de resposta ainda difícil. É importante, contudo, que os deputados
não esqueçam várias questões essenciais. Em primeiro lugar, a forma como o
Banco de Portugal de Vítor Constâncio olhava a supervisão bancária nada tem a
ver com a actual. De um laxismo total e absoluto passamos para uma supervisão proactiva
- muito promovida, é certo, pelo Banco Central Europeu depois da falência do
Lehman Brothers, em 2008. A
principal prova de que a supervisão foi proactiva é que os primeiros problemas
do Grupo Espírito Santo (GES) foram detectados pelo Banco de Portugal em
Setembro de 2013 com auditorias intrusivas à área não financeira do GES. Foi
nessa altura que se detectou um endividamento de 6 mil milhões de euros e um
buraco de 1,3 mil milhões de euros na Espírito Santo International (ESI), uma
das principais sociedades do GES.
O
problema está no tempo que o BdP demorou a agir. Os novos dados da investigação
do i ao caso BES, que pode ler nas páginas ao lado, lançam uma nova
luz sobre a intervenção do Banco de Portugal. É que depois da auditoria de
Setembro o Banco de Portugal detectou de facto um risco de insolvência da ESI
que afectaria sempre de forma grave as contas do BES - o que deveria bastar
para ligar as sirenes vermelhas na Rua do Ouro. O papel comercial da ESI que o
BES tinha vendido aos clientes com a garantia do banco já preocupava o
regulador, mas em vez de uma posição inflexível na constituição de uma conta à
ordem onde estivessem os cerca de 1,7 mil milhões de euros para cobrir o papel
comercial emitido pela ESI, o Banco de Portugal começou a negociar com Salgado
e restante família Espírito Santo e acabou por ceder. Cedeu mas nem assim
Ricardo Salgado conseguiu cumprir as suas obrigações. Só em Março foi
constituída uma provisão, de 700 milhões de euros, para fazer frente ao
problema do papel comercial da ESI.
Como
já acontecera em Janeiro de 2013 com a questão das rectificações de IRS de 8,5
milhões de euros, que o i noticiou em exclusivo, Carlos Costa
acreditou em
Ricardo Salgado. Do mesmo modo que poderia ter retirado a
idoneidade ao banqueiro obrigando-o a sair de cena, também em Dezembro poderia
ter sido inflexível. A principal crítica que se pode fazer ao governador é
precisamente esta: ter confiado em Ricardo Salgado. Fez
mal, como decerto já saberá.
Na
foto: Ricardo Salgado/BES
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