quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Portugal: VEM A PROPÓSITO




Ao que parece, a percentagem dos negócios escuros dos figurões da política de direita que chega aos tribunais é pequena. Das vezes que tal sucede, o hábito é a atitude de reserva “confiamos no funcionamento da Justica, etc.”. Mas Passos Coelho, com a desfaçatez que o caracteriza, resolveu ir mais longe.


Passos Coelho resolveu declarar que “os políticos não são todos iguais”. Com as embrulhadas de que está rodeado deita a mão seja ao que for. Mas afirmações como essa são como a história: repetidas por Passos, repetem-se como farsa.

Quer talvez distinguir-se de correligionários seus que têm estado a contas com a justiça e passado alguns anos presos, ou de outros a quem as prescrições livraram desse incómodo. Mas o sentido da afirmação “os políticos não são todos iguais” não se resume a tal problema, embora o inclua. Tem a ver com aspectos morais e éticos, é certo. Mas tem sobretudo a ver com as causas e os interesses sociais e de classe que se defendem, causas e interesses antagónicos que trazem consigo comportamentos políticos e morais necessariamente antagónicos.

“Nas sociedades divididas em classes antagónicas, a moral foi sempre uma moral de classe, basilarmente assente nas condições da vida social. […] Na moral proletária integram-se as aquisições progressistas do património ético deixado pelas classes ascendentes e pelos homens esclarecidos que, ao longo dos séculos, sonharam e lutaram por um mundo de justiça social e de aperfeiçoamento humano. O que nela é essencial não são porém os elementos herdados do passado, mas os elementos novos resultantes da natureza, objectivos e missão histórica do proletariado. Ao antagonismo irreconciliável de interesses entre o proletariado e a burguesia corresponde um antagonismo moral, que evidencia o apodrecimento e agonia do capitalismo e a certeza da vitória universal da classe operária.”

O que torna iguais os políticos burgueses não é o serem pessoalmente mais ou menos corruptos, é o estarem ao serviço de um sistema assente na exploração, na opressão, na injustiça e na desigualdade. É para desfocar essa realidade que “o imperialismo procura gravar no espírito das massas uma visão pessimista e apocalíptica do mundo e arrastá-las na própria decadência”.

As citações são de Álvaro Cunhal (“A superioridade moral dos comunistas”). Superioridade que não resulta de “homens e mulheres ideais”, mas de uma causa e de objectivos de luta que não podem ser alcançados sem a total rejeição – também moral – da apodrecida sociedade capitalista.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2139, 27.11.2014

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