sábado, 13 de dezembro de 2014

UMA FRUTA QUE NÃO CAIU! – II



Martinho Júnior, Luanda (textos anteriores) 

4 – As frutas que ficaram amadurecidas do colonialismo espanhol em 1898, por via do Tratado de Paris, mereceram a cobiça daqueles que na altura estavam já a realizar a passagem do expansionismo para o imperialismo, ou seja, prontas a serem recolhidas pelos Estados Unidos, vencedores das guerras hispano-americanas e subversivos das independências dos autóctones em busca de liberdade, de independência e de soberania.

À excepção de Guam, uma pequena ilha da Micronésia que acabou por ser irremediavelmente destinada a base naval dos Estados Unidos (que assim tiraram partido de sua privilegiada localização geo estratégica), com maior ou menor vigor, capacidade de resistência e êxito, a resposta dos povos das Filipinas, de Porto Rico e de Cuba não se fizeram esperar.

De todas essas frutas amadurecidas, foi Cuba que vincou desde logo um paradigma a um nível tal que, se por um lado impediu qualquer processo de aculturação por imposição dos interesses anglo-saxónicos, pelo outro tornou sua própria cultura hispânica num baluarte de resistência, de princípio com intensidade variável, para depois com a revolução, se tornar um processo heróico de identidade, perseverança, dignidade e de liberdade, que transvasou por via do internacionalismo e da solidariedade as suas fronteiras.

5 – Durante o século XIX que em toda a América Latina se manifestavam três tendências:

- Aquela que em desespero se prendia ao colonialismo de Espanha, em extinção;

- A que libertava o continente instaurando a independência, em ascendência;

- A que começava a subverter a independência, procurando o trespasse da era colonial para uma era neo colonial, imposta por processos imperialistas e próprios do carácter da hegemonia unipolar.

A ruptura com o colonialismo hispânico reflectiu-se também em relação a Cuba, por via das lutas travadas no continente, como através das lutas encetadas pelos próprios patriotas cubanos.

Na génese da luta pela liberdade, a inteligência de José Marti em Cuba já fazia o diagnóstico correcto da evolução da situação latino-americana:

“Para que a ilha seja norte-americana não necessitamos de fazer esforço algum, porque, se não aproveitarmos o pouco tempo que nos resta para impedir que o seja, por sua própria decomposição virá a sê-lo. É isso que espera esse país (Estados Unidos) e a isso nos devemos opor nós mesmos”…

6 – Na Guerra Grande (de 1868 a 1878) e na Guerra Pequena (em 1879 e 1880), em que os patriotas cubanos procuraram sacudir o colonialismo espanhol, o oportunismo norte-americano foi-se fazendo sentir, entre apoio velado a Espanha e uma neutralidade tão ambígua, que jogava com uns e com outros, esperando a oportunidade de pôr o pé na ilha e determinar o seu destino.

De oportunismo em oportunismo, a grande oportunidade surgiu em 1898, quando ignorando as vantagens dos patriotas libertadores conseguidas durante 30 anos de esforços inauditos (eles dominavam o leste da ilha e lançavam colunas no ocidente, que os espanhóis já não podiam neutralizar), os instrumentalizaram, beneficiando do colapso das forças coloniais espanholas.

Entre a tese cubana de liberdade e a antítese retrógrada de Espanha colonial, os Estados Unidos forçaram a introdução dos seus interesses imperialistas de domínio como uma síntese.

Desse modo instalaram não só o seu poderio militar entre 1898 e 1902, mostrando desde logo ao que vinham: multiplicaram os empreendimentos privados, apossaram-se das melhores terras e na sua maior percentagem e começaram a controlar uma parte cada vez mais substancial da economia e das finanças, por via directa ou por via de seus agentes locais, sob o signo do Tratado de Paris de 10 de dezembro de 1898 e da famosa Emenda Platt (28 de fevereiro de 1901).

A esses “pilares”, os Estados Unidos haveriam de juntar, para que o estrangulamento se tornasse mais eficaz, o ainda mais injusto Tratado de Reciprocidade Comercial entre Cuba e os Estados Unidos, que entrou em vigor a 27 de dezembro de 1903, que rematava o domínio, tornando-o ainda mais avassalador.

Foi nessa altura que os Estados Unidos provocaram a dissolução do exército libertador, “los mambises”… de forma a que, dispersos os seus membros, compensação alguma lhes fosse atribuída, com o objectivo óbvio de neutralizar por completo os que se haviam proposto à independência.

Assim se introduziu o neo colonialismo em Cuba, que viria a vigorar de 1902 a 1958! 

Foto: Os antecedentes da intervenção do livro “La fruta, que no cayó”, sobre a intervenção dos Estados Unidos em Cuba antes da Revolução, da autoria de Ángel Jiménez González e René González Barrios.

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