O
líder da RENAMO avisa que a população exigirá um referendo para dividir o país
se o Governo da FRELIMO continuar a rejeitar a criação de um Governo de gestão.
Mas para o partido no poder, este é um caso encerrado.
"Eu
chamaria a atenção da FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique, no poder]
para não tentar formar Governo à força. Porque vai haver violência e
desobediência", avisou esta quarta-feira (10.12) o líder da Resistência
Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, numa entrevista à agência de
notícias Lusa, em Maputo. "A FRELIMO vai querer mandar disparar, usar
polícia, e a RENAMO não vai deixar as populações serem massacradas. Nessa
batalha iremos voluntariamente entrar, e ao entrarmos nisto, pronto, estragou-se".
Esta
quinta-feira, Dhlakama seguiu novamente para o norte de Moçambique, desta vez
para a província do Niassa, onde também vai falar ao seu eleitorado sobre a sua
proposta de criar um Governo de gestão.
A
RENAMO rejeita os resultados das eleições de 15 de outubro por considerar o
processo fraudulento, dizendo que é o legítimo vencedor do escrutínio. Mas,
tendo em conta que as suas queixas foram invalidadas pelo Conselho
Constitucional moçambicano, o partido vê agora como alternativa a formação de
um Governo de gestão que administraria o país nos próximos cinco anos.
Recusa
insistente da FRELIMO
A
FRELIMO já disse várias vezes que isso está fora de questão e, esta
quinta-feira, repetiu-o mais uma vez à DW África.
"O
nosso partido rejeita categoricamente uma proposta dessa natureza”, disse o
porta-voz do partido no poder, Damião José. "Em primeiro lugar, porque
ainda não sabemos o que é um Governo de gestão. Além disso, porque as eleições,
num sistema multipartidário, são regidas por princípios muito claros. Há uma
lei eleitoral que é clara, praticamente partidarizada, mas tudo a pedido da
RENAMO, que queria garantir maior transparência no processo."
Extremar
de posições
O
receio agora é de que um novo confronto volte a eclodir já que há um extremar
de posições dos dois lados. Afonso Dhlakama garante que não quer voltar a
guerra, mas deixa claro que reagirá se se sentir provocado: "Eu já disse
que nem quero ver armas, mas se alguém disparar contra mim vou responder, vou-me
defender como um direito à vida, como um ser humano."
Até
ao momento, um encontro entre a RENAMO e a FRELIMO para discutir o assunto não
está previsto. O líder do maior partido da oposição, entretanto, revelou à Lusa
que tem mantido conversas informais com o ainda Presidente de Moçambique,
Armando Guebuza, sobre a situação. Dhlakama pondera ainda solicitar um encontro
oficial para debater a formação de um Governo de gestão.
O
porta-voz da FRELIMO, Damião José, concorda que o diálogo é a melhor forma de
dirimir conflitos. No entanto, para José, este é um caso encerrado: "Não
há nem vai haver nenhum diálogo em relação ao dito Governo de gestão. Tem é de
haver um diálogo sobre o desenvolvimento do nosso país, sobre a consolidação da
paz e da unidade nacional. Cada um de nós, defendendo a sua ideologia política,
tem de se comprometer a observar e respeitar as leis vigentes no nosso
país."
Referendo
A
outra alternativa da RENAMO, caso a sua proposta continue a ser rejeitada, é a
divisão do país. Nesse caso, o partido governaria nas províncias onde venceu.
Segundo
Afonso Dhlakama, é essa a vontade da população nos locais que tem visitado, no
centro e norte do país. Se a FRELIMO não aprovar o Governo de gestão, os
populares vão exigir um referendo sobre a divisão de Moçambique "à
semelhança daquilo que aconteceu no Sudão", diz Dhlakama. "Embora eu
não esteja a favor, tenho de seguir aquilo que a maioria deseja."
Nádia
Issufo / Lusa – Deutsche Welle
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