domingo, 26 de abril de 2015

A INEXPLICÁVEL PRESSÃO DO OCIDENTE SOBRE O SUDÃO



Roger Godwin - Jornal de Angola, opinião

Dando de si a patética imagem de criança amuada por não lhe terem feito uma vontade, o ocidente igmorou por completo o sucesso sobre a forma como decorreu o recente processo eleitoral no Sudão e insiste agora em manter sobre este país uma inexplicável e inaceitável pressão política com o nítido objectivo de marginalizar  e assim minimizar o seu presidente, Omar al-Bashir.

De acordo com relatos que contêm uma unanimidade inquestionável, as eleições parlamentares e presidenciais que tiveram lugar entre os dias 13 e 15 de Abril decorreram sem qualquer tipo de ocorrência que possa ser apontada como castradora da liberdade como o povo se expressou e nem sobre a forma como os escrutinadores realizaram o apuramento dos resultados finais.

Para as grandes potências ocidentais, especialmente para os Estados Unidos, essa realidade é totalmente ignorada com um enorme descaramento e sob pretextos que têm tanto de ridículos como de inconsequentes. Para levantarem o véu da suspeita sobre as eleições no Sudão, os Estados Unidos apontam o facto do pleito ter decorrido em três dias quando uma das “exigências” da comunidade internacional era que ele fosse feito num só dia.

Ignorando o facto da Comissão Eleitoral do Sudão ter organizado as eleições para decorrerem em três dias de modo a que as pessoas pudessem votar de forma mais tranquila e sem as anteriores aglomerações junto das urnas, os Estados Unidos dizem que essa decisão faz desconfiar de qualquer intenção menos clara por parte de quem assim decidiu. Curiosamente, nenhum dos outros 14 candidatos que as disputaram e já admitem que  perderam para Omar al-Bashir um novo mandato de cinco anos, viu no facto das eleições decorrerem em três dias qualquer outra intenção que não fosse a de permitir que o acto fosse mais amplamente participado e escrutinado.

Embora ainda não hajam resultados oficiais que possam dizer, com absoluta certeza, quem foi o vencedor, todos as forças da oposição aceitam como certo que al-Bashir continuará a ser presidente do Sudão e dizem que, pela primeira vez ao longo de muitos anos, participaram numas eleições sem qualquer tipo de constrangimento ou de pressão a que não fosse as que resultam do próprio acto em si, Estranha-se, por isso, que o ocidente teime em pressionar o Sudão usando argumentos que, como neste caso, dão de si a sensação de se estar perante uma obstinada intenção em não aceitar aquilo que tem sido a vontade expressa pelos sudaneses em actos eleitorais de irrepreensível lisura.

A teimosia dos Estados Unidos é mais estranha se atendermos ao facto dela agora ocorrer numa altura em que o próprio Sudão se tem vindo a empenhar nalgumas missões práticas que interessam ao ocidente.

O Sudão acaba de participar na investida que a Arábia Saudita fez sobre o Yemen para atacar os rebeldes Houthi, que apoiados pelo Irão ameaçavam a estabilidade dos países do Golfo Pérsico.

Este  Sudão aliou-se ao Egipto e a alguns países do Golfo para apoiarem uma facção militar do exército líbio que luta contra as milícias armadas, de modo a conseguir alguma estabilidade que permita uma governação pacífica. Uma explicação, um pouco forçada, para justificar a continuada pressão do ocidente sobre Omar al-Bashir pode advir do facto dele não ter aceite comparecer perante o Tribunal Penal Internacional nem os países africanos terem acatado a emissão do mandato de captura que sobre ele na altura foi emitido.

O “desplante” de um presidente africano, com o apoio quase unânime de todo o continente, “desrespeitar” uma decisão que o ocidente tomou de forma discriminatória e legalmente pouco sustentada, é uma “espinha” atravessada na garganta das grandes potências que tardam em perdoar a quem não lhes presta a vassalagem a que elas julgam ter direito. Contudo, no caso do Sudão, a situação começa a ganhar foros anedóticos e começa a mexer com a coesão que o ocidente tenta encontrar quando se trata de lidar com aquilo que julga ser a defesa dos seus interesses.

Neste caso concreto já há países, como a França, que acham ter chegada a altura de abrir as portas do diálogo a Omar al-Bashir pois, bem ou mal, ele tem o inequívoco apoio da sua população e do próprio continente africano. Alguns diplomatas ocidentais consideram ser chegada a altura de abrir as portas do diálogo com Kartum de modo a que sejam encontrados entendimentos sobre assuntos que se prendem com a segurança e a estabilidade na região, objectivo para o qual o Sudão é um parceiro considerado “incontornável”.

Quem assim pensa baseia-se na convicção de que é melhor ter Omar al-Bashir enquadrado nos esforços globais para encontrar soluções para a região, do que isolá-lo correndo o risco de assim perder uma inegável mais-valia que tem a extrema vantagem de conhecer e perceber o que se passa no terreno e que, ainda por cima, acaba de conseguir a legitimidade democrática para ficar mais cinco anos no poder num país com a importância do Sudão.

Um outro valor acrescido que Omar al-Bashir tem jogado com extrema mestria tem sido a forma como tem sabido lidar com o problema interno do vizinho Sudão do Sul tendo sempre resistido à fácil tentação de apoiar um ou outro dos beligerantes que se digladiam pelo poder.


Isso, quer uns queiram ou não, é um trunfo que o ocidente pode a qualquer altura jogar a seu favor para a defesa dos seus interesses económicos naquele que é o mais jovem país do mundo.

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