O
activista de direitos humanos, José Marcos Mavungo, coordenador de uma
manifestação marcada para hoje na província angolana de Cabinda, foi detido
pela polícia, segundo informação da organização não-governamental Mãos Livres.
O representante
da associação Mãos Livres em Cabinda, Simão Madeca, disse que José Marcos
Mavungo foi detido às 07:00 (sábado, 14) quando se dirigia à igreja Imaculada da Conceição
para assistir à missa.
Em
causa está a realização de uma manifestação contra a má governação e as
violações dos direitos humanos no enclave angolano, que não foi autorizada pelo
Governo Provincial de Cabinda.
O
propósito da marcha de hoje é, antes de mais nada, fazer ouvir a voz do povo
sofredor de Cabinda. Por isso exigem o cumprimento da lei e dos padrões
universais referentes à administração da justiça e da boa gestão económica. E,
de facto, a rua é um local privilegiado para o exercício da cidadania.
A
manifestação é pois uma reacção contra as violações dos Direitos Humanos e o
actual modelo de governação. Ao longo destes últimos 9 anos de ilegalização da
Mpalabanda, a única Associação dos Direitos Humanos de Cabinda, a classe
política dominante esteve sempre distante da realidade de Cabinda, só se interessando
em repetir promessas políticas que não se concretizam, ao mesmo tempo que vai
pilhando as riquezas de Cabinda. Os actos protagonizados pelos dirigentes
políticos são de natureza a impedir o desenvolvimento de Cabinda como povo.
A
Polícia “inundou as ruas” de Cabinda, aumentando o clima de medo. O chefe da
Casa Militar da Presidência, general Kopelipa, deslocou-se à província para
comandar a operação de repressão.
Para
além de José Marcos Mavungo, foi detido também pela Polícia da Ordem Pública o
advogado e jurista Arão Temba, que está retido no posto fronteiriço do Massabi.
A
manifestação fora convocada por cidadãos “com o propósito de denunciar os
atropelos aos Direitos Humanos e a falta de transparência na administração do
erário público e exigir o cumprimento da Lei e dos padrões universais
referentes à administração da Justiça e da boa gestão económica”, de acordo com
o comunicado de convocação.
O
governo da província, porém, depois de se reunir com os organizadores, decidiu
proibir a marcha, por considerá-la “um perigo para a ordem pública”. Em
comunicado de imprensa, o executivo declinou responsabilidades pelas
consequências que vierem a sofrer aqueles que aderirem à manifestação.
Segundo
a Voz da América, a decisão de proibir a marcha foi tomada após a chegada a
Cabinda do chefe da casa Militar da Presidência, o General Kopelipa.
Apesar
da interdição, os organizadores decidiram manter a convocatória. Em entrevista
à Deutsche Welle, José Marcos Mavungo afirmou que, pela lei angolana, “a
manifestação não carece de qualquer autorização das autoridades. Simplesmente
os manifestantes informam as autoridades de que vai haver uma manifestação,
definem os objectivos da mesma e então pedem ao governo para que a polícia
esteja presente com a missão de evitar vandalismo e distúrbios. Nós seguimos
todos os trâmites legais”.
Mavungo
disse ainda que “todas vezes que em Cabinda foram realizadas manifestações,
houve uma presença bem forte da polícia, tanques militares, helicópteros de
combate e outros meios para intimidar e reprimir as pessoas. E já dissemos que
quem não arrisca não petisca. A liberdade tem um preço e estamos preparados
para pagar este preço”.
A
marcha foi convocada num momento em que comissões de inquérito da Presidência
da República e do Bureau Político do MPLA investigam várias situações de
desvios de fundos e má gestão na governação de Cabinda.
Em
documentos e cartas endereçadas ao presidente José Eduardo dos Santos, grupos
de cidadãos de Cabinda criticaram com efeito a má gestão da governadora Aldina
Matilde da Lomba Catembo.
Também
o secretariado da UNITA em Cabinda acusou a governadora de estar a
enriquecer-se com fundos públicos e de criar uma elite de governação composta
por membros de sua família.
Folha
8 (ao) - ontem
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