Ana
Sá Lopes – jornal i
Amanhã,
o Juntos Podemos, inspirado no movimento espanhol, decide se avança para a
constituição de um novo partido
O
Juntos Podemos pode transformar-se num novo partido para concorrer às próximas
legislativas. Nada está fechado. "A fórmula organizativa vai ser discutida
e aprovada democraticamente", afirma ao i Joana Amaral Dias, uma
das promotoras da assembleia do Juntos Podemos, um movimento que se inspira no
Podemos espanhol. A ideia da constituição de um novo partido irá estar em cima
da mesa, mas haverá prós e contras em debate. Não há prognósticos antecipados.
A
influência que o Juntos Podemos foi buscar ao Podemos espanhol, liderado por
Pablo Iglesias, é assumida. Mais do que "inspiração", diz Joana
Amaral Dias, o movimento "quer aprender com o Podemos espanhol".
"Estamos num processo humilde de aprendizagem. O Podemos espanhol é uma
experiência inédita, de sucesso."
Uma
das primeiras iniciativas deste movimento foi, de resto, organizar um debate
com fundadores do Podemos do país do lado. Na conferência vão estar, entre
outros oradores, a dirigente Carolina Bescansa e o porta-voz Jesús Jurado.
Tal
como o Podemos espanhol, este Podemos nacional não quer catalogar-se com a
esquerda. Apesar de não existir ninguém de direita entre os fundadores - até
agora -, o movimento decidiu abjurar a dicotomia esquerda-direita. Se decidirem
formar um partido, não vão considerar- -se "um novo partido de
esquerda".
"A
questão da corrupção, o direito à escolha do modelo económico e a devolução da
democracia aos cidadãos estão para além da esquerda e da direita. São sobretudo
valores democráticos e republicanos básicos", diz Joana Amaral Dias.
"Quem
estiver de acordo com estes três eixos pode identificar-se connosco,
independentemente de ser de esquerda ou de direita", acrescenta.
RECUSAR
A DICOTOMIA ESQUERDA/DIREITA
Carlos Antunes, um histórico revolucionário
(esteve no PRP com Isabel do Carmo), é outro dos promotores e também recusa a
dicotomia esquerda-direita. "Há muitos anos que digo que não basta
dizer-se que se é de esquerda. Até aqui, andámos todos a ser uma fábrica de
inventar ideologias que expulsam sempre o vizinho do patamar."
Carlos
Antunes afirma que a guerra contra a escravatura não foi de esquerda nem de
direita, como agora a luta das mulheres ou o combate pela sustentabilidade
ambiental. "Não chega dizer que se é de esquerda, é mesmo muito pouco. Eu
até desconfio de quem me diz que é de esquerda", diz entre risos.
"Como é que aceitamos que os trabalhadores não tenham direito nenhum e que
as mulheres sejam completamente escravas?", interroga, apontando que
"98 por cento dos proprietários do mundo são homens". Para Carlos
Antunes, "a desestruturação política na Europa é um facto". "É
ver a Espanha e a Itália. Isto move-se", acrescenta.
Carlos
Antunes não é o maior dos entusiastas da transformação do movimento em partido,
pelo menos para já. "Seria um disparate. A coisa que deve sair daqui é um
movimento sério que encare de maneira democrática todas as formas de luta, mas
que não deixe de ser movimento", diz. Mas não recusa o partido. "Não
recuso rigorosamente nada. É preciso é que tudo seja feito de maneira
democrática." Com o movimento estão pessoas que organizaram as iniciativas
do Que se Lixe a Troika, as manifestações como a de 15 de Setembro de 2012 e
militantes de outros movimentos sociais e organizações não governamentais, como
João Romão, Paula Gil e Rita Merêncio.
Na
conferência participam também, como oradores convidados, a historiadora Raquel
Varela e o jornalista do "Público" José António Cerejo. No manifesto
de convocação da assembleia cidadã, que decorre hoje e amanhã no ISPA -
Instituto Superior de Psicologia Aplicada, afirmam: "Estamos a construir
um movimento democrático em que as pessoas exercem o poder. Juntos podemos
garantir que só há democracia sem corrupção. Juntos podemos dizer que temos o
direito a escolher o modelo económico em que vivemos. Começamos aqui um
processo para construir um novo sujeito político. Uma força que afirma a
democracia de todos contra o poder de muito poucos".
Foto:
José Sena Goulão / Lusa
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