terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Nova equipa governativa de Macau é mais versada na lei, mas distante da população




Macau, China, 02 dez (Lusa) - Os futuros secretários do Governo de Macau, conhecidos oficialmente na segunda-feira, integram uma equipa jovem, conhecedora da lei, mas mais próxima de Pequim e distante dos problemas da população, defendem académicos contactados pela agência Lusa.

"São jovens e mais energéticos, o que pode ajudar a levar para a frente reformas em Macau", destaca o politólogo Eilo Yu, referindo-se a uma equipa de secretários com idades entre os 46 e os 58 anos.

O professor da Universidade de Macau destaca outro traço comum nesta equipa: a proximidade com a China Continental. De facto, dos cinco novos secretários, três não são 'filhos da terra': Sónia Chan (Administração e Justiça) e Wong Sio Cha (Segurança) nasceram na província de Guangdong e Alexis Tam é natural do Myanmar.

A atual equipa, que cessa funções a 20 de dezembro, é toda natural de Macau, com exceção do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, nascido em Zhongshan.

O sociólogo e comentador político Larry So chama a atenção para a questão. "O novo Governo é muito mais próximo do Governo Central. Hong Kong exerce um efeito magnético em relação a esta região administrativa especial. É o filho mimado que se tornou problemático e Pequim não quer que isso aconteça em Macau", salienta.

Para Larry So há uma terceira característica que une o novo elenco, a sua proximidade com a Justiça. "Muitos são da área legal e judiciária, conhecem bem a lei, o que é uma vantagem", diz.

No entanto, os novos dirigentes partilham também uma falha: "Estão afastados da chamada 'camada de base' e dos problemas das pessoas, tudo que o fazem é nos gabinetes".

Essa preocupação coloca-se especialmente no caso de Raimundo do Rosário, há 15 anos a ocupar o cargo de chefe da Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa e que agora foi chamado de volta ao território para assumir funções de secretário para os Transportes e Obras Públicas.

"Tem uma perspetiva internacional, mas está desfasado da realidade de Macau. Terá que lidar com os problemas da habitação e dos transportes, questões de subsistência, terá de fazer o trabalho de casa", aponta Larry So.

Eilo Yu admite alguma surpresa com a "abertura" de Pequim a um secretário "diferente" (referindo-se à sua ascendência portuguesa), mas considera que o seu distanciamento da cidade pode trazer-lhe independência na relação com os construtores, numa pasta ainda ensombrada pela detenção do ex-secretário Ao Man Long, por corrupção.

Para Larry So a ligação a Pequim é mais evidente na escolha de Sónia Chan, até aqui coordenadora do Gabinete de Proteção de Dados Pessoais, órgão que motivou a detenção dos organizadores do referendo civil sobre a introdução de sufrágio universal no território.
"Tem a bênção do Governo Central. Um dos motivos por que foi escolhida foi a sua determinação no caso do referendo. Pequim adora-a", diz.

O sociólogo não tem dúvidas que a estrela do elenco é Lionel Leong, o novo secretário para a Economia e Finanças, o único que vem do setor privado, mas sempre esteve próximo da esfera do poder - é, aliás, membro do Conselho Executivo.

"É um capitalista. E toda a gente sabe que é o grande nome para próximo chefe do Executivo", em 2019, rematou.

ISG // JPS

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