Macau,
China, 08 mar (Lusa) -- Não partilham carteiras nas salas de aula, não brincam
juntos nos corredores nem tão pouco trocam olhares nos intervalos. Em Macau, há
escolas onde não entram rapazes.
Embora
todas enverguem um conjunto azul-escuro, com iniciais da escola grafadas em
capitulares amarelas, e vincados colarinhos brancos, Mandy, Daisy e Sally têm
mais em comum do que o uniforme da Escola Nossa Senhora de Fátima.
Passaram
14 de 18 anos de vida numa escola exclusivamente de raparigas, têm poucas amizades
do sexo oposto, mas afirmam-se "satisfeitas",
"confortáveis" e "mais descontraídas".
Esse
mundo, ainda só delas, "sem rapazes a distrair", vai deixar de o ser,
quando embarcarem, em breve, na experiência (duplamente) nova da universidade e
do convívio regular com rapazes.
Ter
trilhado este percurso não é para nenhuma delas "uma grande questão"
e até elencam as vantagens: "Não temos que nos preocupar com a forma como
olham para nós. Podemos dizer e fazer o que quisermos, falar alto e cantar nos
intervalos", sintetiza Daisy.
Já
Sally fala da sensação de independência, nomeadamente nas aulas de Educação
Física: "Somos nós que temos de carregar os sacos pesados para cima e para
baixo", enquanto Mandy fala da menor pressão que sente relativamente às
raparigas de escolas mistas devido às diferenças entre géneros na aprendizagem
de disciplinas ligadas às Ciências.
Localizada
no bairro de Toi San, uma das zonas de maior densidade populacional, a Escola
Nossa Senhora de Fátima conta com mais de 1.700 alunas -- divididas por 54
turmas de três diferentes níveis de ensino.
"Melhorar
a posição da mulher na sociedade de Macau é um dos nossos focos, como tem sido,
aliás, nos últimos 60 anos", afirmou a diretora Cecilia Lao, reconhecendo
que a capacidade de comunicação "pode ser uma preocupação" e que, por
isso, a escola tem reforçado atividades e programas de intercâmbio, envolvendo
rapazes, para, em simultâneo, melhorar a sua confiança".
Também
não passam rapazes pelos portões da Secção Inglesa do Colégio Santa Rosa de
Lima que Venus, de 17 anos, frequenta desde criança, com a irmã a seguir-lhe os
passos.
O
facto de ser presidente da associação de estudantes proporciona-lhe um contacto
mais regular com rapazes da sua idade, um processo que assimila com
naturalidade, embora admita que "algumas colegas ficam nervosas e não
sabem como lidar com eles".
A
jovem não deixa de notar, porém, as diferenças relativamente às amigas de
escolas mistas. "No meu telemóvel só tenho nomes de raparigas, no caso
delas é mais equilibrado".
Para
Shelley Grace Calangi, professora do Santa Rosa de Lima, o ensino diferenciado
é "um desafio muito interessante" do ponto de vista do docente:
"Temos que adaptar os métodos de ensino às diferentes necessidades e a
todas as diferentes capacidades".
Além
disso, "permite explorar assuntos de uma forma mais aprofundada,
nomeadamente ao nível da educação sexual", defende, apesar de ressalvar
que "ter diferentes perspetivas é sempre mais saudável e benéfico" e
que "se encorajam as estudantes a continuar a desenvolver interesse pela
opinião e postura do outro".
"O
facto de ser o mesmo género limita, de certa maneira, a perspetiva do mundo
porque tendem a vê-lo da perspetiva do seu próprio sexo e também é desafiante
porque certas curiosidades não podem ser completamente compreendidas na altura
adequada", observa a professora de Geografia, identificando também a
ocorrência de "problemas de identidade".
"Há
falta de encontros com rapazes, pelo que elas parecem imaturas quando estes se
propiciam. Como não tiveram experiências, não sabem o que dizer, como agir, o
certo e o errado", conclui.
Macau
tem 87 escolas, das quais oito adotam o sistema de ensino diferenciado, que
radica na Igreja Católica.
DM
// PJA
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