“O
povo é meu patrão. O meu compromisso é de servir o povo moçambicano como meu
único e exclusivo patrão” afirmou Filipe Jacinto Nyusi após tomar hoje posse
como o quarto Presidente de Moçambique.
Orlando
Castro – Folha 8 Diário, ontem
De
facto, pelo menos nas intenções, algo parece estar a mudar na mentalidade dos
políticos lusófonos. Essa mudança, como é visível e incontestável, ainda não
chegou a Angola onde, desde 1979, o monarca continua a ser o mesmo. Por vontade
do MPLA ainda demorará aí uns 30 anos a chegar.
Moçambique
já vai no quarto Presidente eleito. Angola, depois da morte de Agostinho Neto,
mantém o mesmo que – por coincidência – nunca foi nominalmente eleito.
Acresce
que, por ser o “escolhido de Deus”, José Eduardo dos Santos nunca dirá, como
diz Filipe Jacinto Nyusi, que “o povo é o seu patrão”. É que o nosso “querido
líder” não tem patrões e é ela o dono disto tudo.
Recentemente,
no dia 29 de Dezembro de 2014, também o Presidente do Parlamento guineense,
Cipriano Cassamá, violou todas as regras, ditas democráticas e civilizacionais,
que vigoram em Angola, ao dizer que pretende em 2015 uma aproximação da
instituição que dirige com os jornalistas para “moralização da sociedade e
combate à corrupção”.
É
evidente, reconheça-se, que a sociedade do MPLA não precisa de moralização, tal
como o país não precisa de combater algo que não existe – corrupção.
Num
encontro de confraternização com os jornalistas na Assembleia Nacional,
Cipriano Cassamá pediu aos jornalistas que se juntem “aos esforços” do
Parlamento para fiscalização da acção governativa, moralização da sociedade,
das más práticas dos agentes públicos e denúncia da corrupção.
Ver
o Presidente Eduardo dos Santos, ou qualquer outro dos seus vassalos, a pedir a
ajuda dos jornalistas para fiscalizar a acção governativa é tão possível como
ver um bagre a subir a uma palmeira.
Aliás,
o regime do MPLA rege-se por outras variantes da acção governativa que, no
essencial, fazem dos angolanos meros escravos às ordens do senhor feudal, a
quem tudo é permitido. É claro que, no que tange aos jornalistas, esses são uma
subespécie que importa incluir rapidamente na cadeia alimentar dos jacarés.
Recorde-se
que o líder do Parlamento guineense pediu mesmo que haja “uma cumplicidade”
entre o hemiciclo e os jornalistas na persecução daqueles objectivos, que disse
serem comuns às duas instituições.
Cipriano
Cassamá tem uma visão distorcida do que é a democracia e um Estado de Direito,
ao contrário de José Eduardo dos Santos. Os guineenses esquecem-se que, afinal,
o regime angolano segue as directrizes estratégicas das mais evoluídas
democracias do mundo, caso da Coreia do Norte e da Guiné… Equatorial.
Cipriano
Cassamá afirmou ainda algo que está nos antípodas de Angola. Disse ele que não
pretende colocar em causa a liberdade e independência dos jornalistas,
realçando que o seu papel “é imprescindível para a afirmação da democracia” na
Guiné-Bissau.
Jornalistas
indispensáveis para “a afirmação da democracia”? O homem é matumbo, terá
comentado Eduardo dos Santos.
“Não
há democracia sem verdadeira liberdade de expressão que é garantida pelos
órgãos de comunicação social e pelos jornalistas”, observou Cipriano Cassamá,
que espera que 2015 seja um ano de consolidação institucional do Estado
guineense e que traga “mais qualidade democrática” no próprio Parlamento.
O
presidente do Parlamento agradeceu a cobertura mediática que o órgão
legislativo tem tido e prometeu trabalhar com o Governo para a melhoria das
condições laborais dos jornalistas do país.
Tudo
leva a crer que Cipriano Cassamá será, se teimar nestas ideias, considerado
persona non grata… em Angola.
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