quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

PUT IN



Rui Peralta, Luanda

I - O acordo entre a Federação Russa e a Turquia, fez deste ultimo país o principal receptor de gás russo na região. A Russia fornecerá, também, gás adicional às populações do centro da Turquia e a "um enclave da fronteira turco-grega" (segundo os termos do acordo). É um bom negócio para ambas as partes: a Russia entra pela porta traseiras da UE, instalando-se no lucrativo mercado europeu. A Turquia, por sua vez, é o grande intermediário. Mas o acordo assinala, ainda, duas mudanças de posição (uma da Russia, outra da Turquia). A Russia abandonou o projecto do gasoduto (Corrente do Sul) que transportaria gás para o Sul da Europa e a Turquia abandonou o seu posicionamento euro-atlântico, reassumindo a sua posição histórica euroasiática.

Para esta mudança da Turquia muito contribuíram os fracassos da política da UE para o Médio-Oriente e para o sector da energia. Claro que os turcos continuarão a manter relacionamento privilegiado com a UE e com os USA, mas este reposicionamento altera as relações Ocidente/Oriente, para além de representar uma vitória geoeconómica e geopolítica da Russia, que desta forma amplia o seu mercado do gás e contorna alguns dos impactos negativos das sanções, na economia e na sociedade russa.

Este cenário imprevisto representa um aumento da quota de mercado do gás russo, que numa primeira fase fornecerá 3 mil milhões de metros cúbicos de gás à Turquia, através do gasoduto Corrente Azul, com um desconto de 6% para os consumidores turcos. Em simultâneo a Russia contorna os obstáculos colocados pela UE e pelos USA, que através de ameaças e chantagens diversas neutralizam o posicionamento favorável aos russos por parte da Bulgária, Hungria e Sérvia.

Os mais afectados com esta alteração russa é o sul da Europa que não tem qualquer fornecedor que possa satisfazer as suas necessidades crescentes de consumo, para além de pagar mais 30% do que pagaria á GAZPROM. Em silêncio permanecem os USA. Não o silêncio calculista mas o silêncio da surpresa. E compreende-se o constrangimento da administração Obama. Os USA terão de rever a sua política para a região além da sua estratégia no sector da energia. E isso é demasiado complexo para os levianos conselheiros que rodeiam a Casa Branca...

II - O silêncio dos USA é relativo. Tudo está escrito na House Resolution 758, aprovada por 95% dos representantes (411 a favor, 10 contra e 13 abstenções) no dia 4 de Dezembro. Esta é uma resolução abertamente anti-russa. Considera as acções da Federação Russa ("under President Vladimir Putin") que acusa de "política de agressão contra os países vizinhos". Mas a HR 758 é unilateral e não justifica as acusações, limitando-se a distorcer a realidade dos factos, falsificando-os e escondendo-os, rescrevendo o passado e p presente. E isto é grave. A política externa de um país, qualquer que ele seja, não pode ser alicerçada em factos distorcidos, em realidades virtuais.

A agressividade da linguagem utilizada na resolução é de tão grande intensidade que o documento parece ter sido redigido por gente sem berço, roçando o linguajar de caserna. Coloca os USA num plano geográfico não existente, escamoteando a trágica realidade do drama norte-americano: o imperialismo, que coloca os USA em lugares a que não pertence e que não lhe pertence. É um documento dos "falcões" (o Partido da Guerra, transversal a democratas e republicanos) que abafa o arrolhar das "pombas" (que não é o Partido da Paz, é antes um "clube de damas e cavalheiros" que não são transversais a nada, mas que pululam pelos corredores de tudo o que tem corredores, como os democratas, os republicanos, a Casa Branca, o Congresso, o Senado e outros de menos importância).

Estamos, pois, na presença de um texto de propaganda pura e dura, sem grandes problemas em disfarçar aquilo que é: propaganda musculada e intimidatória. Objectivo? Mobilização total contra a Russia. Custe o que custar e a quem custar...

Na HR 758 está escrito: "(...)the Russian Federation has subjected Ukraine to a campaign of political, economic and military aggression for the purpose of establishing its domination over the country and progressively erasing its independence". Falso! A Russia não desempenhou qualquer papel no golpe de Estado ucraniano e não foi a Russia que desencadeou a actual situação, consequência do golpe em Kiev. Quanto aos USA, tal como os seus submissos parceiros europeus (parceiros menores, ou sócios minoritários, com uma quota menor nos despojos do Imperio), já não podem dizer o mesmo. Apoiaram o golpe, estavam por detrás e participaram atarefadamente nas acções de desestabilização e aconselham o actual governo ucraniano a rejeitar as propostas de paz, enviadas por Moscovo.

Mais á frente o texto da Resolução refere: "Russian Federation's forcible occupation and illegal annexation of Crimea (...)". A Russia não ocupou a Crimeia, conforme acusa a Resolução. O que aconteceu foi algo muito diferente da versão da NATO e que, aparentemente, não constava dos planos “pentagónicos” dos militaristas atlantistas. Em resposta ao golpe de Kiev o Parlamento da Crimeia adoptou uma resolução que apelava a um referendo sobre a "desanexação" do território, uma vez que o Parlamento da Crimeia considerou ilegítimo o governo ucraniano instituído pelo golpe de estado, não existindo, nessas circunstâncias, possibilidades do Parlamento da Crimeia continuar a manter as negociações com o governo anterior e com o parlamento de Kiev. A soberania popular decidiu-se pela secessão, optando pela perspectiva euroasiática.

Também não é verdade que a HR 758 refere sobre a "ajuda" russa aos "separatistas" e às "forças paramilitares", responsáveis pela "morte de quatro mil e quinhentos civis e por centenas de milhares de refugiados". A realidade é outra. Os milhares de mortos e as centenas de milhares de refugiados são consequência da acção das forças militares de Kiev e das milícias ultranacionalistas ao serviço dos serviços de segurança do governo revanchista ucraniano. Ao romperem com os equilíbrios culturais e sociais do país, ao exibirem uma prática etnicista que apressou-se a reprimir as legítimas e históricas aspirações das populações não ucranianas que habitam na Ucrânia, o governo ilegítimo da NATO para a Ucrânia ocupada, foi o responsável pela actual situação. Às populações nada mais restou senão a opção da separação.

As revindicações secessionistas são muito anteriores ao golpe e passaram por longos períodos de moderação e por momentos de radicalização (a Republica de Donetsk, por exemplo, é discutida em Kiev desde 2007). Não são "invenções" russas como a NATO e os seus serviçais, que tomaram o poder em Kiev, afirmam. Foi o golpe de estado que levou os activistas em Donetsk a assumirem o controlo da situação e a proclamarem (auto-defensivamente) o Estado Federal da Novorussiya, em 7 de Abril deste ano. Um mês depois (16 de Maio) o governo ucraniano declara que a Republica Popular de Donetsk (membro do Estado Federal da Novorussiya) era uma organização terrorista, enviando forças militares para a região com o objectivo de reprimir o movimento e bombardeando áreas civis em Donbass. Não é conhecido qualquer envolvimento directo russo e os USA nunca demostraram quaisquer evidencias desse envolvimento directo (embora existam indícios de operações de suporte logístico e um deputado russo tenha apresentado evidencias da existência de redes de voluntários russos na região. Por comprovar fica o envolvimento directo do Kremlin, embora a investigação continue no Parlamento russo).

Para lá da questão secessionista a HR 758 recupera (embora a administração Obama mantenha silêncio sobre o assunto, contrastando com o alarido inicial) a tragédia ocorrida com o avião das linhas aéreas da Malásia. É demonstrativo da completa falta de senso comum desta resolução trazer á ribalta um assunto que está a ser investigado e sobre o qual ainda não existe qualquer conclusão (a não ser que a tragédia não ocorreu da forma como a NATO a publicitou inicialmente). Outra demonstração de falta de discernimento ocorre quando a resolução reescreve os acontecimentos de 2008 na Geórgia. A Russia não invadiu a Geórgia. A Russia reagiu às provocações fronteiriças do governo georgiano e às ameaças veladas da NATO. As Forças Armadas da Federação Russa penetraram em território georgiano para assumirem o seu compromisso com a Osséssia do Sul (sob protecção russa) face aos constantes avanços militares georgianos nessa região. E a medida parece ter resultado, se considerarmos a forma mais pacífica e responsável com que o governo georgiano aborda, actualmente, estas questões.

Parece que em Washington existe uma visão distorcida da realidade, que não consegue ultrapassar preconceitos culturais hegemónicos. As elites políticas e económicas norte-americanas estão a conduzir o país para o abismo, afastando-o (com a sua visão unidimensional) da pluridimensionalidade da economia-mundo. Os USA não conseguem desenvolver uma estratégia geoeconómica autónoma da geopolítica e da geoestratégia, que articule estes dois elementos, mas que não esteja submetida aos seus desígnios. E a HR 758 é mais uma prova disso.

Colocar a NATO às portas da Russia não é um bom negócio. Os militares caducos do Pentágono, formados nos princípios arcaicos de West Point, podem considerar que isso é uma obra-prima, mas não é. Não traz qualquer mais-valia á economia norte-americana, nem comporta qualquer benefício para o Povo norte-americano. É mau negócio, uma imbecilidade. Obra-prima? Quanto muito é a prima do mestre-de-obras, vestida pelas "prima donnas" do Pentágono e da Casa Branca e pelos maníaco-depressivos da CIA e do NSA.

III - No século XIX os ideólogos contrarrevolucionários lisonjeavam a Russia e o czar Alexandre, que na prosa de alguns deles assumia proporções míticas. O czar era o Salvador, que livrou a humanidade de Napoleão o Anticristo e esta retórica não foi criada pelos serviços de propaganda de guerra contra as invasões napoleónicas, mas pelos ideólogos europeus da contrarrevolução. Na actualidade para onde corre a tinta dos ideólogos reacionários da extrema-direita europeia? Para o mesmo lugar onde afluem as organizações da extrema-direita europeia, os partidos populistas europeus e grupos afins, que refazem a peregrinação dos seus correligionários dos seculos XVIII e XIX: Moscovo!

A lista é extensa, mas sobressaem a Frente Nacional (FN) francesa da "vamp" Marine Le Pen (filha de peixe) que pretende ser a próxima presidente da França, nas eleições de 2017. Marine e a sua FN (herança paterna) receberam entre 9 milhões a 45 milhões de euros (a FN não fala do assunto, Marine ainda menos e os russos confirmam mas não especificam. Imigrantes ilegais, já sabem...o Kremlin reforçou os cacetes dos bandos da FN! Imigrantes legais preparem-se! Marine já tem mais apoios para vos ilegalizar! A França é dos Gauleses e onde cantam os galos não cacarejam as galinhas, c'est pas Marine?

Na lista sucedem-se a Alternativa pela Alemanha (AFD, uma mistela intragável de arianos envergonhados que escondem a suástica dentro do penico, por debaixo da cama), o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ, do falecido Jörg Haider, conhecido pela sua fobia aos imigrantes), o JOBBI (O Melhor, um grupo nacionalista húngaro antissemita, anti-cigano, anti-melanina e anti tudo o que seja nariz afilado ou tom de pele mais moreno e escurito, carapinha, etc.), os cavalheiros musculados do Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP, liderado por um fã incondicional de Putin, o eurófobo Nigel Furage), a Liga Norte (os regionalistas italianos da nova-direita), a União Russa da Letónia (LKS, um grupo da direita tradicionalista da comunidade russa da Letónia, que marcha com fotografias e imagens do ultimo czar, trajando com as fardas do exército imperial russo czarista) e outra fauna e flora do panorama da direita nacionalista e populista europeia, sendo alguns espécimes abertamente neofascistas e os restantes esotericamente fascistas (só em segredo é que confessam).

Não deixa de ser curioso que o aparelho politico-ideológico russo financie estes grupos, organizações e partidos e que a extrema-direita europeia (um complexo amalgama de saudosistas, tradicionalistas, nacionalistas, pan-nacionalistas, racistas, xenófobos, primatas territorialistas e neofascistas) sintam o mesmo fascínio por Putin que os seus antepassados sentiram pelo czar Nicolau, isto no exacto momento em que a Russia desmascara os golpistas de Kiev, suportados pelos bandos fascistoides ucranianos (reativados pela NATO). Vladimir Putin não é um ideólogo, mas alguns personagens que o rodeiam formularam um discurso e sistematizaram um pensamento politico desenvolvimentista alicerçado na cultura política russa e na tradição institucional Bizantina. Nos tempos conturbados em que a economia-mundo mergulhou este discurso assentou arreais a Ocidente e a sistematização da praxis politico-estatal russa seguiu-lhe as pisadas, ultrapassando as fronteiras da Federação.

O cortejar mútuo, entre o actual aparelho russo e a extrema-direita iniciou-se, de forma estruturada, em 2012, quando a Universidade de Herzen, São Petersburgo, realizou um ciclo de conferências sobre a mundialização. Um dos convidados foi o académico francês Alan de Benoist, um teórico da nova-direita europeia e do pan-nacionalismo europeu, nome de referência da extrema-direita francesa (embora nunca próximo á FN) e europeia. Benoist foi um sucesso em São Petersburgo, sendo as suas intervenções nos diversos painéis da conferência intensamente aplaudidos, em particular pelos sectores próximos a Putin. Um ano depois Benoist recebe, em Paris, Alexandre Duguin, um politólogo russo, com um vasto trabalho académico na área das Ciências Politicas, teórico da Eurásia e um nacional-bolchevique (corrente politica da extrema-direita russa, tendência nacional-comunista, que viam no liberalismo um factor de decadência do Estado russo e que pretendiam que a Russia reassumisse a grandeza e o peso geopolítico e geoestratégico da URSS), actualmente muito próximo a Putin e considerado um dos ideólogos da sua administração. Após esse encontro intensificou-se o rodopio entre figuras académicas da extrema-direita e académicos russos, encontros que pouco tempo depois foram alargados aos círculos políticos e partidários, até chegar á situação presente, em que Moscovo satisfaz as necessidades de tesouraria dos partidos de extrema-direita, para que estes possam cumprir os respectivos "desígnios nacionais".

O discurso da elite dominante russa exalta o "regresso à grandiosidade russa". Destaca a URSS como exemplo dessa grandiosidade épica, mas vai mais além, mergulha no passado, recorrendo aos períodos heroicos da Historia Russa, a fundação do Estado, a defesa da cristandade, a afirmação da família, a virilidade e uma intransigente defesa da soberania nacional, subordinando a esta a soberania popular, que apenas deverá exercer-se em função dos interesses nacionais, sendo o Estado um órgão da Nação e não uma imanação da soberania popular. A nação acima da democracia e esta tendo os interesses da nação como limites á sua actuação. Tudo imana da soberania nacional, inclusive a soberania popular, que apenas é legítima em função dos seus desígnios nacionais, embora a soberania popular seja um mecanismo legitimador.

Este discurso assenta sobre um Estado paternalista e protecionista, o quanto baste (não muito, porque já lá vão os tempos do czar protector dos pobres e dos fracos, do Papá dos Povos - como Estaline era apresentado no Estado Soviético - e do esclerótico e estereotipado socialismo real, do Estado de todo o Povo), gestor de clientelismos diversos, como é a Federação Russa. Mas este discurso seria um prato frio, servido ao balcão e digerido em pé, se não fosse aquecido e apimentado por duas especiarias fundamentais nos conturbados tempos que correm diante dos nossos cinco sentidos: o anti-imperialismo norte-americano e o antiliberalismo.

O elemento anti-imperialista, no actual discurso russo (e que é um elemento comum - central na Russia e na China, equilibrado no Brasil e na Africa do Sul, difuso na India - no "capitalismo BRICS", a ultima versão do capitalismo nacional e social ensaiado pelo nacionalismo burguês de Bandung) está directamente ligado ao retomar da "grandiosidade" da Russia, ao regresso da Russia como superpotência (um mito fundacional do Estado russo, fundado sobre as ruinas do Imperio Romano do Oriente - Bizâncio, o centro do mundo euroasiático), como Nova Roma, na defesa da cristandade, ou guardião invencível dos valores cristãos, quando das invasões do "anticristo" Napoleão, ou, ainda, como protector do proletariado internacional e dos Povos do mundo, no período soviético. O anti-imperialismo no discurso russo tem, ainda, dois outros aspectos: um assente na agressão camuflada e na pressão aberta realizada pela NATO junto às fronteiras russas e o outro como elemento de camuflagem de intenções. O nacionalismo russo é imperial e os factores federativos não constituíram anticorpos imperiais devido á estrutura estatal e á organização institucional (alicerçada no principio absoluto da soberania nacional. As estruturas federativas só conseguem impedir a estrutura imperial se for alicerçada na soberania popular, mas com mecanismos de participação bem alicerçados e comparáveis aos mecanismos de representatividade, caso contrário repetem o erro norte-americano e a estrutura federal torna-se um suporte de desenvolvimento á superestrutura imperialista).

O antiliberalismo é a segunda característica do discurso de Putin. É em parte uma consequência do conturbado período pós-Perestroika, em que o alcoolizado e corrupto Ieltsin geria as actividades dos bandos locais, enquanto o Estado e as instituições públicas paralisavam e entravam em colapso. Também porque o liberalismo na Russia está historicamente ligado a períodos de ruptura social (fim do czarismo absolutista, monarquia constitucional, período pré-soviético), onde o papel tradicional do Estado bizantino que caracteriza a superestrutura política russa é alterado, enfraquecendo o seu papel.

O antiliberalismo  (que em diferentes graus caracteriza o capitalismo BRICS: forte na Russia e na China, menos na India e no Brasil e fraco na Africa do Sul. No entanto predomina como cultura institucional) comporta uma crítica ao capitalismo, não como modo de produção mas devido á sua aleatoriedade. Capitalismo? Sim! Dizem-nos os antiliberais (um amalgama de tralha ideológica e de interesses cartelizados) mas com planeamento, com controlo, com "responsabilidade social".

IV - O acordo com a Turquia também deve ser observado no âmbito desta Santa-Aliança. O regime de Ancara é um regime populista, que tenta adiar uma inadiável explosão social latente, através de namoros á UE, numa tentativa de criar uma situação negociável com as classes médias urbanas e com sectores das elites económicas e financeiras urbanas, todos profundamente europeizados (em termos culturais e ao nível dos interesses). Por outro lado existe o problema das elites rurais e das populações rurais, islamizadas e desconfiadas em relação á Europa. Mas na panela de pressão turca cozinham ainda o factor curdo, o factor arménio e de outras comunidades que anseiam pelo momento de assumirem as suas aspirações históricas de forma autónoma ou autodeterminada. Também aqui a divisão UE/ Eurásia é sentida de diferentes formas.

Tal como acontece com a extrema-direita europeia, Putin vê na Turquia um aliado em potência, que poderá criar uma estratégica beliscadura na NATO (um revês geoestratégico) e representar um importante revês geoeconómico e geopolítico na UE. Tal como as pontes abertas á extrema-direita (que remontam ao seculo XIX, com as escolas do pensamento contrarrevolucionário europeu a identificarem-se com o papel do Imperio czarista, mas que fazem-se sentir no período soviético com Estaline e mesmo mais tarde, com Brejnev que olhou a vitória de Mitterrand na França com desconfiança, preferindo manter as relações com a direita francesa, gaullista), também este acordo com a Turquia é um retomar histórico de alianças de outros tempos.

O projecto euroasiático pode servir dois fins contrários: pode ser um projecto de mudança, de grande desenvolvimento económico, social e politico da Eurásia, enquadrando a região na economia-mundo como uma voz activa, ou poderá representar mais um cenário de preservação das respectivas elites de Poder (russa e turca), servindo o discurso nacionalista para consumo interno e para consumo externo dos desesperados (à boa maneira populista), tendo como função ser mais um angariador de mão-de-obra barata para a economia politica dos monopólios globais.

Seja como for, o mundo em que fomos criados já pertence ao foi, já não é. E por debaixo dos nossos pés - estejamos na Europa, nas Américas, na Asia, Eurásia, Oceânia ou África - o terreno está minado. E é com a mina na lavra que iremos ter de sacudir a carga que nos colocaram nas costas e quebrar as agrilhetas que nos aprisionam, a uns como bestas de carga, a outros como animais de estimação.

Notas:
Withney, M. Talking Turkey http://www.counterpunch.org/2014/12/05
Koller, F. Moscou: la Mecque des mouvements reactionnaires  Le Temps, 29-30/12/2014
Rozeff, M.S. House Resolution 758: A work of fiction http://www.leerockwell.com, 09/12/2014
Groh, D. La Russia e l'autocoscienza d'Europa Ed. Einaudi, Turim, 1980

Sem comentários:

Mais lidas da semana