Martinho
Júnior, Luanda
1
– O Encarregado de Negócios da Embaixada de Cuba em Angola, companheiro Reinaldo
Valdés Obregón, deu a 18 de dezembro de 2014 uma Conferência de Imprensa em que
fez o ponto de situação sobre o estabelecimento de relações diplomáticas de
Cuba com os Estados Unidos ao nível de Embaixadas, facto que foi marcado com a
libertação dos três últimos prisioneiros anti terroristas (Gerardo Hernandez,
António Guerrero e Ramón Labañino) que compõem o grupo heróico dos “Cinco”, por
parte dos Estados Unidos e a libertação de Alan Gross, assim como de um espião
norte-americano detido há duas décadas (cujo nome não foi revelado), por parte
de Cuba.
2
– A representação Diplomática cubana na capital angolana quis fundamentalmente
sublinhar o momento histórico, mantendo-se naturalmente cautelosa em relação à
perspectiva dos próximos desenvolvimentos, que envolvem contenciosos muito
sensíveis como por exemplo as questões que dão corpo ao bloqueio, o fim da
prisão de Guantánamo, a desactivação da base naval norte-americana ou ainda a
reincorporação do território de Guantánamo a Cuba.
O
clima da própria Conferência de Imprensa, com a presença não só dos repórteres
destacados por vários órgãos de imprensa angolanos, mas também de algumas
entidades angolanas afectas às relações bilaterais entre Cuba e Angola, foi de
regozijo e de expectativa em relação ao futuro imediato.
3
– Pôr fim aos contenciosos e aos traumas acumulados durante décadas não será
fácil de um momento para o outro, mas sem sombra de dúvida que os fluxos
bilaterais que construtivamente forem possíveis, influenciarão também e por
exemplo:
-
Na correlação de forças no interior dos Estados Unidos entre os “lobbies” que
suportam democratas e republicanos, tendo em conta o horizonte eleitoral já
relativamente próximo e sobretudo ao papel de “charneira” da Florida
nessa correlação;
-
Na oportunidade de um maior equilíbrio entre as culturas mais expressivas que
se manifestam nas conjunturas sócio-políticas internas dos Estados Unidos,
nomeadamente a anglo-saxónica, a latino americana e a afro descendente.
-
Nos relacionamentos da Pátria Grande com os Estados Unidos, tendo em conta as
tensões entre as equações de independência, soberania e integração, por um lado
e as que se revelam no quadro do presente “modelo” de globalização
segundo a óptica da hegemonia unipolar em função das doutrinas e práticas do
neoliberalismo.
-
Nos relacionamentos no Atlântico Sul e em África, onde a luta contra o
subdesenvolvimento crónico exige uma outra concertação internacional que se
afaste em definitivo dos parâmetros da segunda metade do século XX, conformes à
Guerra Fria, uma vez que Cuba poderá fundamentalmente aumentar a sua capacidade
e vocação no que diz respeito à educação e à saúde, num ambiente internacional
mais saudável, mais harmonioso e reciprocamente respeitoso.
4
– O que se vai iniciar nos relacionamentos bilaterais entre Cuba e os Estados
Unidos, é sem dúvida uma nova etapa aberta à esperança dum futuro melhor, mas o
estado da humanidade e do próprio planeta exigem muito mais a partir daí: será
finalmente possível a entrada numa nova era, de acordo com as exigências que se
vão histórica e antropologicamente acumulando nos termos da lógica com sentido
de vida?
Foto:
O Encarregado de Negócios da Embaixada de Cuba em Angola, Reinaldo Valdés
Obregón, durante a Conferência de Imprensa.
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