Um
mês após o assassinato do constitucionalista franco-moçambicano Gilles Cistac,
a Polícia de Moçambique continua a investigar o caso. Vários setores mostram-se
preocupados porque o crime não foi ainda esclarecido.
Assinala-se
esta sexta-feira (03.04) um mês após a morte de Gilles Cistac, vítima de
baleamento levado a cabo por homens armados ainda a monte.
Os
restos mortais do académico foram transladados para a sua terra natal,
Toulouse, em França. A
filha do constitucionalista, uma menor de 17 anos, teve de deixar Maputo para
se fixar em França, junto dos seus familiares.
Em
Moçambique vários sectores continuam inconformados com o assassinato do
académico e aguardam ansiosamente os resultados da investigação.
Além
de constitucionalista, Gilles Cistac era docente, diretor adjunto de
Investigação e Expansão e Coordenador dos cursos de pós-graduação na Faculdade
de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.
Fonte
do Núcleo dos Estudantes de Direito disse à DW África que aquele grupo está
"preocupado e lamenta o facto de até agora quem de direito não se ter
pronunciado sobre o estágio das investigações".
Falta
de esclarecimentos
Discursando
na última terça-feira (31.03) no Parlamento, na primeira sessão ordinária da
legislatura, a presidente do órgão legislativo, Verónica Macamo, descreveu o
crime como "desumano, macabro e bárbaro" e apelou a responsabilização
dos seus autores.
"Esperamos
que a mais breve trecho os autores deste assassinato e de outros sejam
encontrados e levados à barra do tribunal e exemplarmente
responsabilizados", salientou
.
.
Diplomatas
africanos e da União Europeia (UE) foram recebidos recentemente (23. 03) pelo
chefe de Estado, Filipe Nyusi, mostraram-se igualmente preocupados com a falta
de esclarecimento sobre a morte de Cistac.
O
porta-voz do Comando Geral da Polícia, Pedro Cossa, disse esta terça-feira
(31.03), numa conferência de imprensa, em Maputo, que a polícia "está a
trabalhar" no caso.
A
DW África perguntou ainda a Pedro Cossa se já há pistas como resultado das
investigações em curso. "Não posso falar de pistas", respondeu o
porta-voz, insistindo que a polícia está a investigar o crime.
Uma
"voz incómoda"
O
assassinato de Gilles Cistac foi várias vezes associado a alguns
posicionamentos do constitucionalista contrários aos do regime. Porém, o
partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), negou sempre
qualquer envolvimento no crime.
O
constitucionalista Cistac considerou que não
havia impedimento constitucional à pretensão do maior partido da
oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), de criar autarquias
provinciais nos locais onde saiu vencedora nas últimas eleições gerais.
Dias
antes do seu assassinato, Gilles Cistac disse que ia processar alguém que
através da rede social Facebook e com o pseudónimo de Calado Kalashinikov pôs a
circular mensagens intimidatórias contra si, acusando-o de estar a promover a
subversão no país.
Questionado
se a polícia estaria a investigar Khalashinikov, o porta-voz do Comando Geral
da Polícia respondeu apenas que "todas as linhas foram postas como
suspeitas" e a polícia está a trabalhar nisso. "Algumas serão
inúteis, outras serão valiosas" para a investigação, admitiu Pedro Cossa.
O
assassinato de Gilles Cistac provocou ondas de choque e consternação no país,
tendo sido realizadas manifestações
de rua exigindo uma investigação exaustiva e transparente para que os
autores do crime compareçam perante a justiça.
Leonel
Matias (Maputo) – Deutsche Welle
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