Reginaldo
Silva – Rede Angola, opinião
Já
há muitos anos que não víamos o Governo entrar e sair da Assembleia Nacional
com um OGE aprovado, tão pouco consistente com a realidade que se anuncia para
os primeiros meses do novo ano.
Efectivamente
2015 já nos está a bater à porta, quando pouco mais de duas semanas nos separam
do inicio do próximo exercício fiscal que de facto pode vir a entrar para a
história, como tendo sido um dos mais complicados de todos os tempos.
O
“mais” aqui deve ser devidamente destacado e valorizado para se perceber bem do
que estamos a falar.
Isto
porque, os exercícios anteriores, mesmos aqueles que têm sido feitos em tempos
de “vacas gordas”, com o preço do barril bem lá em cima, nunca foram pacíficos
do ponto de vista das queixas, reclamações e críticas, com a dívida pública
sempre a subir.
Em
abono da verdade, mesmo quando o pão abunda, Angola é sempre a imagem daquela
casa onde todos continuam a ralhar, restando apenas saber quem é que tem razão,
sobretudo quando a maka se instala entre devedores e credores.
Curiosamente
é nestas alturas de abundância, que, proporcionalmente, mais queixas se ouvem
nos bastidores, onde se movimentam os protagonistas de uma estranha peça
teatral, na qual os credores por vezes viram devedores.
Pelo
que consta, os primeiros são mesmo obrigados pelos segundos a pagar uma “taxa
de circulação” negociada na hora, se quiserem ser ressarcidos o mais
rapidamente possível.
É
pegar ou largar!
Qualquer
coincidência desta peça com a realidade pode ser a mais pura verdade, pelo que
também todos os anos ouvimos aqueles sintomáticos apelos a uma gestão mais
transparente e parcimoniosa do erário, dirigida especialmente aos gestores e
aos decisores.
São,
claramente, apelos que nos fazem lembrar um bocado a pretensão de se ensinar o
“padre nosso ao Vigário”.
Este
ano, por força da conjuntura, o referido apelo ainda está a ser mais audível e
visível, ao ponto do representante da Fazenda Nacional ter colocado num sitio
que todos consultam um “sério aviso à navegação”.
As
aspas nesta seriedade compreendem-se facilmente, pois o gato escaldado até da
água fria tem medo.
Imaginemos
pois o que será a execução deste próximo OGE que entrou para a secretaria da Assembleia
com o barril a 80 e saiu de lá, com ele já a valer mais ou menos 60, que é o
preço negociado nesta altura para a vendas a serem feitas em Fevereiro de 2015.
Mesmo
assim e com toda a gente a saber que a tendência do mercado era exactamente
essa, isto é, para o completo afundanço, o OGE tal como entrou, saiu – incólume
e intocável.
Ninguém
na soberana Assembleia conseguiu mexer numa só vírgula dos seus triliões e das
suas projecções, com a magnitude do défice e do endividamento a chamar a
atenção dos mais atentos pelas suas consequências.
Esta
realidade que não é de hoje nem de ontem, que já é mais ou menos histórica,
levou um dos deputados da Oposição a socorrer-se da sua veia humorística para
se interrogar sobre qual é coisa qual é ela que sai sempre tal como entra.
A
resposta dada pelo mesmo parlamentar foi o OGE angolano, embora lá fora também
aconteça a mesma coisa, sempre que os governos tenham a confortável maioria
absoluta.
Por
isso é que os partidos que querem governar estão sempre a pedi-la, a tal
maioria, para depois quando estiverem no “poleiro”, não terem de fazer novas
contas à proposta inicial, o que é sempre uma grande “chatice”.
Em
tempo de Natal, há talvez ainda que acreditar em milagres, época propícia para
se dar largas a este tipo de fé mais cristã, em que agora todos os conhecidos
ateus de um passado recente, dos tempos do materialismo histórico, se
converteram, depois de terem andado uns largos anos a ler e a tentar aplicar
outras cartilhas mais “científicas”.
Foi
com esta fé natalícia na imprevisibilidade/generosidade do mercado
internacional, que a maioria absoluta viabilizou o OGE-2015, tal como ele
entrou, sem lhe mexer praticamente em nada.
Como
sempre se tem feito, e para não dizerem que o Parlamento é apenas um corredor
por onde o Governo passa sem olhar para o lado, lá foram aprovadas mais algumas
dezenas de recomendações, não nos tendo sido possível saber em concreto se as
outras do debate anterior vêm ou não reflectidas no OGE que acaba de ser
adoptado.
Temos
assim o país com um Orçamento algo mágico, pois diante dos factos e das
tendências, só mesmo outras artes menos objectivas poderão fazer-nos acreditar
na possibilidade do mesmo vir a ser executado tal como ele está desenhado.
Seja
como for, e continuando a acreditar nesta possibilidade, achamos que é altura
do principal “prestidigitador” responsável por este envelope pensar em tirar da
cartola alguns “coelhos” que não são assim tão mágicos, pois eles têm uma
existência real.
Estamos
a falar do dinheiro público que anda por aí a passear-se em vários fundos
soberanos ou não, incluindo os da segurança social.
Com
estes “coelhos” fora da cartola, já acredito um pouco mais na possibilidade de
virmos a ter um exercício fiscal menos complicado.
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