Macau,
China, 08 mar (Lusa) -- O investimento numa licenciatura à distância em Gestão
é a aposta de mais de uma dezena de empregadas indonésias em Macau para se
tornarem mulheres de negócios, mas também para arranjar "um bom
marido". A aula presencial deste mês decorreu no Dia Internacional da
Mulher.
A
maior parte é empregada doméstica, mas também há trabalhadoras dos casinos e
funcionárias de lojas de conveniência. Em comum têm a nacionalidade e origens
numa qualquer província afastada de Jacarta, e a matrícula na licenciatura em
Gestão na Universidade de Saint Mary's, através do campus de Hong Kong.
Além
das sessões 'online' que as levam de módulo em módulo, estas mulheres roubam,
uma vez por mês, algumas horas à sua folga semanal para assistirem à aula do
mentor do programa, Fajar Kurniawan. Por uma questão de contenção de despesas e
de conveniência para as alunas é o professor que se desloca a Macau, para dar a
aula num espaço facultado pela Caritas, a pedido das estudantes. "Foram
elas que trataram de tudo", explica o docente formado na área da engenharia.
Nas
aulas ganham "confiança" nas suas capacidades, à medida que se vão
familiarizando com conceitos novos na gestão profissional.
Marsiti
é uma das que mulheres a quem Fajar Kurniawan ensinou a gostar de matemática.
Está em Macau há sete anos, já foi empregada doméstica e agora trabalha numa
loja de conveniência. Planeia voltar para a Indonésia "talvez ainda este
ano", mas ainda não tem um plano muito definido: "Talvez vá para
casar e depois comece um negócio com o meu marido, quem sabe uma fábrica de
vestuário".
A
jovem indonésia não é a única a ponderar várias opções de vida. "Eu tento
encorajá-las a fazerem negócios. (Com esta licenciatura) elas têm muitas
oportunidades: ou trabalhar como profissionais numa empresa, serem empresárias
ou tornarem-se donas de casa", afirma o professor, para quem "muitas
vezes estas trabalhadoras não voltam para casa por não terem um projeto
definido".
"Mesmo
quando ficam (em Hong Kong
ou Macau) durante dez anos não sabem o que fazer. Algumas juntam dinheiro,
voltam, mas acabam por investi-lo na compra de uma casa e ao fim de dois anos
já não têm dinheiro e têm de voltar a emigrar", explica.
Na
sociedade indonésia, as mulheres migrantes são muitas vezes chamadas de volta a
casa pelas famílias para casar ou cuidar dos pais. Mas esta licenciatura pode
ser uma ferramenta chave para a sua emancipação. "Eu guardo o registo de
todas as minhas alunas. 80% voltaram para a Indonésia porque conseguiram
melhores trabalhos: são professoras, trabalham em empresas nas áreas do gás e petróleo,
em bancos, tornam-se leitoras e conseguem bolsas de estudos ou desenvolvem
pequenas aldeias", adianta.
"É
interessante, porque quando pergunto às minhas alunas porque vieram para este
curso, algumas respondem que querem arranjar um marido melhor. Porque se só
tiverem concluído o secundário, talvez só arranjem alguém que trabalhe no
campo", revela, entre risos.
Por
vezes, o regresso dá-se antes de findos os estudos: "No ano passado tive
uma aluna que ainda não tinha acabado a licenciatura e que chegou ao pé de mim
e disse: Sr. Fajar vou para Jacarta. Vou casar com um juiz. 'Então e a tua
escola?', perguntei. 'Ah, chegou ao fim', respondeu-me, como quem diz que quem
volta para casa para casar com um juiz já não precisa de se preocupar com o seu
sustento".
Iniciada
há cinco anos, a licenciatura em Gestão ministrada pelo campus de Hong Kong da
Universidade de Saint Mary's já formou 230 mulheres, segundo Fajar Kurniawan.
Todos
os anos o professor repete o mesmo conselho: "Depois de receberes o
diploma, compra um bilhete de avião para a Indonésia e nunca mais voltes para
Hong Kong (e Macau), a não ser que venhas em lua-de-mel".
FV
// PJA
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