Martinho
Júnior, Luanda (textos anteriores)
4
– As frutas que ficaram amadurecidas do colonialismo espanhol em 1898, por via
do Tratado de Paris, mereceram a cobiça daqueles que na altura estavam já a
realizar a passagem do expansionismo para o imperialismo, ou seja, prontas a
serem recolhidas pelos Estados Unidos, vencedores das guerras
hispano-americanas e subversivos das independências dos autóctones em busca de
liberdade, de independência e de soberania.
À
excepção de Guam, uma pequena ilha da Micronésia que acabou por ser
irremediavelmente destinada a base naval dos Estados Unidos (que assim tiraram
partido de sua privilegiada localização geo estratégica), com maior ou menor
vigor, capacidade de resistência e êxito, a resposta dos povos das Filipinas,
de Porto Rico e de Cuba não se fizeram esperar.
De
todas essas frutas amadurecidas, foi Cuba que vincou desde logo um paradigma a
um nível tal que, se por um lado impediu qualquer processo de aculturação por
imposição dos interesses anglo-saxónicos, pelo outro tornou sua própria cultura
hispânica num baluarte de resistência, de princípio com intensidade variável,
para depois com a revolução, se tornar um processo heróico de identidade,
perseverança, dignidade e de liberdade, que transvasou por via do
internacionalismo e da solidariedade as suas fronteiras.
5
– Durante o século XIX que em toda a América Latina se manifestavam três
tendências:
-
Aquela que em desespero se prendia ao colonialismo de Espanha, em extinção;
-
A que libertava o continente instaurando a independência, em ascendência;
-
A que começava a subverter a independência, procurando o trespasse da era
colonial para uma era neo colonial, imposta por processos imperialistas e
próprios do carácter da hegemonia unipolar.
A
ruptura com o colonialismo hispânico reflectiu-se também em relação a Cuba, por
via das lutas travadas no continente, como através das lutas encetadas pelos
próprios patriotas cubanos.
Na
génese da luta pela liberdade, a inteligência de José Marti em Cuba já fazia o
diagnóstico correcto da evolução da situação latino-americana:
“Para
que a ilha seja norte-americana não necessitamos de fazer esforço algum,
porque, se não aproveitarmos o pouco tempo que nos resta para impedir que o
seja, por sua própria decomposição virá a sê-lo. É isso que espera esse país
(Estados Unidos) e a isso nos devemos opor nós mesmos”…
6
– Na Guerra Grande (de 1868 a
1878) e na Guerra Pequena (em 1879 e 1880), em que os patriotas cubanos
procuraram sacudir o colonialismo espanhol, o oportunismo norte-americano
foi-se fazendo sentir, entre apoio velado a Espanha e uma neutralidade tão
ambígua, que jogava com uns e com outros, esperando a oportunidade de pôr o pé
na ilha e determinar o seu destino.
De
oportunismo em oportunismo, a grande oportunidade surgiu em 1898, quando
ignorando as vantagens dos patriotas libertadores conseguidas durante 30 anos
de esforços inauditos (eles dominavam o leste da ilha e lançavam colunas no
ocidente, que os espanhóis já não podiam neutralizar), os instrumentalizaram,
beneficiando do colapso das forças coloniais espanholas.
Entre
a tese cubana de liberdade e a antítese retrógrada de Espanha colonial, os
Estados Unidos forçaram a introdução dos seus interesses imperialistas de
domínio como uma síntese.
Desse
modo instalaram não só o seu poderio militar entre 1898 e 1902, mostrando desde
logo ao que vinham: multiplicaram os empreendimentos privados, apossaram-se das
melhores terras e na sua maior percentagem e começaram a controlar uma parte
cada vez mais substancial da economia e das finanças, por via directa ou por
via de seus agentes locais, sob o signo do Tratado de Paris de 10 de dezembro
de 1898 e da famosa Emenda Platt (28 de fevereiro de 1901).
A
esses “pilares”, os Estados Unidos haveriam de juntar, para que o
estrangulamento se tornasse mais eficaz, o ainda mais injusto Tratado de
Reciprocidade Comercial entre Cuba e os Estados Unidos, que entrou em vigor a
27 de dezembro de 1903, que rematava o domínio, tornando-o ainda mais
avassalador.
Foi
nessa altura que os Estados Unidos provocaram a dissolução do exército
libertador, “los mambises”… de forma a que, dispersos os seus membros,
compensação alguma lhes fosse atribuída, com o objectivo óbvio de neutralizar
por completo os que se haviam proposto à independência.
Assim
se introduziu o neo colonialismo em Cuba, que viria a vigorar de 1902 a 1958!
Foto:
Os antecedentes da intervenção do livro “La fruta, que no cayó”, sobre a
intervenção dos Estados Unidos em Cuba antes da Revolução, da autoria de Ángel
Jiménez González e René González Barrios.
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