terça-feira, 10 de março de 2015

Moçambique. DIÁLOGO VOLTA A ENCALHAR ENTRE GOVERNO E RENAMO




Dois assuntos considerados cruciais, nomeadamente paridade nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e na Polícia da República de Moçambique (PRM) e impedimento aos titulares dos órgãos do Estado, incluindo o Presidente da República, e servidores públicos do exercício de actividades políticas durante as horas normais de expediente, encalharam ontem o diálogo entre o Governo e a Renamo, que já vai na sua 97.ª ronda.

 Por imperativos do acordo de cessação das hostilidades militares assinado a 5 de Setembro de 2014, o enquadramento e integração dos homens da Renamo nas FADM e na PRM é uma questão central. Segundo aquele instrumento legal, esse enquadramento e integração deve ter lugar para que no final nenhuma força política detenha ou permaneça armada, responsabilidade acometida aos órgãos específicos do Estado no âmbito da defesa da soberania e integridade territorial.

É justamente para assegurar a concretização daquele propósito que as partes acordaram constituir a Equipa Militar de Observação da Cessação das Hostilidades Militares (EMOCHM), de que fazem parte integrante peritos militares do Governo, da Renamo e internacionais, até aqui constituída por oito países.

Aquando da sua constituição, a EMOCHM tinha um mandato de 135 dias prorrogáveis no quadro do acordo transformado em lei pela Assembleia da República. Expirado aquele período em Fevereiro último e à luz daquele acordo, o mandato da Equipa Militar de Observação da Cessação das Hostilidades Militares ficou automaticamente prorrogado mas, até ontem, o Governo e a Renamo não haviam alcançado consenso sobre o prazo.

Com efeito, o Executivo, cuja delegação no diálogo é chefiada pelo Ministro da Agricultura e Segurança Alimentar, José Pacheco, fixou em 60 dias o prazo de prorrogação da missão da EMOCHM, dentro do qual deverão começar a ser implementadas as acções consensuais entre as partes, enquanto a Renamo defende um período de 120 dias como sendo razoável para se processar o enquadramento, integração e inserção social e económica dos seus homens.

Sobre a questão específica do enquadramento e integração dos homens da Renamo nas FADM, Saimone Macuiana, chefe da delegação do maior partido da oposição no diálogo com o Governo, disse haver muitos oficiais provenientes das hostes da formação política liderada por Afonso Dhlakama que não têm ordem de serviço regularizado e que a pretensão é que haja partilha de responsabilidades.

Para a Renamo, só depois de regularizada aquela situação é que se poderá falar do enquadramento dos seus homens em si, bem como da inserção social e económica. Saimone Macuiana sublinhou que é interesse do seu partido que o acordo de cessação das hostilidades seja cumprido na íntegra, em nome da paz.

O Governo considera que as Forças de Defesa e Segurança são soberanas e regem-se por instrumentos próprios e têm as suas próprias competências, daí que se trata de matéria a ser analisada pelos seus peritos militares.

Ainda ontem, as duas delegações voltaram a divergir quanto a um dos pontos atinentes à despartidarização da Administração Pública. Trata-se da proposta avançada pela Renamo visando impedir que os titulares dos órgãos do Estado, incluindo o Presidente da República, cujo cargo é eminentemente político, e os servidores públicos exerçam actividades políticas nas horas normais de expediente, o que para o Governo é contrário ao espírito do quadro político e jurídico nacional.

As partes voltam a encontrar-se ordinariamente na próxima segunda-feira.

Felisberto Arnaça – Notícias (mz)

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