Ao
que parece, a percentagem dos negócios escuros dos figurões da política de
direita que chega aos tribunais é pequena. Das vezes que tal sucede, o hábito é
a atitude de reserva “confiamos no funcionamento da Justica, etc.”. Mas Passos
Coelho, com a desfaçatez que o caracteriza, resolveu ir mais longe.
Passos
Coelho resolveu declarar que “os políticos não são todos iguais”. Com as
embrulhadas de que está rodeado deita a mão seja ao que for. Mas afirmações
como essa são como a história: repetidas por Passos, repetem-se como farsa.
Quer
talvez distinguir-se de correligionários seus que têm estado a contas com a
justiça e passado alguns anos presos, ou de outros a quem as prescrições
livraram desse incómodo. Mas o sentido da afirmação “os políticos não são todos
iguais” não se resume a tal problema, embora o inclua. Tem a ver com aspectos
morais e éticos, é certo. Mas tem sobretudo a ver com as causas e os interesses
sociais e de classe que se defendem, causas e interesses antagónicos que trazem
consigo comportamentos políticos e morais necessariamente antagónicos.
“Nas
sociedades divididas em classes antagónicas, a moral foi sempre uma moral de
classe, basilarmente assente nas condições da vida social. […] Na moral
proletária integram-se as aquisições progressistas do património ético deixado
pelas classes ascendentes e pelos homens esclarecidos que, ao longo dos
séculos, sonharam e lutaram por um mundo de justiça social e de aperfeiçoamento
humano. O que nela é essencial não são porém os elementos herdados do passado,
mas os elementos novos resultantes da natureza, objectivos e missão histórica
do proletariado. Ao antagonismo irreconciliável de interesses entre o
proletariado e a burguesia corresponde um antagonismo moral, que evidencia o
apodrecimento e agonia do capitalismo e a certeza da vitória universal da
classe operária.”
O
que torna iguais os políticos burgueses não é o serem pessoalmente mais ou
menos corruptos, é o estarem ao serviço de um sistema assente na exploração, na
opressão, na injustiça e na desigualdade. É para desfocar essa realidade que “o
imperialismo procura gravar no espírito das massas uma visão pessimista e
apocalíptica do mundo e arrastá-las na própria decadência”.
As
citações são de Álvaro Cunhal (“A superioridade moral dos comunistas”).
Superioridade que não resulta de “homens e mulheres ideais”, mas de uma causa e
de objectivos de luta que não podem ser alcançados sem a total rejeição –
também moral – da apodrecida sociedade capitalista.
*Este
artigo foi publicado no “Avante!” nº 2139, 27.11.2014
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