A
oposição destacou a "afinidade" e até "cumplicidade" de
Cavaco Silva com a maioria governamental como a marca dos mandatos do chefe de
Estado, mantendo a exigência de dissolução da Assembleia da República, exceto o
PS.
A
cerca de um ano da saída do "mais alto magistrado da nação" do
Palácio de Belém, o vice-presidente da bancada parlamentar socialista Marcos
Perestrello desejou que Cavaco "garanta que tudo decorra como deve
decorrer num país com uma democracia madura", pois "as eleições estão
aí à porta".
"Tem
demonstrado, com particular incidência nos últimos tempos, uma afinidade,
talvez um pouco excessiva, com os partidos da maioria e com o Governo. O meu
desejo para o mandato remanescente é o de que se lembre de que é ou deveria ser
o Presidente de todos os portugueses", disse Perestrello à Agência Lusa,
esperando que Cavaco marque "distância em relação à política do
Governo" para assegurar "que os portugueses vão poder exercer as
escolhas livre e conscientemente, sem interferências inadequadas".
O
deputado e presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS
"caraterizaria os dois mandatos como desequilibrados, no sentido em que
nem sempre" o antigo primeiro-ministro "olhou da mesma forma para os
mesmos problemas".
"Se
nos recordarmos do que foram as afirmações, por exemplo, em relação à dívida e
ao défice e o que são hoje em relação a uma dívida que é muito maior,
constatamos que há um certo desequilíbrio na forma como apreciou o mesmo
problema. A própria avaliação que faz da situação do país também não
corresponde à realidade e à apreciação que os portugueses fazem", criticou
Perestrello.
O
membro da comissão política do comité central do PCP Rui Fernandes fez "um
balanço naturalmente crítico e negativo de um Presidente que tem uma conceção e
uma prática de apoio às medidas e opções políticas que o Governo tem vindo a
adotar e ajudaram ao caminho do desastre a que o país foi conduzido".
"Temos
hoje um país com mais dívida, mais empobrecido, em que o conjunto de oportunidades
para a juventude são desastrosas, que está com mais desemprego e cada vez menos
tem capacidades próprias para o seu desenvolvimento, com a alienação de
importantes empresas e setores estratégicos", salientou, exemplificando
com as situações da TAP e da PT.
O
dirigente comunista previu que Cavaco Silva "não terá particulares
desafios" no último ano de exercício do cargo porque "colocou-se a
ele mesmo o desafio de querer ser o protagonista das soluções futuras para o
país".
"Daí
os discursos e apelos sucessivos a entendimentos e concertações entre as forças
que conduziram, ao longo dos anos, o país à situação em que se encontra. Cada
dia que passa é mais umas maldades que vêm para os portugueses",
esclareceu, voltando a defender eleições antecipadas.
O
líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, resumiu a atuação do Presidente,
"sobretudo neste segundo mandato" à palavra "cumplicidade",
dadas "as maldades que o Governo fez ao país".
"Há
um momento fundamental -- aquela crise de julho de 2013, quando o irrevogável
Paulo Portas bate com a porta e Vítor Gaspar (ministro das Finanças) já tinha
saído e ficou a batata quente na mão do Presidente. Aquela que era a saída
fácil, de levar um país cansado da troika e da austeridade a eleições, não teve
no Presidente a clareza e a coragem e teve nele o garante desta paz podre. É a
marca de que Cavaco nunca se vai libertar", vincou.
O
deputado de "Os Verdes" José Luís Ferreira também avançou um
"balanço globalmente negativo", precisamente pelo "comportamento
de certa cumplicidade com as políticas deste Governo, que têm vindo a
empobrecer os portugueses -- ganham menos ao fim do mês, pagam mais impostos,
trabalham mais dias por semana, viram fugir os feriados, têm menos serviços
públicos".
"Por
outro lado, a Presidência da República tem promulgado vários diplomas cuja
inconstitucionalidade é visível. Foi o caso de alguns Orçamentos do Estado, do
Código do Trabalho e muitos outros", lembrou.
Lusa,
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