sábado, 13 de dezembro de 2014

Portugal: MOVIMENTO JUNTOS PODEMOS PODE DAR LUGAR A UM NOVO PARTIDO



Ana Sá Lopes – jornal i

Amanhã, o Juntos Podemos, inspirado no movimento espanhol, decide se avança para a constituição de um novo partido

O Juntos Podemos pode transformar-se num novo partido para concorrer às próximas legislativas. Nada está fechado. "A fórmula organizativa vai ser discutida e aprovada democraticamente", afirma ao i Joana Amaral Dias, uma das promotoras da assembleia do Juntos Podemos, um movimento que se inspira no Podemos espanhol. A ideia da constituição de um novo partido irá estar em cima da mesa, mas haverá prós e contras em debate. Não há prognósticos antecipados.

A influência que o Juntos Podemos foi buscar ao Podemos espanhol, liderado por Pablo Iglesias, é assumida. Mais do que "inspiração", diz Joana Amaral Dias, o movimento "quer aprender com o Podemos espanhol". "Estamos num processo humilde de aprendizagem. O Podemos espanhol é uma experiência inédita, de sucesso."

Uma das primeiras iniciativas deste movimento foi, de resto, organizar um debate com fundadores do Podemos do país do lado. Na conferência vão estar, entre outros oradores, a dirigente Carolina Bescansa e o porta-voz Jesús Jurado.

Tal como o Podemos espanhol, este Podemos nacional não quer catalogar-se com a esquerda. Apesar de não existir ninguém de direita entre os fundadores - até agora -, o movimento decidiu abjurar a dicotomia esquerda-direita. Se decidirem formar um partido, não vão considerar- -se "um novo partido de esquerda".

"A questão da corrupção, o direito à escolha do modelo económico e a devolução da democracia aos cidadãos estão para além da esquerda e da direita. São sobretudo valores democráticos e republicanos básicos", diz Joana Amaral Dias.

"Quem estiver de acordo com estes três eixos pode identificar-se connosco, independentemente de ser de esquerda ou de direita", acrescenta.

RECUSAR A DICOTOMIA ESQUERDA/DIREITA 

Carlos Antunes, um histórico revolucionário (esteve no PRP com Isabel do Carmo), é outro dos promotores e também recusa a dicotomia esquerda-direita. "Há muitos anos que digo que não basta dizer-se que se é de esquerda. Até aqui, andámos todos a ser uma fábrica de inventar ideologias que expulsam sempre o vizinho do patamar."

Carlos Antunes afirma que a guerra contra a escravatura não foi de esquerda nem de direita, como agora a luta das mulheres ou o combate pela sustentabilidade ambiental. "Não chega dizer que se é de esquerda, é mesmo muito pouco. Eu até desconfio de quem me diz que é de esquerda", diz entre risos. "Como é que aceitamos que os trabalhadores não tenham direito nenhum e que as mulheres sejam completamente escravas?", interroga, apontando que "98 por cento dos proprietários do mundo são homens". Para Carlos Antunes, "a desestruturação política na Europa é um facto". "É ver a Espanha e a Itália. Isto move-se", acrescenta.

Carlos Antunes não é o maior dos entusiastas da transformação do movimento em partido, pelo menos para já. "Seria um disparate. A coisa que deve sair daqui é um movimento sério que encare de maneira democrática todas as formas de luta, mas que não deixe de ser movimento", diz. Mas não recusa o partido. "Não recuso rigorosamente nada. É preciso é que tudo seja feito de maneira democrática." Com o movimento estão pessoas que organizaram as iniciativas do Que se Lixe a Troika, as manifestações como a de 15 de Setembro de 2012 e militantes de outros movimentos sociais e organizações não governamentais, como João Romão, Paula Gil e Rita Merêncio.

Na conferência participam também, como oradores convidados, a historiadora Raquel Varela e o jornalista do "Público" José António Cerejo. No manifesto de convocação da assembleia cidadã, que decorre hoje e amanhã no ISPA - Instituto Superior de Psicologia Aplicada, afirmam: "Estamos a construir um movimento democrático em que as pessoas exercem o poder. Juntos podemos garantir que só há democracia sem corrupção. Juntos podemos dizer que temos o direito a escolher o modelo económico em que vivemos. Começamos aqui um processo para construir um novo sujeito político. Uma força que afirma a democracia de todos contra o poder de muito poucos".

Foto: José Sena Goulão / Lusa

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