São
cada vez mais visíveis os efeitos negativos da baixa do preço do petróleo nos
mercados internacionais, também na área da saúde pública em Angola. A denúncia é
feita por médicos e farmacêuticos.
Segundo
Rosa Cirilo, o setor da saúde enfrenta dias difíceis com a crise do petróleo em Angola. A farmacêutica
fornece medicamentos e equipamento médico a clínicas e hospitais, sobretudo
analgésicos para intervenções estomatológicas. Mas, segundo ela, nos últimos
tempos, os bancos não têm pago aos fornecedores estrangeiros a tempo e horas,
por falta de divisas. Por isso, não tem conseguido importar medicamentos
necessários com urgência.
"Se
esta situação continuar por muito mais tempo vamos ter de repensar o
negócio", diz Rosa Cirilo. "Este é um país que vive das importações.
Não há fábricas de medicamentos, que, normalmente, vêm da Alemanha, de
Portugal, da Polónia, dos Estados Unidos da América, do Brasil. Sem receber o
dinheiro, os fornecedores não mandam a mercadoria."
Sair
do país?
O
Dr. Luís Filipe, chefe de uma conceituada clínica especializada em medicina
tradicional chinesa, em Luanda, diz que o seu maior problema é a falta de
material necessário para as terapias.
"Tinha
um grande stock, mas já está a chegar ao fim", conta. O médico sublinha
que o seu problema não é a falta de dinheiro, mas sim os enormes atrasos nas
transferências bancárias e nos pagamentos aos fornecedores, tal como as
restrições nas importações.
O
Banco Nacional de Angola nega quaisquer restrições e assegura que não há razões
para atrasos. Mas, segundo o Dr. Luís Filipe, o certo é que os atrasos são
grandes, muitos e generalizados e ele já pensa em ir para o estrangeiro.
"A minha situação está periclitante e estou a pensar sair do país, porque
temo não ter material para tratar os meus pacientes. […] Este desenvolvimento
de Angola era completamente fictício e só estava assente na especulação do
petróleo. O trabalho de casa estava todo por fazer."
Quem
sofre são os pacientes
Agora,
quem sofre são os pacientes. Sobretudo quem não tem possibilidade de ir para o
estrangeiro para se tratar: "As pessoas com mais posses metem-se num avião
e vão para a Namíbia, África do Sul, Portugal", afirma o médico angolano.
O
Governo angolano investe menos de três por cento do Produto Interno Bruto (PIB)
na área da saúde. Com a baixa do preço do crude nos mercados internacionais, os
investimentos neste setor baixarão ainda mais.
O
Dr. Luís Filipe prevê dias ainda mais difíceis: "Eu digo muitas vezes que
a situação de Angola, ao nível da saúde, é como a de um doente com cancro em
fase terminal."
António
Cascais – Deutsche Welle
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