O
número de pobres não pára de aumentar e atinge hoje dois milhões e setecentos
mil portugueses. Um número que é o maior libelo acusatório à política de
direita e seus executores, ontem pela mão do PS hoje pela mão do PSD/CDS-PP,
considera o PCP.
O
tema da pobreza saltou para a agenda parlamentar na semana transacta, em debate
de actualidade suscitado pela bancada comunista, motivado sobretudo pelos mais
recentes dados do INE que demonstram de forma inequívoca um agravamento da
pobreza e das desigualdades.
Indicadores,
todos eles, que deitam por terra a narrativa difundida pela máquina de
propaganda do poder, segundo a qual não só «valeu a pena os sacrifícios» como
estarão à vista os «bons resultados» da governação.
Nessa
tecla bateram as bancadas da maioria, alternando o coro de elogios aos supostos
méritos da acção do Governo com o passa culpas ao PS por ter deixado o «País à
beira da bancarrota».
Mas
este foi um debate onde ficou sobretudo patente o antagonismo entre, por um
lado, o Governo e a sua maioria, apostados em disfarçar a pobreza e suas
causas, e, por outro lado, a bancada comunista, determinada não só na denúncia
do problema como no encontrar de respostas que combatam a pobreza.
«O
Governo conseguiu em tempo de crise e contenção manter o índice de pobreza ao
nível europeu», afirmou António Rêgo, do CDS-PP, depois de ter desfiado um rol
de medidas em sua opinião abonatórias para o Executivo, como as «cantinas
sociais», a «tarifa social para a energia», o «descongelamento das pensões
rurais e sociais».
«O
País deu a volta. Foi capaz de recuperar, de criar emprego, combater a
pobreza», proclamou, por seu lado, Adão Silva, do PSD, depois de insistir na
mistificação de que o «Governo combateu as situações de exclusão».
Falsidades
«O
País não está melhor», ripostou o deputado comunista Jorge Machado, contestando
que haja «diminuição do desemprego» ou «recuperação» da nossa soberania ou da
economia, como falsamente o Governo afirma. Há, sim, é mais desemprego do que
em 2011, mais entrega de património ao estrangeiro, mais declínio e afundamento
nacional, um País mais endividado, considerou o deputado do PCP, para quem os
dados do INE ilustram de forma peremptória a «dura realidade que os portugueses
enfrentam e as consequências da política de direita e das opções deste
Governo».
Dados
do INE que são, aliás, um desmentido claro à declaração do primeiro-ministro de
que a austeridade atingiu mais os ricos do que os pobres. «Com este Governo os
pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos», realçou
Jorge Machado, que não escondeu a sua indignação por Passos Coelho ter dito que
os dados de 2013 do INE «não reflectem a situação actual». «É um embuste,
porque sabe muito bem que a realidade de 2014 e 2015 não é melhor, porque o que
mudou, mudou para pior», acusou, antes de enumerar os principais factores que
concorrem para esse agravamento sem precedentes da pobreza em Portugal, com
raízes nas opções políticas dos PEC e da troika, sobretudo deste Governo
PSD/CDS-PP: «os cortes nos salários, nas reformas, nas prestações sociais, o
gigantesco aumento de impostos sobre quem trabalha e o ataque aos serviços
públicos.»
E
por isso Jorge Machado não hesitou em concluir que todos os dados convergem
para uma leitura objectiva: «o Governo PSD/CDSD-PP está a escrever uma das
páginas mais negras da nossa História e a provocar o pior agravamento da
pobreza no nosso País desde o fascismo».
Contraste
chocante
«Empobrecer
milhões para engordar os bolsos de meia dúzia», assim se deveria titular, em
bom rigor, o programa do Governo, face ao que Jorge Machado considerou ser a
«forma obscena» como os ricos ficam cada vez mais ricos, enquanto a pobreza
cresce dramaticamente em número e intensidade.
No
entender do deputado do PCP, quem tem razões – e muito boas razões – para
«atirar foguetes e falar em sucessos» são os «milionários, os grupos
económicos, esses que engordam à custa da exploração e da pobreza dos
trabalhadores».
É
que sendo o ano em que se registou o mais alto nível de pobreza da última
década, 2013 foi, simultaneamente, o ano em que 7500 milhões de euros foram
garantidos à banca, em que foram pagos 7000 milhões de euros em juros da
dívida, em que saíram dos cofres do Estado 850 milhões para PPP, 1008 milhões
para contratos SWAP e largos milhões em benefícios fiscais. Mais, foi o ano em que
houve mais negócios à custa do desmantelamento dos serviços públicos, em que se
procedeu a mexidas na legislação laboral para agravar a exploração dos
trabalhadores.
Com
tantos e tão pesados «sacrifícios» que o Governo lhes impôs em 2013, está bem
de ver, os principais grupos económicos só têm razões para se queixar, como
aliás se pode ver pelos modestos lucros obtidos, por exemplo, pela EDP (1005
milhões de euros), a Portucel (210 milhões), o BES (517 milhões), a GALP (310
milhões), a SONAE (319 milhões) ou o Grupo Jerónimo Martins (382 milhões).
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