domingo, 8 de março de 2015

Indonésias em Macau estudam para serem empresárias ou arranjar um "bom marido"




Macau, China, 08 mar (Lusa) -- O investimento numa licenciatura à distância em Gestão é a aposta de mais de uma dezena de empregadas indonésias em Macau para se tornarem mulheres de negócios, mas também para arranjar "um bom marido". A aula presencial deste mês decorreu no Dia Internacional da Mulher.

A maior parte é empregada doméstica, mas também há trabalhadoras dos casinos e funcionárias de lojas de conveniência. Em comum têm a nacionalidade e origens numa qualquer província afastada de Jacarta, e a matrícula na licenciatura em Gestão na Universidade de Saint Mary's, através do campus de Hong Kong.

Além das sessões 'online' que as levam de módulo em módulo, estas mulheres roubam, uma vez por mês, algumas horas à sua folga semanal para assistirem à aula do mentor do programa, Fajar Kurniawan. Por uma questão de contenção de despesas e de conveniência para as alunas é o professor que se desloca a Macau, para dar a aula num espaço facultado pela Caritas, a pedido das estudantes. "Foram elas que trataram de tudo", explica o docente formado na área da engenharia.

Nas aulas ganham "confiança" nas suas capacidades, à medida que se vão familiarizando com conceitos novos na gestão profissional.

Marsiti é uma das que mulheres a quem Fajar Kurniawan ensinou a gostar de matemática. Está em Macau há sete anos, já foi empregada doméstica e agora trabalha numa loja de conveniência. Planeia voltar para a Indonésia "talvez ainda este ano", mas ainda não tem um plano muito definido: "Talvez vá para casar e depois comece um negócio com o meu marido, quem sabe uma fábrica de vestuário".

A jovem indonésia não é a única a ponderar várias opções de vida. "Eu tento encorajá-las a fazerem negócios. (Com esta licenciatura) elas têm muitas oportunidades: ou trabalhar como profissionais numa empresa, serem empresárias ou tornarem-se donas de casa", afirma o professor, para quem "muitas vezes estas trabalhadoras não voltam para casa por não terem um projeto definido".

"Mesmo quando ficam (em Hong Kong ou Macau) durante dez anos não sabem o que fazer. Algumas juntam dinheiro, voltam, mas acabam por investi-lo na compra de uma casa e ao fim de dois anos já não têm dinheiro e têm de voltar a emigrar", explica.

Na sociedade indonésia, as mulheres migrantes são muitas vezes chamadas de volta a casa pelas famílias para casar ou cuidar dos pais. Mas esta licenciatura pode ser uma ferramenta chave para a sua emancipação. "Eu guardo o registo de todas as minhas alunas. 80% voltaram para a Indonésia porque conseguiram melhores trabalhos: são professoras, trabalham em empresas nas áreas do gás e petróleo, em bancos, tornam-se leitoras e conseguem bolsas de estudos ou desenvolvem pequenas aldeias", adianta.

"É interessante, porque quando pergunto às minhas alunas porque vieram para este curso, algumas respondem que querem arranjar um marido melhor. Porque se só tiverem concluído o secundário, talvez só arranjem alguém que trabalhe no campo", revela, entre risos.

Por vezes, o regresso dá-se antes de findos os estudos: "No ano passado tive uma aluna que ainda não tinha acabado a licenciatura e que chegou ao pé de mim e disse: Sr. Fajar vou para Jacarta. Vou casar com um juiz. 'Então e a tua escola?', perguntei. 'Ah, chegou ao fim', respondeu-me, como quem diz que quem volta para casa para casar com um juiz já não precisa de se preocupar com o seu sustento".

Iniciada há cinco anos, a licenciatura em Gestão ministrada pelo campus de Hong Kong da Universidade de Saint Mary's já formou 230 mulheres, segundo Fajar Kurniawan.

Todos os anos o professor repete o mesmo conselho: "Depois de receberes o diploma, compra um bilhete de avião para a Indonésia e nunca mais voltes para Hong Kong (e Macau), a não ser que venhas em lua-de-mel".

FV // PJA

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