Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
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Por estes dias, dei por mim a sentir-me com os cofres cheios. Assim ao jeito da
ministra das Finanças. Afinal, tinha uma quantidade bastante razoável de notas
de euro a forrar-me a carteira. Embora não o suficiente para chegar ao ponto de
seguir o conselho de Maria Luís Albuquerque e contribuir para o aumento da taxa
de natalidade. Aliás, a sensação de abastança passou-me logo no dia seguinte.
Afinal, o dinheiro não era meu, estava apenas em trânsito. Acertadas
as contas que havia para acertar - no fundo, paga a dívida que havia para pagar
-, o conteúdo da carteira voltou ao de sempre: alguns euros, é certo, mas
sobretudo cartões que garantem pontos mas poucos descontos, talões para poupar
na gasolina e gastar no hipermercado, papelada avulsa. Muita parra, pouca uva.
Mais uma vez, ao jeito da ministra.
Com
a diferença fundamental de que a fugaz sensação de liquidez na carteira a mim
ficou-me de borla, ou seja, não me exigiram juros. Já Maria Luís não pode dizer
o mesmo. Os 23,9 mil milhões com que encheu os cofres do Estado, para se sentir
confortável perante as variações dos mercados, que insistem em tratar-nos como
lixo, são emprestados e podem custar aos contribuintes qualquer coisa como 478
milhões de euros por ano (a uma taxa de 2% ao ano). Ou seja, a sensação de
conforto de Maria Luís Albuquerque pode ficar-nos por qualquer coisa como 47
euros por cabeça (somos cerca de 10 milhões, é só fazer as contas). Resumindo,
os cofres estão cheios... de dívida. Adivinhem quem a vai pagar.
2
A recuperação tem sido espetacular. A estabilidade política, social e económica
do país é agora à prova de ferro, jura o primeiro-ministro nas longínquas
terras do Oriente. O crescimento da riqueza vai ser este ano de 2%, prevê o
assessor de Imprensa do Governo em
Belém. O futuro está aí ao virar da esquina, garante a
propaganda com que nos bombardeia todos os dias o banco do Estado (CGD). As
coisas correm tão bem, que o PSD até vence eleições na Madeira com maioria
absoluta. Mas depois chega-se a segunda-feira e os cofres voltam a ficar
vazios. As previsões fantasiosas dão lugar, como sempre, à dura realidade. A
taxa de desemprego, contrariando o que nos prometia o Governo, voltou a subir,
segundo o Instituto Nacional de Estatística. O que significa que há agora 719
mil pessoas desempregadas. São mais 11 mil do que no mês anterior. O que é que
os cofres cheios de Maria Luís Albuquerque vão fazer por elas?
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