domingo, 8 de março de 2015

Macau. ESCOLAS QUE NÃO SÃO PARA MENINOS




Macau, China, 08 mar (Lusa) -- Não partilham carteiras nas salas de aula, não brincam juntos nos corredores nem tão pouco trocam olhares nos intervalos. Em Macau, há escolas onde não entram rapazes.

Embora todas enverguem um conjunto azul-escuro, com iniciais da escola grafadas em capitulares amarelas, e vincados colarinhos brancos, Mandy, Daisy e Sally têm mais em comum do que o uniforme da Escola Nossa Senhora de Fátima.

Passaram 14 de 18 anos de vida numa escola exclusivamente de raparigas, têm poucas amizades do sexo oposto, mas afirmam-se "satisfeitas", "confortáveis" e "mais descontraídas".

Esse mundo, ainda só delas, "sem rapazes a distrair", vai deixar de o ser, quando embarcarem, em breve, na experiência (duplamente) nova da universidade e do convívio regular com rapazes.

Ter trilhado este percurso não é para nenhuma delas "uma grande questão" e até elencam as vantagens: "Não temos que nos preocupar com a forma como olham para nós. Podemos dizer e fazer o que quisermos, falar alto e cantar nos intervalos", sintetiza Daisy.

Já Sally fala da sensação de independência, nomeadamente nas aulas de Educação Física: "Somos nós que temos de carregar os sacos pesados para cima e para baixo", enquanto Mandy fala da menor pressão que sente relativamente às raparigas de escolas mistas devido às diferenças entre géneros na aprendizagem de disciplinas ligadas às Ciências.

Localizada no bairro de Toi San, uma das zonas de maior densidade populacional, a Escola Nossa Senhora de Fátima conta com mais de 1.700 alunas -- divididas por 54 turmas de três diferentes níveis de ensino.

"Melhorar a posição da mulher na sociedade de Macau é um dos nossos focos, como tem sido, aliás, nos últimos 60 anos", afirmou a diretora Cecilia Lao, reconhecendo que a capacidade de comunicação "pode ser uma preocupação" e que, por isso, a escola tem reforçado atividades e programas de intercâmbio, envolvendo rapazes, para, em simultâneo, melhorar a sua confiança".

Também não passam rapazes pelos portões da Secção Inglesa do Colégio Santa Rosa de Lima que Venus, de 17 anos, frequenta desde criança, com a irmã a seguir-lhe os passos.

O facto de ser presidente da associação de estudantes proporciona-lhe um contacto mais regular com rapazes da sua idade, um processo que assimila com naturalidade, embora admita que "algumas colegas ficam nervosas e não sabem como lidar com eles".

A jovem não deixa de notar, porém, as diferenças relativamente às amigas de escolas mistas. "No meu telemóvel só tenho nomes de raparigas, no caso delas é mais equilibrado".

Para Shelley Grace Calangi, professora do Santa Rosa de Lima, o ensino diferenciado é "um desafio muito interessante" do ponto de vista do docente: "Temos que adaptar os métodos de ensino às diferentes necessidades e a todas as diferentes capacidades".

Além disso, "permite explorar assuntos de uma forma mais aprofundada, nomeadamente ao nível da educação sexual", defende, apesar de ressalvar que "ter diferentes perspetivas é sempre mais saudável e benéfico" e que "se encorajam as estudantes a continuar a desenvolver interesse pela opinião e postura do outro".

"O facto de ser o mesmo género limita, de certa maneira, a perspetiva do mundo porque tendem a vê-lo da perspetiva do seu próprio sexo e também é desafiante porque certas curiosidades não podem ser completamente compreendidas na altura adequada", observa a professora de Geografia, identificando também a ocorrência de "problemas de identidade".

"Há falta de encontros com rapazes, pelo que elas parecem imaturas quando estes se propiciam. Como não tiveram experiências, não sabem o que dizer, como agir, o certo e o errado", conclui.

Macau tem 87 escolas, das quais oito adotam o sistema de ensino diferenciado, que radica na Igreja Católica.

DM // PJA

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