sábado, 18 de outubro de 2014

PR Cabo Verde critica “notória falta de esforço” para a instalação do Tribunal Constitucional




O Presidente da República lançou esta sexta-feira um “veemente” apelo para que as leis da República sejam cumpridas, especialmente a Constituição, em alusão directa aos sucessivos adiamentos da instalação do Tribunal Constitucional. Nas palavras de Jorge Carlos Fonseca, a falta de instalação desse Tribunal está a constituir um factor de bloqueio ao sistema de administração da justiça e emperrando todo o sistema.

No seu discurso de abertura do Ano Judicial 2014-15, no Palácio da Justiça, da Praia, o Chefe de Estado chamou a atenção para o que ele qualificou de permanente e preocupante imagem de violação da Constituição, com os seus efeitos perversos na cultura da legalidade.

“Não faz sentido aprovar-se a Constituição da República e leis estruturantes em matéria de justiça que exigem maiorias reforçadas, compromissos políticos delicados, para, de seguida, não serem cumpridas, iniciando-se discussões fora da sede sobre a bondade das soluções adoptadas, enquanto não são cumpridas”.

Neste contexto Jorge Carlos Fonseca frisou que não existe qualquer outro caminho que não seja cumprir a Constituição.

As mesmas considerações foram feitas pelo Chefe de Estado a respeito da lei orgânica do Ministério Público, e ao não cumprimento do comando constitucional em matéria de instalação dos tribunais de segunda instância, que impunha um prazo de três anos.

“Mais de quatro anos volvidos, a instalação ainda está por se fazer e nem existem sinais claros sobre uma data para pôr fim ao incumprimento constitucional. Os efeitos negativos sobre o sistema têm-se feito sentir. Temos hoje muitos juízes com emprego, mas sem trabalho, e ansiosos por trabalhar. Querem exercer as funções previstas nas leis e para as quais foram investidos no cargo, mas estão impossibilitados de o fazer”, notou.

Jorge Carlos Fonseca absteve-se este ano de entrar nos meandros da morosidade da justiça que na sua opinião não conheceu qualquer melhoria significativa, mas aproveitou para chamar a atenção da nossa justiça aos sinais de corrupção. 

“A nossa justiça tem de estar muito atenta aos fenómenos da corrupção e tem de os enfrentar com coragem, com isenção e independência. A corrupção mina o Estado, a confiança dos cidadãos e das empresas, pelo que é desastroso para o desenvolvimento económico, para a afirmação das instituições democráticas e para a coesão social.”

“O aproveitamento de situação de vantagem dada pelo cargo para obtenção de outras vantagens ilícitas, em detrimento do Estado e ou de terceiros, ou mesmo para proteger a própria corrupção, é crime grave e que importa combater com todas forças. Aqui também se trata de ganhar uma batalha para a legitimidade moral para perseguição criminal de todos outros delitos”, ressaltou.

Na sua intervenção Jorge Carlos Fonseca chamou a atenção para a necessidade da defesa dos princípios do Estado de direito Democrático, sobretudo nos momentos de grande comoção social.

Neste contexto desaconselhou a política de legislar à “ flor da pele”, sob a pressão de acontecimentos imediatos e geradores de forte emotividade.

“É necessário resistir à tentação da fuga em frente para a lei para enfrentar situações complexas da vida social. Isso só leva, na maior parte das vezes, a produzir leis desnecessárias, inúteis, quando não leis... sobrepostas, leis já existentes, em vez executar medidas concretas com base em legislação já existente”, considerou.

No combate ao crime, desde a pequena até ao chamado crime organizado, Jorge Carlos Fonseca apelou para determinação, inteligência e cooperação entre as várias polícias, e também para a necessidade de alocação de mais meios técnicos e científicos, recursos humanos suficientes e capacitados e um bom sistema de informação.

“Esse é um combate que temos de ganhar todos sob pena de ficarmos reféns do crime e seus agentes e organizações. Por isso, Todos nós temos o dever de contribuir para que tais requisitos e exigências sejam progressivamente obtidos e sempre actualizados”.

No final do seu discurso o Presidente da República apelou o governo a alargar o acesso gratuito dos cidadãos ao Boletim Oficial electrónico, justificando que “conhecer o direito é essencial para a preservação do princípio da legalidade e da segurança jurídica, exigências de um regime de liberdade”.   

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