Bocas
do Inferno
Mário
Motta, Lisboa
Cá
por mim desisti de ouvir a maior parte dos comentadores das televisões. Conclui
que existiam “sábios” demasiados a vender banha da cobra para entertenimento,
mentindo e manipulando se necessário. Quase sempre necessário e concordante com
os objetivos pessoais, partidários e ideológicos dos próprios e daqueles a quem
servem e se servem. Destacam-se dois que há muito aboli das minhas audições:
Marcelo Rebelo de Sousa e Marques Mendes. Um e outro com funções descaradamente
aliadas ao grande capital, ao PSD, às oportunidades com que vendem a alma ao
diabo em seu benefício.
Sabe-se
que Marcelo corre para ser Presidente da República. É de origens salazaristas e
advoga um “salazarismo democrático” em que os ricos fiquem sempre mais ricos à
custa de explorarem os trabalhadores e que os pobres não passem da cepa torta.
Marcelo, um democrata com aspas.
Sabe-se
que Marques Mendes tem grandes interesses no seu escritório de advocacia ao
serviço do governo PSD/CDS e de outros mastodontes da economia e finanças de
Portugal. E quando assim não é também empresas a que está ligado arrecadam
interesses que ele candidamente se esquece e de onde sacode a água do seu capote
- como o caso de uma das empresas do escândalo dos vistos gold. Não entremos
agora em pormenores por não ser isso ao que vim. As referências são públicas. E
o homem-comentador, Marques Mendes, é mesmo esquecido para o que lhe convém.
Outros
comentadores há com rabos-de-palha por esta ou aquela razão. Enfeudados ao
governo ou em bicos dos pés para beneficiarem com este governo. Lembro o caso
de um que agora é ministro mas que quando não era também tecia os seus comentários
numa das televisões de Portugal e até devia ter caimbras de tanto se posicionar em
bicos dos pés para atingir o que pretendia: ser do governo. Quem? Miguel
Poiares Maduro, atualmente ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional.
Todos
os referidos comentadores têm algo em comum. Dão uma no cravo e outra na ferradura. Criticam
o governo ou o presidente da República para depois, subrepticiamente, os
elevarem aos altares de deuses. Técnica que evidencia as suas intenções manipuladoras. Aliás,
só estão naquela função de comentadores por isso: para enganar os distraídos e
agradar aos das suas cores partidárias. Além disso há a vantagem de dar a
parecer que as televisões contribuem para a democracia, para a liberdade de expressão,
a liberdade de oposição. Um circo muito bem montado que é cópia fiel daquilo
que acontece em outros países que exibem a democracia como se os seus regimes não
fossem democracias com aspas.
Mas
as televisões existem e os comentadores também. Ou vimos ou não vimos. Ou
escutamos ou não escutamos. Ainda há outra alternativa: ver e ouvir os
comentadores que consideramos serem imparciais, objetivos, realmente
independentes e realistas. Que não usem aquela função para e por interesses próprios
mas sim para veicular suas considerações e ideias e despoletar nos que os
escutam e vêem ideias próprias, apreciações maturadas que contribuam para pareceres,
decisões e posturas que sejam vantajosas no interesse do país e, por consequência,
no interesse de toda a sociedade portuguesa. Não é isso o que a dupla de
comentadores aqui referidos tem por objetivo. Eles pretendem manipular e por
tal usam a mentira, a inexatidão e até o esquecimento. Servem-se servindo o
regime democrático com aspas que lhes garanta – e aos da sua espécie - uma boa
vida.
Agora
por mentira: um da espécie de Marcelo Rebelo de Sousa, um da família Espírito
Santo, José Maria Ricciardi, considera Marcelo um mentiroso que está desgostoso
de não poder mais passar férias na mansão de Ricardo Salgado no Brasil. Entre
Marcelo e Ricciardi venha o diabo e escolha. Um vende a alma ao diabo que
julga mais vantajoso. Outro é um dos próprios diabos. Senhor do capital que é
dono de muito e de mais umas quantas almas de humanos que o servem
incondicionalmente desde que sejam pagos em dinheiro ou em géneros. Até uma mansão
para passar férias dá jeito e é transação que vale para comentadores papagaios.
E
são estes maduros, Marcelos, Mendes, etc., etc. que certas televisões fazem
entrar nas casas das pessoas. Curiosamente, ou talvez não, até sobem as audiências.
Comparando, parece que Marcelo e Marques Mendes se ajustam bem naquele tipo de
tarefa e cumprem a função de entretenimento com paralelo na execrável Casa dos
Segredos ou qualquer outro Big Brother Papagaios.
Veja
a seguir o sem-importância da “conversa” de Ricciardi e a importância que ele dá
ao papagaio Marcelo Rebelo de Sousa. Tretas eivadas de futilidades que tipos a roçar o comezinho usam para criarem caso. Se necessário para a semana Marcelo
será convidado a passar as férias na Mansão de Ricciardi em Marrocos (caso ali
a tenha). Mas só se Marcelo virar o bico ao prego e se portar bem com Ricciardi. Afinal…
Rei morto, rei posto. Olhem o Maduro. "Crítico" do governo e depois ministro.
Mendes, "crítico" do governo e depois recebeu “trabalhos” encomendados pelo
governo que valem uns milhares largos. Muito largos…
Ricciardi
desmente Marcelo e lembra “férias na mansão de Salgado”
Filipe
Alves - Económico
O
presidente do BESI emitiu um violento comunicado onde desmente afirmações de
Marcelo Rebelo de Sousa no seu comentário semanal na TVI. O banqueiro acusa o
comentador de proferir "mentiras" e de sentir "mágoa" por
ter deixado de passar férias na casa de Ricardo Salgado no Brasil.
"Relativamente
aos comentários da autoria do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa no seu programa
dominical da TVI, venho por esta forma transmitir publicamente o seguinte: Eu
compreendo que o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa tenha muita mágoa em não poder
continuar a passar as suas habituais e luxuosas férias de fim de ano na mansão
à beira-mar no Brasil do Dr. Ricardo Salgado, mas essa mágoa não o autoriza a
dizer mentiras a meu respeito e do banco a que presido, conforme fez no seu
comentário de ontem", referiu José Maria Ricciardi numa declaração enviada
às redacções ao final da noite de domingo.
Acrescentou:
"Primeira mentira: o BESI, ao contrário do que disse, nunca avalizou a
emissão e colocação do papel comercial do GES. Segunda mentira: outra vez ao
contrário do que disse, não só manifestei formalmente em Fevereiro de 2014 ao
Banco de Portugal a minha indisponibilidade para continuar no BES, se não fosse
alterado o modelo de governação, como ainda suspendi o meu mandato de
administrador da ESI em Fevereiro de 2014 e apresentei a minha demissão no mês
seguinte".
"Espero
que não surja uma terceira mentira", conclui.
Ontem,
no habitual comentário na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa comentou as audições na
Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES, afirmando que “Ricardo Salgado
mandava e José Maria Ricciardi não venha dizer que não sabia, porque sabia”.
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