terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O JOGO DA CORDA



Inês Cardoso – Jornal de Notícias, opinião

Publicado no dia em que ia jogar-se mais um round das negociações cruciais para o futuro da Grécia, o artigo de opinião do ministro Varoufakis, ontem, no "The New York Times", intitulava-se "Sem tempo para jogos na Europa". Mas o que saiu da reunião do Eurogrupo foi precisamente uma versão mais elaborada do tradicional jogo da corda: cada uma das partes continua a puxar sem ceder um milímetro, a ver qual a equipa que primeiro irá cair.

As declarações de ontem demonstram que o recurso à chantagem está a ganhar força. O Eurogrupo faz um ultimato e diz que apenas volta a sentar-se para negociar, sexta-feira, se a Grécia aceitar o prolongamento do resgate da troika. O ministro das Finanças grego contrapõe que os ultimatos nunca resultaram em nada de bom para a Europa, depois de se mostrar intransigente quanto aos termos "inaceitáveis" da proposta.

Percebe-se, pelo endurecimento do discurso de parte a parte, que haverá vários países dispostos a deixar cair a Grécia. Importa, no entanto, recordar que a questão não é simplesmente de financiamento. É difícil prever os efeitos de uma saída da Grécia da Zona Euro, num contexto que é já de instabilidade à partida. O desemprego elevado, o risco de deflação e as dificuldades em relançar a economia em diversos países europeus são fatores que obrigam a olhar para 2015 sem expectativas demasiado otimistas.

Junte-se à instabilidade económica o descontentamento social e a proliferação de fenómenos políticos que capitalizam, nas margens quer da Esquerda quer da Direita, o descontentamento das populações. Obtém-se um cozinhado polvilhado de ingredientes picantes, que tanto pode recolocar a Europa num novo patamar de diálogo e entreajuda, como representar, pelo contrário, a sua fragmentação.

O tempo não será de joguinhos, mas de tentativa equilibrada de diálogo. Porque, no jogo da corda, nem sempre há vitórias: acontece todos caírem com espalhafato no chão, sem que da medição de forças saia mais do que o reconhecimento da inutilidade da força.

*Sudiretora

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