Macau,
China, 02 dez (Lusa) - Os futuros secretários do Governo de Macau, conhecidos
oficialmente na segunda-feira, integram uma equipa jovem, conhecedora da lei,
mas mais próxima de Pequim e distante dos problemas da população, defendem
académicos contactados pela agência Lusa.
"São
jovens e mais energéticos, o que pode ajudar a levar para a frente reformas em
Macau", destaca o politólogo Eilo Yu, referindo-se a uma equipa de
secretários com idades entre os 46 e os 58 anos.
O
professor da Universidade de Macau destaca outro traço comum nesta equipa: a
proximidade com a China Continental. De facto, dos cinco novos secretários,
três não são 'filhos da terra': Sónia Chan (Administração e Justiça) e Wong Sio
Cha (Segurança) nasceram na província de Guangdong e Alexis Tam é natural do
Myanmar.
A
atual equipa, que cessa funções a 20 de dezembro, é toda natural de Macau, com
exceção do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, nascido em
Zhongshan.
O
sociólogo e comentador político Larry So chama a atenção para a questão.
"O novo Governo é muito mais próximo do Governo Central. Hong Kong exerce
um efeito magnético em relação a esta região administrativa especial. É o filho
mimado que se tornou problemático e Pequim não quer que isso aconteça em
Macau", salienta.
Para
Larry So há uma terceira característica que une o novo elenco, a sua
proximidade com a Justiça. "Muitos são da área legal e judiciária,
conhecem bem a lei, o que é uma vantagem", diz.
No
entanto, os novos dirigentes partilham também uma falha: "Estão afastados
da chamada 'camada de base' e dos problemas das pessoas, tudo que o fazem é nos
gabinetes".
Essa
preocupação coloca-se especialmente no caso de Raimundo do Rosário, há 15 anos
a ocupar o cargo de chefe da Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa
e que agora foi chamado de volta ao território para assumir funções de
secretário para os Transportes e Obras Públicas.
"Tem
uma perspetiva internacional, mas está desfasado da realidade de Macau. Terá
que lidar com os problemas da habitação e dos transportes, questões de
subsistência, terá de fazer o trabalho de casa", aponta Larry So.
Eilo
Yu admite alguma surpresa com a "abertura" de Pequim a um secretário
"diferente" (referindo-se à sua ascendência portuguesa), mas
considera que o seu distanciamento da cidade pode trazer-lhe independência na
relação com os construtores, numa pasta ainda ensombrada pela detenção do
ex-secretário Ao Man Long, por corrupção.
Para
Larry So a ligação a Pequim é mais evidente na escolha de Sónia Chan, até aqui
coordenadora do Gabinete de Proteção de Dados Pessoais, órgão que motivou a
detenção dos organizadores do referendo civil sobre a introdução de sufrágio
universal no território.
"Tem
a bênção do Governo Central. Um dos motivos por que foi escolhida foi a sua
determinação no caso do referendo. Pequim adora-a", diz.
O
sociólogo não tem dúvidas que a estrela do elenco é Lionel Leong, o novo
secretário para a Economia e Finanças, o único que vem do setor privado, mas
sempre esteve próximo da esfera do poder - é, aliás, membro do Conselho
Executivo.
"É
um capitalista. E toda a gente sabe que é o grande nome para próximo chefe do
Executivo", em 2019, rematou.
ISG
// JPS
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