sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Futuro da Timor Telecom incerto com dúvidas sobre futuro da participação da PT




Díli, 16 jan (Lusa) - Questões sobre o futuro da participação da PT na empresa de telecomunicações Timor Telecom (TT) estão a acentuar incertezas em torno da operadora timorense, revelam à Lusa fontes do setor.

Num momento de dúvidas sobre o futuro do mercado das telecomunicações em Timor-Leste, está em causa a maior fatia de capital da Timor Telecom, que pode vir a ser alienada no processo de reestruturação dos negócios da PT.

Recorde-se que quando a OI anunciou a intenção de vender a PT à Altice, em dezembro, explicou que iria definir a estratégia a seguir nos negócios da PT não alienados na venda, incluindo os investimentos na Africatel e na TT.

Na TT, a PT tem participações diretas, no valor de 3,05% do capital, e indiretas de 41,05% através da sociedade Telecomunicações Públicas de Timor (TPT) que controla, por seu lado, 54,01% do capital da empresa timorense.

O capital da TPT é controlado pela PT (76%), pela Fundação Harii - Sociedade para o Desenvolvimento de Timor-Leste (ligada à diocese de Baucau) que controla 18% e pela Fundação Oriente (6%).

Na TT o capital está dividido entre a TPT (54,01%), o Estado timorense (20,59%), a empresa com sede em Macau VDT Operator Holdings (17,86%), o empresário timorense Julio Alfaro (4,49%) e a PT Participações SGPS (3,05%).

Com um monopólio de vários anos, mediante um contrato de concessão com o Estado timorense que começou em 2002 e durou até 2012 (quando o setor foi liberalizado), a TT foi, no passado, acusada de preços elevados e serviço deficiente.

Hoje a situação mudou, concorrendo, num mercado de apenas 1,4 milhões de habitantes, com dois outros operadores.

Uma concorrência que fontes da TT consideram "desleal" porque os dois operadores são ambos estatais - a indonésia Telkomsel e a vietnamita Telemor - e, por isso, sem uma pressão equivalente de resultados, não cumprindo outras exigências legais como as que se referem à contratação.

"O mercado não aguenta três operadores", disse à Lusa fonte do setor em Díli.

Contactado pela Lusa, o administrador delegado da TT em Díli, Manuel Capitão Amaro escusou-se a tecer qualquer comentário sobre o futuro da empresa, remetendo também questões financeiras para o último relatório e contas publicado, referente a 2013.

Esse documento confirma o impacto imediato nas contas da empresa da entrada dos dois concorrentes, com o EBITDA (resultados operacionais reais antes de provisões, impostos e amortizações) a cair 26% de 41,59 para 30,77 milhões de euros e os resultados líquidos a descerem 62,5% de 21,68 para 8,12 milhões de dólares.

Fontes do setor estimam que essas reduções se mantiveram em 2014 - as contas anuais ainda não foram publicadas -, fruto do continuado impacto da concorrência, o que acaba por reduzir o valor da empresa.

Estimativas sugerem que em 2012, o "melhor ano" da operadora, a empresa poderia valer entre 200 e 250 milhões de euros e que hoje esse valor pode rondar entre 90 e 110 milhões de euros.

Uma queda que não reflete a importância que a empresa já teve para os seus acionistas: entre 2008 e 2012, por exemplo, a TT terá distribuído em dividendos cerca de 80 milhões de dólares. Só em 2012 (referentes a 2011) foram distribuídos dividendos no valor de 24,69 milhões de dólares.

Políticas de distribuições impostas pelos acionistas - e especialmente pela PT - que obrigaram até a algum endividamento bancário.

Numa recente análise à situação da TT, o ex-presidente timorense, José Ramos Horta, recordou que se a liberalização não tivesse avançado a TT acabaria, pelas regras da própria concessão, a ser transferida para o Estado timorense em 2017.

Fonte da TT explicou à Lusa que para ficar com a TT, o Estado apenas teria que pagar aos acionistas 80% dos ativos não amortizados (correspondente aos 80% de capital que não controla) o que representaria "20 a 25 milhões de dólares".

Em vez disso, argumentou Ramos-Horta, "a dita política de liberalização está a matar a galinha que tem produzido os ovos de ouro".

Por saber está, agora, se a participação da PT na TT vai ou não ser alienada e se alguns dos acionistas atuais a comprarão ou, numa solução adicional, se abre a entrada de outros investidores.

Entre os cenários possíveis poderá estar também a eventual fusão de dois dos três operadores, 'acertando' assim a concorrência à dimensão do mercado.

ASP // JPF

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