Díli,
16 jan (Lusa) - Questões sobre o futuro da participação da PT na empresa de
telecomunicações Timor Telecom (TT) estão a acentuar incertezas em torno da
operadora timorense, revelam à Lusa fontes do setor.
Num
momento de dúvidas sobre o futuro do mercado das telecomunicações em
Timor-Leste, está em causa a maior fatia de capital da Timor Telecom, que pode
vir a ser alienada no processo de reestruturação dos negócios da PT.
Recorde-se
que quando a OI anunciou a intenção de vender a PT à Altice, em dezembro,
explicou que iria definir a estratégia a seguir nos negócios da PT não
alienados na venda, incluindo os investimentos na Africatel e na TT.
Na
TT, a PT tem participações diretas, no valor de 3,05% do capital, e indiretas
de 41,05% através da sociedade Telecomunicações Públicas de Timor (TPT) que
controla, por seu lado, 54,01% do capital da empresa timorense.
O
capital da TPT é controlado pela PT (76%), pela Fundação Harii - Sociedade para
o Desenvolvimento de Timor-Leste (ligada à diocese de Baucau) que controla 18%
e pela Fundação Oriente (6%).
Na
TT o capital está dividido entre a TPT (54,01%), o Estado timorense (20,59%), a
empresa com sede em
Macau VDT Operator Holdings (17,86%), o empresário timorense
Julio Alfaro (4,49%) e a PT Participações SGPS (3,05%).
Com
um monopólio de vários anos, mediante um contrato de concessão com o Estado
timorense que começou em 2002 e durou até 2012 (quando o setor foi
liberalizado), a TT foi, no passado, acusada de preços elevados e serviço
deficiente.
Hoje
a situação mudou, concorrendo, num mercado de apenas 1,4 milhões de habitantes,
com dois outros operadores.
Uma
concorrência que fontes da TT consideram "desleal" porque os dois
operadores são ambos estatais - a indonésia Telkomsel e a vietnamita Telemor -
e, por isso, sem uma pressão equivalente de resultados, não cumprindo outras
exigências legais como as que se referem à contratação.
"O
mercado não aguenta três operadores", disse à Lusa fonte do setor em Díli.
Contactado
pela Lusa, o administrador delegado da TT em Díli, Manuel Capitão Amaro
escusou-se a tecer qualquer comentário sobre o futuro da empresa, remetendo
também questões financeiras para o último relatório e contas publicado,
referente a 2013.
Esse
documento confirma o impacto imediato nas contas da empresa da entrada dos dois
concorrentes, com o EBITDA (resultados operacionais reais antes de provisões,
impostos e amortizações) a cair 26% de 41,59 para 30,77 milhões de euros e os
resultados líquidos a descerem 62,5% de 21,68 para 8,12 milhões de dólares.
Fontes
do setor estimam que essas reduções se mantiveram em 2014 - as contas anuais
ainda não foram publicadas -, fruto do continuado impacto da concorrência, o
que acaba por reduzir o valor da empresa.
Estimativas
sugerem que em 2012, o "melhor ano" da operadora, a empresa poderia
valer entre 200 e 250 milhões de euros e que hoje esse valor pode rondar entre
90 e 110 milhões de euros.
Uma
queda que não reflete a importância que a empresa já teve para os seus
acionistas: entre 2008 e 2012, por exemplo, a TT terá distribuído em dividendos
cerca de 80 milhões de dólares. Só em 2012 (referentes a 2011) foram
distribuídos dividendos no valor de 24,69 milhões de dólares.
Políticas
de distribuições impostas pelos acionistas - e especialmente pela PT - que
obrigaram até a algum endividamento bancário.
Numa
recente análise à situação da TT, o ex-presidente timorense, José Ramos Horta,
recordou que se a liberalização não tivesse avançado a TT acabaria, pelas
regras da própria concessão, a ser transferida para o Estado timorense em 2017.
Fonte
da TT explicou à Lusa que para ficar com a TT, o Estado apenas teria que pagar
aos acionistas 80% dos ativos não amortizados (correspondente aos 80% de
capital que não controla) o que representaria "20 a 25 milhões de
dólares".
Em
vez disso, argumentou Ramos-Horta, "a dita política de liberalização está
a matar a galinha que tem produzido os ovos de ouro".
Por
saber está, agora, se a participação da PT na TT vai ou não ser alienada e se
alguns dos acionistas atuais a comprarão ou, numa solução adicional, se abre a
entrada de outros investidores.
Entre
os cenários possíveis poderá estar também a eventual fusão de dois dos três
operadores, 'acertando' assim a concorrência à dimensão do mercado.
ASP
// JPF
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